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Poesias-->Réquiem ao Tempo Presente -- 06/06/2000 - 02:14 (Abilio Pacheco) |
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É preciso enterrar nossos mortos
Já não ouvimos mais os fogos de artifício
estourando luzes nos olhos do céu
É preciso enterrar estes corpos
Já não ouvimos mais o som dos taróis,
dos surdos, dos tan-tans, nem dos pratos
É preciso enterrar nossos vizinhos
seu cão atropelado, seu gato baleado,
seu jardim pisoteado, suas crias envenenadas
Já não ouvimos mais tantos tiros
ou melhor ouvimos, ouvimos uma saraivada
gritos de uma aurora baleada
despertamos em plena guerra
É preciso enterrar nossas asas, nossas penas,
instrumentos de nossos mais belos vôos
Já não ouvimos mais o som das trombetas
o som das desafinadas trombetas
que os anjos, os demônios e os anjos tocam
É preciso enterrar nossos entes
Já não ouvimos mais os trovões
prenunciadores de chuvas invernais
aliás, ouvimos os trovões, ouvimos
nossas lágrimas que se quebram
nossos prantos, dentes que se rangem
É preciso enterrar estas horas
Já não mais ouvimos os relógios
nem as pedras que se precipitam
nem os tiques do tempo (taque) à porta
nem mesmo as flores que morrem murchas
É preciso. É preciso enterrar nossos olhos,
nossos dentes, nossas línguas, nossos tímpanos.
Já não mais nos ouvimos a nós
Já não mais nos ouvimos
Já não mais...
É preciso!
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