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Poesias-->CUNHAPORÃ, UMA HISTÓRIA DE AMOR - VI -LÁGRIMAS DE AMOR -- 29/06/2002 - 21:37 (J. B. Xavier)
CUNHA PORÃ compõe-se de onze capítulos. Aconselho aos leitores que efetuem a leitura a partir do primeiro, seguindo seqüencialmente a ordem crescente, para que o entendimento do enredo não fique prejudicado. * * * CUNHAPORÃ - PARTE VI - LÁGRIMAS DE AMOR J.B.Xavier LÁGRIMAS DE AMOR Tempos após esse grave incidente, Em bela manhã, tórrida, quente, O oyakã visitou o infeliz condenado. “Salve, charrua, saudável e forte! Enfim já estás preparado p’rá morte. Teu fim amanhã já está decretado. A selva inteira verá que estrangeiros, Velozes nos pampas, em potros ligeiros, Cá dentro, na mata, são fracos e lentos. Teu povo um dia ouvirá a história Do Grande Tupi e de sua vitória Levada ao longe, nas asas do vento. Que armas quereis para te defender? Sob qual delas todas tu queres morrer?” - Bradou Ygarussú , num acesso de ira. “Sem armas, sem nada!” - bradou o charrua. “Lutemos à morte só com a mão nua!” Pasmou a aldeia com o que ele pedira. E o som doentio de atroz gargalhada Lançou toda a tribo em louca risada, Imitando o cacique, o Grande Oyakã . Afastou-se o gigante em passos ligeiros. Ao longe voltou-se e falou aos gerreiros: “Será na clareira, à tarde. Amanhã.” * * * “Tupã vos proteja E o braço te guie,” Disse Cunhaporã . “Eu vim para isso ! Yara alertou que podia ocorrer. Que sou sem meu sonho? Talvez assim seja, E nesta peleja Eu deva morrer!” “Silêncio Nhuamã ! Não manche a estirpe Do povo charrua! Que faço se morres? Se a vida inteira Eu sempre fui tua! “ “Ah! meu amor, sublime e terno. Por que me transportas assim Ao inferno? Não tenha piedade De mim, condenado, Que paga por tanto ter te amado... Não, meu amor, pobre criança, Não preciso de esperança Para enfrentar a Morte. Nada há de tão terrível. Ygarussú e bem forte, Mas aprendi há muito tempo Que não existe o invencível. Morrer? Talvez aconteça. Talvez eu desapareça Nestas ermas cercanias. Talvez, então, noutras eras De novo nos encontremos, E meu coração, que te encerra Talvez permita que de novo nos amemos... Mas talvez também eu vença! Somos guerreiros apenas. Ele crê, e em sua crença Deixa as demais tão pequenas, Que talvez resida aí Toda a sua insegurança. Já venci mais de uma luta Em que o erro do inimigo Foi excesso de confiança. Portanto não digas nada Que não sejam as palavras De teu próprio coração. Nada digas, se não forem As próprias palavras tuas. E assim viverás sempre No coração dos charruas.” “Tolo que és ! Não permita Que outro assassínio atroz Entre nós Se repita! De mortes estamos fartos! Queremos a paz verdadeira, Por teto o céu estrelado, Por lar a floresta inteira! Não permita haver mais sangue Nem a força do terror. Lute e vença, Nhuamã . Vença a luta de amanhã, Vença, em nome do amor...!” FIM DA PARTE VI * * *