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cronicas-->Maria Lúcia -- 10/02/2002 - 17:38 (Renato Rossi) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
O impossível muitas vezes acontece. Estou com vontade de ir ao dentista. À dentista , bem entendido. Não que eu goste daquele maldito barulho agudo que corta a carne sem mesmo nos tocar. Não, eu realmente não aprecio aquele sugador pendurado na boca com aquele barulho de escafandro. Acho horrível quando ela diz "agora cospe". Cospe tu, dá vontade de responder. Como cuspir se estou deitado e a tal pia está uns dez metros acima? Nestas cadeiras modernas em que o paciente fica na horizontal, quando se tem que cuspir, a operação vale por umas duzentas flexões abdominais. Não, disso eu não gosto. Acho horrível quando ela fica com o dedo lá no fundo da boca furungando, só Deus sabe o que. A sensação é horrível. Também não gosto nem um pouco quando vem aquela água gelada justamente no dente que está mais sensível e, mesmo vendo o rosto retorcido, ela pergunta com certa displicência se doeu. Muitas vezes ela fica raspando os dentes junto da gengiva, como se estivesse raspando sobras de cimento velho. Dirá ela que não é muito diferente, que o tártaro precisa ser raspado, que isso que aquilo. Disso eu também não gosto. Acho uma chatice segurar os filmes para radiografias dentárias, sobretudo as dos dentes do fundo da boca. Não dói, mas é muito chato e gosto menos ainda daquela fita translúcida que passam entre os dentes para dar acabamento em alguma restauração. Detesto quando imobilizam a gente e ficam falando e perguntando e, não contentes com agonia que nos causam, fazem um silêncio esperando pela resposta. Como se fosse possível.

Bem, por que estaria eu com vontade de ir ao dentista se nem mesmo tenho um dente doendo no momento. Naturalmente, para encontrar Maria Lúcia, minha amiga querida que só vejo de tempos em tempos. Claro que poderia encontrá-la em outro lugar. Certamente aproveitarei para fazer uma visita à sua casa e conversar também com Cláudio e Marcelo. Mas no consultório é diferente. Lá , entre uma atrocidade e outra, ela cuida da gente, conta histórias e causos variados, algumas piadas e mostra suas gavetinhas.

Foi Maria Lúcia que me alertou para este estranho gosto dos dentistas por gavetinhas. Observe, todo consultório de dentista tem um armário com um número imenso de gavetinhas. Muito finas, magrelas mesmo. Ninguém sabe ao certo o que guardam naquelas gavetinhas, nem mesmo eles. Dizem que são muitos itens, alguns deles de pouco volume, mas grande valor. Eu imaginava que o grande orgulho dos dentistas era, depois de sua habilidade, os equipamentos e geringonças que mantêm em seus consultórios. Cadeiras reclináveis, aparelhos de radiografia com todo um alfabeto de raios, cadeiras tranquilizadoras, sugadores que parecem um beijo de língua, autoclaves esterilizantes e todo um arsenal de modernidades. Mas não. Me engano. O grande orgulho de um dentista é seu armário de gavetinhas. Seu baú, onde guarda seus tesouros. Materiais, moldes dentaduras, instrumentos, poções.

Naturalmente, nada tenho contra Dra. Christine, minha dentista local, sempre tão gentil, tão competente, mas não há como deixar de ir ao consultório de Maria Lúcia. Nem que seja para uma aguinha gelada no dente sensível.


Escrito em 23.06.2001
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