CUNHA PORÃ compõe-se de onze capítulos. Aconselho aos leitores que efetuem a leitura a partir do primeiro, seguindo seqüencialmente a ordem crescente, para que o entendimento do enredo não fique prejudicado.
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CUNHAPORÃ - PARTE IX - ITAPIRANGA (Pedra Vermelha)
J.B.Xavier
Distantes soaram as palavras de Yara.
Distantes... distantes... não mais as ouviu.
Dobrou-se o guerreiro, A vida findara.
Rolando da pedra, no lago caiu.
De longe, lá das fraldas da colina
Veio o pio de uma coruja, sonolento.
E o céu todo enfeitado em purpurina,
Registrou o assassínio tão sangrento.
Nada houve que tivesse perturbado
O sossego e a beleza dessa noite.
E as águas que haviam se fechado
Ribombaram pelos ermos, como açoite.
O escarlate veio à tona num só ato.
Nuvens negras rolaram no firmamento.
E Jassy vociferou:" Ingrato! Ingrato!"
E o eco foi-se embora com o vento.
Em instantes só restava o espumaredo
No sepulcro dessas águas agitadas.
E o silêncio perguntava ao arvoredo
O motivo dessa vida arrebatada.
Lá no fundo o corpo inerte do charrua
Confirmava a terrível realidade.
E brincando com seu corpo, a luz da Lua
De mãos dadas o levou à eternidade.
* * *
Joelhos vergados,
Cabelos revoltos,
Dedos crispados,
Sonhos tão soltos.
Amores perdidos,
Sutis pensamentos,
Peitos feridos,
Tristes lamentos.
Lágrimas tensas,
Choros inúteis,
Vidas suspensas,
Planos tão fúteis.
Tristes adornos,
Sonhos dourados,
Lábios tão mornos,
Tudo é passado.
Choros tristonhos,
Noite tão fria,
Adeus para os sonhos,
A Morte sorria.
Passado, presente,
Incerto futuro.
pranto tão quente,
Lago tão puro.
Vida de esperas,
Tanta ansiedade,
Querêcias, quimeras,
Louca saudade...
Seria Tupã assim tão desatento
Que mortes sem honra deixasse ao relento
Na límpida noite medonha e cruel?
Seriam Yara e Jassy tão perversas
Que esqueçam de suas solenes promessas
Deixando p’rá si o amargo do fel?
Nas folhas os ventos brincavam serenos,
E as aves voando eram como acenos,
Vãs despedidas de tristes tormentos.
Pairava no ar o perfume das flores,
Bailavam no espaço os sonhos de amores
Perdendo-se etéreos pelo firmamento.
Sutil movimento a folhagem mexeu
E o braço assassino, e o arco potente
Por entre o arvoredo reapareceu.
E mais uma flecha postou-se em sua mão,
Que o ybirapar outra vez retesou.
A flecha partiu na infamante missão.
Voando certeira o alvo encontrou.
Rápida, fria, insensível, precisa,
O seio moreno ela atravessou.
* * *
Nenhum gemido havia
Para ser dado,
Nenhum clamor.
Apenas sangue
E doces lágrimas
De amor...
O corpo bronzeado,
Curvou-se trespassado
Ao preço pago.
Amor loucura!
Suavemente
Deslizou para o lago.
Sobre a laje o vermelho do sangue incendido.
Sob a água o final do amor tão sofrido,
E a grande vingança, enfim consumada.
E por toda a floresta o vento levou
A doentia, terrível, feroz gargalhada.
FIM DA PARTE IX
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