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cronicas-->G.R.E.S. UNIDOS DO DERRADEIRO PLANALTO -- 11/02/2002 - 05:32 (LUIZ ALBERTO MACHADO) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
G.R.E.S. UNIDOS DO DERRADEIRO PLANALTO

Luiz Alberto Machado

Fernandão Fegacê com a aproximação do carnaval, mandou chamar, às pressas, todos os integrantes da diretoria da agremiação com o objetivo de realizar um balanço dos sete anos de sua gestão. Esperava ele, nessa ocasião, sair agraciado com os maiores elogios e com toda pompa de vencedor, paparicado até o retrato e recebendo os elogios mais calorosos.
Sabia ele que receberia um quadro positivo pelo esforço preguiçoso que sempre tivera nesses engalobados sete anos, mas com astúcia labial de ganhar no papo qualquer algoz que se metesse a atrapalhar seu trabalho. Sabia mais, que esses anos todos à frente da representação, estava no fundo do poço, verdade, mas avaliando seu desempenho e pelo andar da carruagem meia que bem avariada, a coisa iria sobrar com perspectivas melhores. Não é à toa que ele costurou o que póde, deu nó em pingo d água, ajeitou-se com inimigo, apoiou desafetos, curvou-se para ricões, cedeu tudo que pediram e, claro, disso tudo, algo de positivo sairia para agradar-lhe. Tudo isso fizera para que a escola deixasse de ser a lanterninha do desfile e conseguir, pela primeira vez, ser a primeira no carnaval. E seria, pelo menos, pelos segundos a que todo mundo tem direito de ficar famoso na vida.
Providente e com ar de vitorioso, convocou todos os principais componentes para saber o que já foi feito para que, este ano, a Unidos do Derradeiro Planalto fosse campeão.
De início chegaram só uns gatos pingados. Ele ficou esperando os atrasados, até que gente que ele nem queria ali, chegou e aboletou-se na platéia. Olhou pro relógio, deu por falta de uns protagonistas importantes, confirmou a presença de figurantes malabanhados e de uns tantos patetas menores. Pigarreou, olhou pros lados, viu Gogó de Sola à sua direita, ninguém à esquerda, mode não dar atraso, e sapecou autoritário questionamento aos presentes. Até que irritou-se e puxou a corda:
- Vamos lá gente, que balanço a gente faz da nossa trabalhada por esses anos todos, para arrumar um jeito da gente ser campeão na avenida?
Um silêncio tumular. Todos estão se estreolhando, mas não balbuciando sequer um muxóxo. Cada um com o olho mais largo que o outro. Uns deram de ombro, franziram a testa, fizeram biquinho, ar de "e aí?", como é? E agora? Deu zebra! Enfeiou! A coisa tá preta! Fodeu!
O calor já beirava os 40.º centígrados e ele reclamou porque não ligaram o ar condicionado.
- Tá apagado porque deu um blecaute brabo na energia.
Desconfortavelmente, mesmo assim ficou com ar de cobrança a todos os presentes.
- Desembucha, gente, como é?
Esboçaram gestos de tentar uma explicação mas reproduziram uma interrogação maior que a cara de tacho deles. Foi tanto é... sim... bem... foi... cê, sabe... é... E como tudo se repetia ele começou a procurar seus mais achegados no meio de todo mundo.
- Cadê o relatório com as nossas principais obras concretizadas?
Silêncio maior.
- Cadê as estatísticas que contratei prá gente mostrar que a gente é de vera?
Nada disseram.
- Que é que é isso, gente? Tão querendo arrombar minha alma é? Querem queimar meu filme? Cadê o Albínio?
- Num póde vir porque está com os bicheiros garantindo a sua bóia!
- Cadê o Mala?
- Ah! Tá prestando conta com os credores?
- Num vieram, num pode! Os mais importantes faltaram? E o Paulão?
- Fiz de tudo, garanti as fantasias, as alegorias e que todo mundo estivesse preparado na marra para desfilar na avenida de qualquer jeito.
- E o Pratão?
- Garanti comida para todos num morrerem de fome durante o desfile.
- E o Zéjorgão?
- Apaguei tudo para garantir o maior brilho na avenida!
- E o Raulzão?
- Já estão providenciados todos os beliches para quando terminar o desfile o povo num ter onde num cair morto!
- E o Aloisão?
- Tó garantindo a presença duns amigos que arranjarão dinheiro prá gente; penetra, nem pensar! Só vai ter gente do nosso lado! Num vai ter baderna, nem reclamação, tudo na ordem 100% obediente.
- E você Serrão, garante ou não garante a vitória da nossa escola de samba?
- Providenciei tudo, as fantasias estão todas distribuídas, os carros alegóricos estão todos prontos, num vai sair os quinze que eu queria, mas seis já estão certo, menos um que ainda está na revisão. Já consegui remédio e ambulància que consegui emprestado com um amigo meu dum laboratório...
- Eu quero saber se a gente vai ou não vai ganhar dessa vez?
- Claro que vai, ou num me chamo Serrão!
- São sete anos da lanterninha, gente! E todo mundo aqui embromando e sem fazer balanço nenhum. Pois bem, como toda bomba estoura na minha mesmo, vou dizer o seguinte: devemos muito mas já pagamos um bocado de juros, empurrando com a barriga o principal pros agiotas. Devemos e vamos pagar mais. Deixamos de atender coisas importantes mas estamos com crédito, isso é que é o importante. Já empenhamos a sede, a tesouraria, o galpão, a escolinha, e o que falta a gente empenhar para arrumar mais dinheiro prá gente comemorar a vitória desse ano, hem?
Voltou aquele comportamento do: é... sim.... não... olhe bem... não é assim... nem pode ser assado.... A confusão ficou geral cada um atrapalhando o outro com colocações evasivas e monossilábicas.
- Não comi bosta de cigano para adivinhar o que vocês querem dizer! Sou o presidente desta merda e quero respeito! Quem manda aqui sou eu e vocês não fazem nada! Gogó de Sola, você que está sempre à minha direita, diga alguma coisa!
- A situação que nos encontramos é deveras constrangedora, eu sigo por ali e você vai por ai, a gente tem se entendido o quanto pode, no mais me esforço para manter os adversários unidos. Como num tenho nada para fazer, fico calado. Ponto.
- Agora deu, parece mais que esse povo tá conspirando contra mim. Eita! Resolvido: Serrão, você a partir de agora é o candidato a presidência dessa mixórdia que eu num guento mais tá aqui com cara de pateta! Faça o possível e o impossível, ganhe na avenida e venha assumir o meu lugar! Encerrada a sessão.
Saíram com o barulho peculiar dos que se salvaram de qualquer acareação e foram comemorar antecipadamente no bar da esquina a vitória da agremiação. Bié, bié, glup! Glup!

© Luiz Alberto Machado. Direitos reservados.

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