Neste período pré-eleitoral acontece uma briga ideológica muito acirrada que, na realidade, é uma séria e constante neurose para os idealistas sérios. A enorme polêmica sobre o voto nulo e o voto válido chega a provocar pequenos ruídos, porém quase ou nada diz respeito a um instrumento pelo qual todos clamam e reclamam: a democracia.
A grande maioria das instituições, públicas e privadas estão empenhadas em defender o chamado voto válido. Funcionam como legítimas corporações aliadas aos mais diversos seguimentos partidários e fortalecem os mais diversos candidatos, promovendo-os à eternização no poder. Assim agem muitos e muitos órgãos públicos, os quais deveriam funcionar para a conscientização do cidadão menos informado. Em vez disso eles simplesmente dissuadem a tais cidadãos de que o VOTO NULO é um pecado, diga-se, antidemocrático. Só não erxplicam como e por que.
O maior órgão eleitoral chega a estapafurdiar reclames na tevê com verbas do contribuinte, ou seja, a arrecadação de cada um de nós, para incutir na cabeça do cidadão mal-informado de que ele não sabe votar. Tenta fazer com o homem de bem lembre em quem votou na última eleição... Ora, talvez a maioria dos modestos e decentes cidadãos brasileiros não se lembre nem o que comeu ontem... Como é que ele vai lembrar de um cidadão que fatalmente não proporcionou nenhuma importância em sua vida? Aliás, o cérebro humano está condicionado a memorizar coisas relevântes ou que ele julga ser - a Natureza o construíu com essas faculdades. E mais: esse mesmo maior órgão eleitoral evoca os eleitores a cobrar do seu candidado, quer dizer, do parlamentar ou administrador público em quem votou. Isso é uma coisa risível, mais uma piada. Todos estão cansados de saber que a grandíssima maioria dos candidatos quando eleitos somem. Dificilmente se encontram em seus gabinetes. Ademais, o próprio grande órgão eleitoral se esquece que não há um instrumento legal de cobrança. Para que houvesse cobrança seria necessário que o conjunto de órgãos públicos estabelecessem um mecanismo legítimo e eficaz para que o cidadão bem intencionado pudesse solicitar e exigir os benefícios do candidado que ele elegeu.
Se se considerar DEMOCRACIA como liberdade e direito pleno de escolher, o nosso sistema eleitoral está longe de poder ser considerado democrático. Se observarmos bem não temos o direito de escolher. Somos coagidos a escolher um. Somos obrigados a escolher um entre dois, cinco ou dez candidatos, mesmo que não nos afinemos com qualquer um deles. Incutem em nossa cabeça que seremos "malditos" se não escolhermos um deles. Que democracia é essa?! Que democracia é essa que me dá o direito, quer dizer, me obriga a eleger, mas quando o eleito comete um crime contra mim e contra toda a nação eu não tenho o mesmo direito de destituí-lo?
Entre essas e outras coisas o nosso voto válido se torna inválido. Por outro lado parece que há um complô contra a gritante masssa de desinformados. Os formadores de opinião: pessoas da imprensa, analistas políticos, órgãos públicos se juntam em couro para tentar dar um charme ao voto válido. Mas eles se esquecem de justificar a razão de ser desse voto válido, o qual depois de sufragado se torna inválido.
