Usina de Letras
Usina de Letras
159 usuários online

Autor Titulo Nos textos

 

Artigos ( 62072 )

Cartas ( 21333)

Contos (13257)

Cordel (10446)

Cronicas (22535)

Discursos (3237)

Ensaios - (10301)

Erótico (13562)

Frases (50478)

Humor (20016)

Infantil (5407)

Infanto Juvenil (4744)

Letras de Música (5465)

Peça de Teatro (1376)

Poesias (140761)

Redação (3296)

Roteiro de Filme ou Novela (1062)

Teses / Monologos (2435)

Textos Jurídicos (1958)

Textos Religiosos/Sermões (6163)

LEGENDAS

( * )- Texto com Registro de Direito Autoral )

( ! )- Texto com Comentários

 

Nota Legal

Fale Conosco

 



Aguarde carregando ...
Artigos-->O DIA DOS MORTOS -- 03/11/2006 - 22:03 (Francisco Miguel de Moura) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
O DIA DOS MORTOS



Francisco Miguel de Moura*



Por que os nossos cemitérios são tão tristes?

Escrevo isto no Dia dos Mortos. É de longa data, na história da humanidade, o respeito pelos mortos, respeito que a maioria dos credos, religiões e seitas tem levado às raias da veneração.

A memória dos mortos é a lembrança daquilo que deixam aos vivos, pois aqueles perdem a voz, o ouvido, o olhar e o sentir, mas não perdem o espírito. Por isto têm uma força enorme pela tradição do que foram, do que fizeram, do que escreveram e disseram de tal maneira que alguns filósofos acham que os mortos nos governam. Eles não voltam mais, quer tenham ido para o céu, estejam no limbo, ou em outras vidas (sem comunicação com esta), quer hajam se integrado no universo como crêem os budistas, e essa nova situação deve contribuir para a purificação do mundo e dos que ficaram.

Neste dia, é claro, penso em meus pais, irmãos, tios e tias, avós, primos, amigos e colegas, mas, de modo especial, lembro com saudade de meu filho Fulton, que se foi aos 6 meses de idade. E é como se fosse hoje e eu chegasse em casa e o sentisse me olhando como se quisesse rir, com aquele riso gostoso dos inocentes. Já estava doente, mas ainda com alento de me dar os braços, tirar a minha caneta do bolso e tentar com ela uma brincadeira. Isto para mim é simbólico. Na época eu ainda não havia escrito nenhuma obra. Após sua morte fiz-lhe alguns poemas saudosos e sentidos, que depois seriam publicados nos jornais e livros. Quero pensar e acreditar que está no céu e lembrar o evangelho de São Marcos, onde tenho uma resposta que há muito queria ter. Todos os mortos em Deus (e todos somos filhos de Deus) serão simplesmente anjos, independente de sexo, idade, cor, estado civil... Assim, os que morreram não levam suas vidas terrenas, suas alegrias e sofrimentos, mas nos deixam o exemplo. O Dia dos Mortos é dos anjos, é da memória, é do respeito e da alegria de tê-los todos conosco – porque, ou todos são anjos e estão no céu, na terra e em toda parte, ou todos se integraram à natureza, à energia e à luz de onde provieram. Devia ser uma data alegre e não triste.

Não compreendo por que apenas no Dia dos Mortos se vai aos cemitérios com tanta vela, tanta flor, tanto rosário, tanta reza, tanto véu, tanta tristeza. Melhor fazer da morte uma festa, como os artistas fazem. Assim, compreender-se-ia melhor o Dia de Finados. Perdoaríamos à indústria e ao comércio pela exploração mercadológica tão ridícula com contribuem.

Como os humoristas, deveríamos todos fazer piadas sobre a morte, gargalhar e rir enquanto é tempo. Entendi-me no mundo ouvindo minha mãe cantar uma musiquinha popular que meu avô já cantava: “Quando eu morrer, / se me levar pro cemitério / dou um pulo pra uma banda / não fico lá porque não quero.” Os poetas fazem e deixam epitáfios gostosos, o que quer dizer que não levam a morte muito a sério, ou pelo menos tentam. Pois a vida já é muito pesada, muito séria. Para que preocupar-se com a certeza maior de nossa vida – o seu fim?

Há um epitáfio de famoso poeta cujo nome não guardei, resumido numa quadrinha que termina assim: “Aqui jaz quem não jazera / se jazesse a medicina.” Para quem não se lembra, epitáfio é um poema, um verso ou uma frase que se coloca no túmulo e exprime a comunicação final do morto. O poeta Álvares de Azevedo, num poema muito sentido, deixou o seu: “Descansem o meu leito solitário / Na floresta dos homens esquecida, / À sombra de uma cruz, e escrevam nela: / – Foi poeta, sonhou e amou na vida.” Eu escrevi três, todos muito ruins, talvez porque não creia que possa merecer um epitáfio, ou pense que isto será de somenos importância. Por isto não transcrevo nenhum. Eu acredito na vida. A morte é vida, só que sua última etapa. E se a morte é vida, deveria ser sempre alegre, pois, como diz o vulgo: “Tristezas não pagam dívidas.”





_______________________

*Francisco Miguel de Moura, escritor brasileiro, mora em Teresina, PI.





Comentarios
O que você achou deste texto?     Nome:     Mail:    
Comente: 
Renove sua assinatura para ver os contadores de acesso - Clique Aqui