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cronicas-->MARIA TOPADA -- 06/02/2002 - 22:42 (Elisabeth Carvalho Nascimento) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos


Em Palmeira dos índios, cidade onde Graciliano Ramos foi prefeito, nem mesmo ele, chegou a ser tão conhecido pelos quatro cantos do município, o quanto Maria Topada.
Ela foi de longe, a figura mais conhecida do lugar. Hoje, alguns anos depois de sua morte, todos, mesmos os mais jovens, ouviram falar de Maria Topada.
Quando jovem, reinou absoluta no baixo meretrício da cidade, pois era não só a mais formosa, como a mais fogosa.
Com o passar do tempo porém, o costume de beber nas noites quentes, nos rodopios das danças e gritos de desejos, passou para o vício, com a queda do reinado e a velhice que chegava e impiedosa crispava-lhe as carnes, antes tão macias.
Aí, Maria tão desejada, passou dentro da embriaguez a ser chamada de Maria Topada.
Mas todos respeitavam Maria Topada, principalmente os "homens de família," pois Topada conhecia seus mais íntimos segredos.
E mesmo passando a viver maltrapilha caindo pelas calçadas no sono da cachaça, Maria Topada não perdeu o bom humor, o gosto pela vida e a malandragem.
O seu jeito de ser, fez com que ganhasse a simpatia de todos, que sempre ajudavam com doação de comida, mas se recusavam a dar o dinheiro pedido, para que não fosse gasto em doses de pinga.
Não se sabe como, ela sempre dava um jeito de conseguir beber e muito! E assim, saía perambulando pelas ruas, conversando com um, com outro, dizendo pilhérias, inventando gírias, que logo passavam a fazer parte do linguajar dos jovens.
Certo dia, Maria Topada, estava na estação de trem, vendo o movimento de chegada e partida dos trens. Eis, que chega o trem vindo de Maceió e desce um senhor apressado e esbarra em Topada, que se encontrava em sua frente. O homem, sabe lá qual motivo, era só irritação e virou-se para Topada, por certo não conhecendo a "dona" da cidade e reclamou para que ela saísse do seu caminho. Maria Topada, olhou o cara de cima a baixo, colocou as mãos na cintura, gingou o corpo e falou:
_ Ó! Pra que a pressa? Trouxe a mala? Num sabe nem se fica.
A gargalhada foi geral na plataforma da estação. Todos riram da cara de tonto do homem, que desconhecendo quem era Maria Topada, ousou falar em tom de reprovação com ela.
E não só foi isso. No outro dia, toda a juventude em Palmeira já havia adotado a gíria. Você não podia pedir pressa em nada, que logo aparecia um para dizer: _ Ó! Pra que a pressa? Trouxe a mala? Num sabe nem se fica.
E assim seguia Maria Topada, quando outro dia entrou em uma loja de tecidos e começou a examinar as peças expostas em cima do balcão. Quando o gerente, conhecendo Topada, com carinho pediu para que ela não pegasse nas peças de tecido, para evitar que as sujasse. No que foi o bastante para Maria Topada dizer mais uma das suas:
_ Aló britche. Aló boy. Falou aló breitche. (O que significava: Tudo bem. Tudo certo).
E essa, é claro, não deixou de ser mais uma gíria adotada pelos jovens palmeirenses.
Mas Maria Topada, não abandonou sua religiosidade. Todo ano, pedia um vestido novo à professora Vanda Ramos e a passagem a uma moça, chamada Noemi que vivia tentando tirar Maria do vício e ia Maria de "pau de arara" para a festa do Padre Cícero, em Juazeiro do Norte, Estado do Ceará. E o impressionante é que durante o período em que durava a romaria, Topada não colocava um gole de pinga na boca. Tudo em respeito ao Padim Cícero do Juazeiro.
Não perdeu a mania de às noites ir para a zona do meretrício, matar a saudade dos tempos de reinado e implicar com as novas damas da noite. Quando as mulheres perdiam a paciência com as implicàncias de Maria, ela corria para o portão da casa de D. Noemi e gritava em plena madrugada.
_ Chega Dona Nema, qui tão querendo me matá! Vão cuidá em ganhá o pão de cada dia camboio de raparigas!
Maria tinha uma filha, que fez questão de criar fora do meretrício e encontrando uma família que tomou conta, seguiu sua vida, mais tarde indo para São Paulo, onde casou.
Os anos passaram, Maria Topada foi ficando velha e não aguentando mais o vício do álcool, abandonou a bebida, com a promessa de D. Noemi que conseguiria sua aposentadoria. E assim, trato feito, trato cumprido.
Maria Topada abandonou a bebida, passou a andar com vestidos limpos cabelos penteados, mas nunca perdeu a mania de ir de casa em casa, pedindo um pacote de café, um quilo de açúcar, um pedaço de charque.
Deixou a bebida e perdeu um pouco da irreverência, das gírias. Mas melhor assim, todos falavam.
Até que um dia, Maria adoeceu, foi levada para um hospital em Maceió e não voltou mais. Partiu Maria. E dessa vez, não tropeçou. Partiu como um anjo.
E Palmeira dos Indios, perdeu a rainha da gíria, da alegria, da boa malandragem.
Palmeira ficou triste sem Maria Topada.
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