MONOGRAFIA E PESQUISA
Délcio Vieira Salomon
Quando em 1967 lancei o “Como fazer uma monografia”, previa que um dia a monografia chegaria a ser a atividade por excelência de o aluno, mesmo da graduação, obter e produzir seu conhecimento científico. Para a época, a pós-graduação estava começando a estruturar-se.
Hoje vejo o acerto total da previsão. Mestrado e doutorado já fizeram da monografia, recurso metodológico, prioritário, de obtenção e produção do conhecimento. Também os cursos de graduação, particularmente os das ciências humanas e sociais. Para a pós-graduação “lato sensu” já se tornou exigência obrigatória para a obtenção do certificado de conclusão.
Infelizmente nem todos aqueles professores, que aceitam orientar alunos para a feitura da monografia, têm cumprido sua tarefa a contento e com segurança. Fosse assim, mesmo com a indicação quase unânime do meu “Como fazer uma monografia” na bibliografia do programa, não estaria eu recebendo a quantidade de perguntas e dúvidas como tem acontecido ultimamente.
Das dúvidas, a que me pareceu ultimamente a mais relevante, por ser básica, motiva-me à escritura deste texto. Perguntam: - existe monografia sem pesquisa? Ou, em outras palavras: - a monografia só se elabora como discurso analítico em cima de uma pesquisa empírica feita em função da própria monografia?
Ao ser alocada entre os trabalhos científicos e técnicos, a monografia, implica ser tratamento escrito centrado num só objeto ou problema que demanda: reflexão, levantamento bibliográfico, documentação e/ou coleta de dados, análise, comprovação de hipótese ou conjectura formulada em função do problema, conclusão.
Diante desses elementos estruturados na hora da redação, é de se concluir que a monografia é em si mesma uma pesquisa. Sobretudo, quando se pensa em pesquisa na ótica de F. L. Whitney, que em clássico texto- “The elements of research” - defende a tese de que são indissociáveis: ciência, pesquisa, reflexão. Óbvio quem defende o trabalho monográfico sob esta ótica, como o estou fazendo, há de convir que sua construção, por demandar todos aqueles passos acima apontados, já é em si mesma uma pesquisa.
Corroboraria esta posição citando a grande metodologista americana, Kate Turabian, ao designar monografia e “paper” como “estudos baseados na consulta a documentos ou como tratamento escrito de ‘pesquisa fechada’”(ou entre as quatro paredes de uma biblioteca).
Portanto, para a realização de monografia há necessidade de pesquisa, não necessariamente de pesquisa empírica, sobretudo as de campo, prática comum em ciências humanas e sociais (survey, estudos de caso, entrevistas, intervenção sociológica, observação participante etc).
O que não impede que se possa construir excelente monografia em cima de uma pesquisa empírica paralela. Contanto que neste caso, o tratamento escrito não se reduza a mero relatório da pesquisa. Antes, pelo contrário, seja a abordagem “teórica”, aprofundada dos elementos conceituais da coleta de dados e da análise oriundas de uma pesquisa empírica específica.
Creio assim ter respondido às várias consultas, particularmente à da A.L.R: - você pode fazer bela monografia sobre a “prostituição”, só consultando textos, informes, bancos de dados, documentos enfim, sobre o tema, sem precisar de penetrar, em nome da observação, num prostíbulo, zona de meretrício ou apartamentos de garotas de programa. Agora, se tiver possibilidade de realizar conjuntamente um “survey” por exemplo, melhor ainda. A pesquisa empírica não é condição necessária para a feitura de uma monografia. Nem mesmo condição.
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