Meu sogro pra quem não sabe
É o Sr. Chico macineiro
Faz caixão para defunto
Com ou sem travesseiro
O dele já está feito
Já fabricou o próprio leito
Só não quer é ir primeiro.
Você pensa que é só isso
Sei que vai admirar
Mas Sr. Chico até já fez
O túmulo pra ele morar
É a sua estranha opinião
De querer pagar o chão
Pra ele sozinho ficar.
Ele foi na prefeitura
E pagou o alvará
Pagou todos os impostos
Pra ninguém não lhe cobrar
Deixou tudo perfeito
Cada coisa no seu jeito
Pra o fiscal não lhe tomar.
Mandou abrir sua cova
Com sete palmos de altura
Encamisou com tijolos
Toda a sua largura
E pra ficar mais correto
Fez a tampa de concreto
Pra fechar a sepultura.
Pagou tudo direito
O coveiro e o pedreiro
Como não tinha cheque
Pagou tudo em dinheiro
Não ficou devendo nada
Não vai aparecer camarada
Pra dizer que é trapaceiro
Quem entra no cemitério
Vê um túmulo sem defunto
Pra quem entra é à esquerda
Nesta cidade de pé junto
No túmulo nome não tem
Pois ali não tem ninguém
Ainda está vivo o presunto.
Toda vez que vou num enterro
Eu vejo aquela carneira
Muitos até admira
Quando falo de primeira
Na cova não tem ninguém
Mas dono ela já tem
Eu falo sem brincadeira.
Até a roupa ele tem
Para todos poderem ver
Tem caixão e tem a cova
Eu digo você pode crer
Acho que está faltando
E pra você vou falando
É o dia dele morrer.
Sr. Chico é meio estranho
Que quando ele passa mal
Seus filhos dão tratamento
Mas ele foge do hospital
Quando a porta é fechada
A janela é encontrada
E a fuga é natural.
Quando uma moça pergunta
O seu nome direitinho
Para ela ele responde
Que se chama Francisquinho
É um velho meio pra frente
E só quando está doente
É que fica bem mansinho.
A ninguém quer dar trabalho
Por isso está preparado
Não quer ver a morte chegar
Mas o caixão ta encostado
Do jeito que a coisa vai
Esse véi vai dar trabai
Quando tiver do outro lado.
Airam Ribeiro
09/12/02
Sr. Chico ta é forte, muita gente ainda vai primeiro que ele.