No apagar das luzes de seu governo, FHC declarou que, se tivesse mais um mandato, mudaria sua política econômica e salvaria o Brasil do caos em que estava se precipitando. Atitude digna do Conselheiro Acácio, mas muito mais pertinente ao gesto do pavão que enfia a cabeça em sua plumagem para não ver a feiúra dos pés.
Em artigo para o Estado de Minas, comentando a frase de FHC, escrevi: “Como mineiro não pode perder sua proverbial desconfiança, não custa abrir os olhos: é de se temer, que, depois duma declaração desse jaez, no atual processo eleitoral, o autêntico candidato da oposição corra o risco de ganhar, mas não levar. Essa a grande ameaça que paira sobre todos nós”.
E continuava: “Se o presidente não insinuou a possibilidade de mais um mandato, como há tempos se cogitou, inclusive pela grande imprensa, para quem sabe ler as entrelinhas do poder, a frase pode ser traduzida: a oposição tem razão em criticar o atual modelo econômico, mas o único que poderá mudá-lo é meu candidato (Serra). Ele será a minha continuação´”.
Desde o início do processo eleitoral, o candidato do governo FHC, estava ciente da altíssima rejeição que o povo tinha e tem pelo então presidente (talvez seja por isso que o próprio PSDB nem cogitou de relançar FHC para o atual pleito a concorrer contra Lula). As conseqüências seriam mais desastrosas que as pintadas pelo atual cenário eleitoral. Todos o sabemos: fomos traídos com o engodo da estabilidade do Plano Real e com o maior atentado à democracia nos últimos tempos: a reeleição. Além disso, a corrupção sempre rodeou o poder central. Apesar de não o ignorar, Serra fez e, acredito, continua fazendo de tudo para desligar seu nome de FHC. Não o defende, nem o critica.
Entretanto o baixo nível, em que as eleições de 2002 se realizaram, não se compara com o atual. O pior de tudo é que não temos escolha. O povo brasileiro é convocado a escolher entre o pior e o péssimo.
Sou levado a concordar com o jornalista R. Pompeu de Toledo quando diz “ Lula não é um político. Não é nem mesmo uma pessoa. É um mito. É o retirante nordestino e operário metalúrgico sem um dedo que virou presidente, discursa na ONU e passeia de carruagem com a rainha da Inglaterra”. VEJA, 27/09/2006, p. 134)
Mas discordo inteiramente quando compara Lula com Hercules e Teseu e como tais mitológicos heróis não pode ser derrotado. Continuo a fazer minha a dúvida do psicanalista Dr. Lancetti, reproduzida como epígrafe de meu artigo, neste site transcrito - “A derrocada de um mito” - quando escreveu: “ele é mais que um produto (da mídia), ele é um monstro, o monstro que a teratologia não consegue decifrar”
(Antônio Lancetti).
Mais mito que Lula foi Getúlio. Não fosse o gesto supremo do suicídio não voltaria nos braços do povo, se renunciasse ao mandato. Se fosse cassado, talvez sim. Mas o caso de Lula é bem diferente. Getúlio foi traído por seu guarda-costa, Gregório Fortunato e pelos áulicos do poder e bajuladores que o rodeavam. Lula jamais foi traído. Basta ver como passa mão na cabeça de todos que, por força das acusações de corrupção teve de usar o poder de demitir.
Getúlio jamais pactuou com a corrupção apontada por Lacerda. Lula, ao contrário vem acobertando há muito tempo o mar de lama, em que, por certo, um dia será mergulhado pelos próprios comparsas em seu desvario de governar acima da ética e da moral.
Fico imaginando o que não será um segundo mandato de Lula. A sanha de Carlos Lacerda e sua UDN na época de Getúlio seria uma gota d´água se comparada com o furacão que virá. Duvido que ele terá ressonância ao apelar para o povão, caso esteja encostado na parede sob a ameaça de impeachment. Collor, que se julgava acima do bem e do mal, também apelou ( " não me deixem só" e "em protesto, vistam-se de verde e amarelo")... e todos sabemos o que aconteceu!
O pior de tudo é que quem pagará por tudo isso será, sobretudo, o povão que nele ainda está ingenuamente acreditando.