NO APRIMORAMENTO
marcio menezes
No aperfeiçoamento do corpo espiritual, além do primitivismo de
certas almas que jazem, longo tempo, entorpecidas após a morte física,
observemos, ainda, o quadro das mentes evolvidas intelectualmente, mas
submersas nas densas vibrações decorrentes de compromissos escuros.
Não permanecem no regime da inércia, em sono larval; entretanto,
agitam-se nos desvarios da loucura.
Criam imagens que vivem e se movimentam na intimidade delas
próprias, por tempo indeterminado, cuja duração varia com a força do impulso
de suas paixões.
Carregam consigo os dramas intensos de que se fizeram autoras.
Encarnada na Terra, a inteligência vive entre as provocações da
esfera carnal e as sugestões silenciosas da mente. Quanto mais
intelectualizada a criatura, mais profundamente respira no plano das idéias,
influenciando e sendo influenciada.
Geralmente, porém, o homem desequilibra os próprios sentimentos,
inclinando-se, em maior ou menor percentagem, para o afastamento das leis
com as quais se deve nortear. Atravessa os caminhos humanos, ganhando pouco
e quase sempre perdendo muito, dentro de si mesmo, obscurecendo-se nas
pesadas sombras dos pensamentos inquietantes que produz para o consumo de
suas necessidades mentais.
Assim é que a desencarnação não lhes modifica o campo íntimo.
Encasulada no círculo vibratório das criações que lhe dizem
respeito, a alma sofre naturais inibições, ante a paisagem da vida gloriosa.
Não possui ainda órgão de percepção para sintonizar-se com os espetáculos
deslumbrantes da imensidade, encarcerada, qual se encontra, entre as paredes
estranhas das concepções obscuras e estreitas em que se agita.
Como a lâmpada vive no seio das próprias irradiações, emitindo
luz que é também matéria sutil, a alma permanece no seio das criações que
lhe são peculiares, prendendo-se à paisagem em que prevaleçam as forças e
desejos que lhe são afins, porque o pensamento é também substância
rarefeita, matéria dentro de expressões inabordáveis até agora pelas
investigações terrestres.
Podendo alimentar-se, por tempo indefinível, das emanações dos
próprios desejos, entidades existem que estacionam, durante muitos anos,
dentro dos quadros emocionais em que se comprazem, atrasando a marcha
evolutiva, até que reencarnam na recapitulação das experiências em que
faliram, retomando o serviço de purificação interior para a sublimação de si
mesmas.
Desse modo, somos defrontados por dolorosos fenômenos
congeniais.
Suicidas recomeçam a luta física, no círculo de moléstias
ingratas, e criminosos reaparecem no berço, com deploráveis mutilações e
defeitos; alcoólatras regressam à existência, em companhia de pais que se
sintonizam com eles e grandes delinqüentes reencetam a viagem do
aprimoramento moral, na esfera de provas temíveis, quais sejam as de
enfermidades indefiníveis e de aflições dificilmente remediáveis.
No extenso e abençoado viveiro de almas que é o mundo, pouco a
pouco, de século a século e de milênio a milênio, usando variados corpos e
diversas posições no campo das formas, nosso espírito constrói lentamente,
para o próprio uso, o veículo acrisolado e divino, com que, um dia,
ascenderemos à sublime habitação que o Senhor nos reserva em plena
imortalidade vitoriosa.
(De "Roteiro", de Francisco Cândido Xavier, pelo Espírito Emmanuel)
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