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Contos-->A loira do elevador -- 12/05/2002 - 14:08 (Athos Ronaldo Miralha da Cunha) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
A loira do elevador


Sol a pino, meio-dia e verão escaldante em Torres.
Praias superlotadas, um mar de guarda-sóis deixa exageradamente colorida a orla marítima. Miguel e Marta estacionaram o carro em frente a praça próxima a Praia Grande, ávidos de mar, deslumbraram a vastidão do oceano azul em frente ao seus olhos. A vontade era sair correndo e mergulhar de corpo e alma no vaivém da água salgada. Miguel chegou a cantarolar uns versos de Fernando Pessoa.
– Oh! Mar salgado quanto do teu sal, são lágrimas de Portugal.

Entretanto, não podiam perder tempo, tinham que arrumar hospedagem para depois desfrutar o mar, o sol e as belezas naturais que a cidade oferece aos turistas, por longos e preguiçosos quinze dias. E foram, suados, procurar um lugar para curtirem o tão merecido veraneio. Após olharem quatro apartamentos poucos confortáveis e alguns hotéis de ínfimas estrelas, escolheram um quarto e sala com sacada, no décimo andar de um edifício em frente a praça XV.
Da sacada do prédio tinham uma visão magnífica da cidade, dos molhes do Rio Mampituba à Lagoa do Violão. Os primeiros dias de praia do jovem casal foram prazerosos e extremamente tranqüilos. A praia da Guarita era a preferida, por ser mais calma e menos tumultuada. Cedo da manhã já estavam estirados na areia, usufruindo a beleza geográfica das milenares torres da praia. O almoço era diversificado nos vários restaurantes por quilo que Torres oferecia. As tardes eram consumidas em passeios pela orla da praia Grande. Queimavam calorias para recuperá-las nos bufetes dos restaurantes ou nas pizzarias as margens do rio.

Tudo seria tranqüilo para Miguel e Marta se o acaso do destino não fosse irônico.

Certa manhã, Miguel resolveu despertar sua amada, de uma agradável noite de sono, com a mesa posta para o café. Quando descia pelo elevador, sonolento e pensativo, para buscar uns crocantes pãezinhos quentes e goiabada na padaria da esquina. No nono andar o elevador pára.
- Quem será o maluco que estaria acordado a esta hora da manhã, de uma segunda-feira, num verão mormacento em Torres. No pequeno intervalo entre a parada do elevador e a abertura da porta, Miguel imaginou que uma velha senhora daria um bom dia e rumaria para um passeio matinal ou, quem sabe, um bem-humorado aposentado iria dar umas voltas pela lagoa do Violão.
- O maluco sou eu. – pensou, ao ver aquele monumento loiro entrando e perfumando, com uma essência divina, o pequeno cubículo metálico.
Vestia um short e uma miniblusa que deixava a sua barriguinha bronzeada à mostra, calçava um tênis azul-marinho e meias brancas. Os cabelo loiros despencavam suavemente pelos ombros e desciam até a altura da cintura. Uma fitinha do Bonfim no pulso da mão esquerda e uma dourada tornozeleira, eram os únicos ornamentos naquele estupendo corpo. Definitivamente, estava desperto para o dia que recém estava começando.
- Oi. - disse ela sorrindo ao entrar no elevador. O sorriso brilhou nos olhos de Miguel. As duas covinhas nas faces douradas, fustigaram sua imaginação.
- Oi. - respondeu Miguel se refazendo do baque matinal ao ver a belezura inesperadamente àquela hora da manhã.
Oito, sete, seis, cinco... as luzinhas dos andares acendiam e apagavam em ordem decrescente. Que droga de prédio só tem dez andares. Pensou Miguel. Imaginando uma descida de elevador do 450O de um WTC do litoral gaúcho. Que viagem! Sonhou acordado, com a loira ao seu lado.
- Interessante, este prédio, o andar térreo tem o número zero.
- É. - respondeu ela.
No hall do prédio a moça saiu com elegantes e deslumbrantes passadas largas em direção a lagoa do Violão. Em poucos minutos suas pernas avançavam pela lajota da calçada e seus volumosos cabelos esvoaçavam pela orla da lagoa. Neste momento o sol despertava por detrás dos prédios e colocava seus raios nas águas mansas do lago. Uma solitária garça fazia sua primeira refeição no meio dos aguapés.

Durante todo o dia a loira do nono andar atormentou os pensamentos de Miguel. O que estaria fazendo naquele momento a escultura ambulante do andar debaixo. Pensava, deitado em sua cama com as mãos postas na nuca. Imaginava. Será casada? Solteira? Estaria sozinha... e as covinhas, que covinhas...
- E a caipirinha Miguel?
- Que caipirinha Marta.
- De vodka Miguel, acorda homem, o que houve contigo, viste um pássaro verde?
Miguel estava totalmente transtornado. Seu pensamento viajava mar a dentro, como se fosse um veleiro em alto mar a procura de novos horizontes e emocionantes descobertas. Após a almoço não quis sair do apartamento. Subiu e desceu algumas vezes pelo elevador na esperança de encontrar a mulher solitária daquela manhã. No outro dia desceu, para buscar os pãezinhos quentes na padaria, no mesmo horário do dia anterior. Saiu desolado do prédio, a loira não estava no elevador. Seguiu cabisbaixo pela praça em direção a padaria. Ao receber os pães do balconista, qual não foi sua surpresa. Não era o único madrugador da praia.
- Moço o senhor tem pãezinhos quentes?
Olha para o lado e vê a beldade ali a sua esquerda, uma verdadeira imagem do paraíso, o mesmo short a miniblusa vermelha. E as pernas perfeitamente torneadas e bronzeadas. Certamente, não eram obras de um torneiro mecânico. Maldisse seu pensamento anarquista.
Coincidência ou não, todas as manhãs Miguel encontrava a loira do nono andar, ora no elevador, na praça ou no balcão da padaria. Conversavam sobre tudo, a loira não era um poço de cultura mas o papo fluía com facilidade e além de bonita, muito simpática, e quando sorria formavam-se as malditas covinhas. Que covinhas...

Na sexta-feira, saíram juntos da padaria e cruzaram a praça XV, em diagonal, rumo ao prédio, cada um com seus pacotes com pães e geléias. Na entrada do prédio a loira contou-lhe que seu marido chegaria hoje, de Porto Alegre, para passar o fim de semana, pois ele trabalhava de segunda a sexta-feira, era professor.
- Professor? – imaginou um sisudo intelectual metido a esquerdista, ou um novíssimo neoliberal. - Deve ser um estudioso, um leitor contumaz?
- Não. É professor em uma academia de Tae Kwend Do. Mestre em artes marciais. Faixa preta sexto dan. É. Acho que é dan... sexto alguma coisa.
Miguel silenciou. De repente começou ficar incomodado com a presença da loira. O cara era faixa preta em tae... sei lá o quê. Não tinha a menor idéia do que era Tae Kwend Do, mas faixa preta ele sabia bem o que queria dizer.

Sábado, quando almoçavam no concorrido restaurante próximo ao parque de diversões, a loira do nono andar entra no recinto de mãos dadas com um guarda roupa de quatro portas. Sentaram-se em uma mesa próxima a deles.
- Quem é aquela loira, acompanhada de um mamute, que não tira os olhos de você? – pergunta Marta com um olhar travesso em direção a Miguel.
- Não sei, não lembro se a conheço. Mamute? Grandinho ele, não?
- Viste que o cara tem uma tatuagem de um pé na altura do ombro?
- Um pé? Que coisa!
- O brutamontes está olhando para nós, estão levantando e vindo em nossa direção. O cara me parece meio nervoso. Qual será a tragédia?
O professor de artes marciais e sua formosa loira cruzam pela mesa de Miguel e Marta e encaminham-se para o bufete. Ele pede um suco de laranja e ela uma água mineral sem gás.
Miguel estava pálido. Suava, suava muito. Transpirava até a ponta do nariz.
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