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Artigos-->Não somos racistas -- 06/10/2006 - 14:24 (Paulo Maciel) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Não somos racistas



Quando conclui a leitura do excelente livro de Ali Kamel, “Não somos racistas”, compreendi que sua visão do problema da discriminação racial em nosso país é semelhante à minha.

A obra de Ali Kamel, um jornalista que se dedica ao estudo da questão racial e que já escreveu muitos artigos sobre o tema, revela a percepção de um cuidadoso analista, alguém que nos últimos anos vem esmiuçando os resultados das pesquisas do IBGE e lido o que se publica a respeito.

Ele defende a tese de que não há racismo no Brasil, salvo manifestações isoladas, e acredita que a adoção de cotas para ingresso de negros e alunos de escolas públicas nas universidades seja um retrocesso no tratamento do assunto.

Ele descobriu que, para efeito de estatística, negro era todo aquele que não era branco e que somos uma nação de brancos e negros, onde os brancos oprimem os negros. Ele sempre acreditou que fôssemos um país miscigenado, em que a convivência racial anulasse eventuais diferenças de cor da pele.

Quando se diz que os negros são 48% da população e os brancos 51% comete-se uma generalização perniciosa. Na verdade, os negros são apenas 5,9%, e aqueles que são omitidos, os pardos, somam 42% dos brasileiros.

“Entre os 56,8 milhões de pobres, os negros são 7,1% e não 65,8%, enquanto os brancos são 34,2% e os pardos 58,7%. Portanto, se a pobreza tem uma cor no Brasil, essa cor é parda!”.

Segundo ele, citando o geneticista Craig Venter, “raça é um conceito social, não um conceito científico”. As diferenças entre um branco nórdico e um negro africano compreendem apenas uma fração de 0,005 do genoma humano, composto de 25.000 genes.

A má situação do negro, no Brasil, se deve à pobreza, ele acentua.

Minha experiência pessoal reforça a tese de Ali Kamel. Quando eu era menino, e até que o sistema de classificação racial mudasse, era considerado pardo (“Quem é pardo? pergunta o autor do livro. É um branco meio negro ou um negro meio branco?”)

Havia, então, o branco, o moreno, o mulato claro, o mulato escuro, o mulato “cabo verde” (de cabelos lisos), o negro e o preto retinto. No colégio em que estudei tive por colegas muitos mulatos e negros e jamais percebi qualquer sinal de discriminação contra eles. Joguei futebol durante anos, em times grandes e pequenos, no interior e na capital, e nem nesse ambiente topei com racismo.

É claro que conheci algumas pessoas que revelavam certa intolerância racial. Uma delas, por exemplo, apesar de mostrar-se intolerante com empregadas domésticas e pobres, tinha como médico de seus filhos um pediatra negro. A outra, amiga muito querida, tratava as domésticas negras com evidente desprezo, não obstante casada com um mulato escuro, pessoa de bom nível intelectual, com dois cursos superiores.

Em ambos os casos, não havia racismo, mas discriminação de natureza social.

Durante muitos anos exerci cargo de diretor de recursos humanos em empresa que chegou a possuir mais de 20.000 empregados. Estive na função por 11 anos e jamais constatei ou autorizei qualquer restrição ao ingresso de negros e nem formas de discriminação, fosse da parte da diretoria ou das chefias. Os critérios de seleção alcançavam quaisquer candidatos, os salários eram iguais para os que ocupavam cargos iguais, assim como as oportunidades de crescimento. Nunca recebi qualquer queixa de quem quer que fosse acerca de possíveis diferenças de tratamento, em relação à cor da pele.

Outra importante vertente do livro de Ali Kamel é a que trata do sistema de cotas para ingresso de negros e estudantes oriundos de escolas públicas nas universidades. Ele é rigorosamente contra, considera a política uma “americanização” indevida, pois não temos problemas de natureza racial, como eles. Da mesma forma como penso, ele defende a idéia de que muito melhor do que a adoção de qualquer sistema de cotas é o investimento maciço na educação fundamental, sem esquecer as escolas da periferia das grandes cidades e da zona rural.

O sistema de cotas, como de resto as várias formas governamentais de assistencialismo “alcançam sempre os menos miseráveis, já que os mais miseráveis, os que vivem na base da pirâmide social mal têm condições de saber que um certo direito lhes dá benefícios”.

O que a gente vê entre as organizações que defendem as cotas, muitas que representam o movimento negro, é a defesa intransigente desse sistema, como se isso resolvesse o problema do acesso dos pobres ao ensino superior. Muito melhor e de efeito decisivo para o futuro desses jovens, seria a luta permanente por uma educação básica de boa qualidade nas milhares de escolas públicas deste pais.

06/10/06





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