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Cronicas-->Um garoto e o mundo para conquistar -- 05/02/2002 - 03:55 (Alexandre da Costa) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos


Quando você tem 15, 16  anos existe um mundo inteiro para se conquistar. Não sei onde li ou vi essa frase. Talvez tenha sido em algum filme do Spielberg ou num livro do Marcos Rey. Mas gosto de usá-la e concordo plenamente com ela. Quando você é um moleque sabe que o mundo inteiro pode ser conquistado num estalar de dedos. Simples. Na terça-feira 8, 22 moleques (e tantos outros se contarmos os que ficaram no banco de reservas) se enfrentaram na final do Campeonato Nacional de colégios, principal disputa sub-20 realizada no Japão. O desejo de todos era o mesmo: chamar a atenção do mundo.

De certa forma, a peleja entre Kunimi de Nagasaki e Gifu Kogyo representava um metáfora da vida. Sem exageros. Vencedores e perdedores. Sucesso ou fracasso. Decepção e alegria. Sem meio-termo. Aqueles moleques aprenderiam assim como era viver num mundo de verdade. E para começar o aprendizado nada como um palco de gente grande. O estádio Nacional de Tokyo, como acontece todos os anos, foi o cenário dos choros dos campeões e dos derrotados. Para muitos daqueles meninos, essa final foi o primeiro desafio realmente encarado. Lá no campo, não havia papai, nem mamãe. Era ele, a bola e o outro. E apenas 16 aninhos de vida!!!!!! Você, com seus 28, 30, deve estar achando que isso é uma grande bobagem. "há coisas muito mais importantes no mundo", você diria. Mas viaje no tempo. Lembre-se como você se sentiu na primeira vez que disputou uma final no colégio ou ainda o amor de uma menina. Sim, nossos pequenos desafios ganham status de odisséia quando somos apenas uns moleques.

E tinha tudo lá. Pessoas importantes do futebol japonês, bolas novas (sim, eu me lembro até hoje como meu coração pulava de alegria quando dei uns chutes numa pelota oficial da Topper), estádio cheio, TV transmitindo ao vivo, jornais de todo o país cobrindo o evento e, claro, a garota dos seus sonhos tão assustada e ansiosa quanto você (e não me diga que isso é uma bobagem também).

É engraçado como o futebol mexe com a cabeça da molecada. Isso acontece em qualquer lugar do mundo. Nas favelas do Brasil, nas tribos da África, nas vilas de Portugal ou nas bem estruturadas escolas japonesas. O jogo de bola é o trampolim, talvez, o caminho mais fácil para alcançar o tão propalado reconhecimento. Mas antes do sucesso, a dor e o frio na barriga.

A temperatura no Estádio Nacional não passava dos cinco graus. O público se esquentava como podia. Ensaiava coreografias  e as bandinhas das duas escolas entoavam hits como Macho Man ou aquela música tema do filme Rocky, um Lutador. Enfim, agora dá para a bola rolar. E coitada, rolou feio nos primeiros 20 minutos da peleja.

Atsushi Katagiri, o camisa nove de Gifu, era a única cabecinha lúcida em campo e levava muito perigo à defesa do Kunimi. O time de Nagasaki era o favorito disparado e defendia o título conquistado na temporada passada. Sem falar ainda que três boleiros da equipe já estavam com contratos assinados com equipes da J-League. Para o time de Gifu tudo era novidade. Primeira final, primeira aparição nacional, primeiro desafio.

Enquanto a pelota era judiada, nunca vi tantos chutões para cima em tão pouco tempo, Katagiri levantava a cabeça e driblava, driblava outro, procurava um companheiro (não via ninguém) e driblava outro e o tempo passava. Parecia um sonho mas Gifu dominava o todo-poderoso Kunimi. Mas o mundo é cruel, não é? Katagiri perdeu a bola no ataque e o menino Kosei Shibasaki, depois de uma boa troca de passes (finalmente, os moleques haviam percebido que futebol se joga com a bola no chão), balança as redes aos 21 minutos. Kunimi 1 a 0. Engraçado, Shibasaki não comemorou, parecia que ele fazia um gol em decisões todos os dias.

Gifu não se intimidou com o tento. Porém, seus meninos pareciam presos. Katagiri continuava sendo o único lúcido mas tem aquela coisa da andorinha sozinha que não faz verão. Kunimi só partia para o ataque na boa. E numa rebatida da área do Gifu, Motoki Kamegabichi emendou um belo voleio e ampliou a vantagem. Aos cinco minutos do segundo tempo, um pênalti bem batido por Tatsuya Kamohara praticamente definiu o título para o Kunimi. Aí o futebol mostrou sua magia. A torcida de Gifu começou a gritar com mais energia acreditando, quem sabe, numa virada impossível.

O escrete de Katagiri não teve forças para reagir, no entanto. E nem Katagiri conseguia manter sua elegància no toque de bola. O time em campo estava entregue. E derrotado. No final do jogo, numa bela jogada de Katagiri, Takahiro Tsuchiya marcou o gol de honra de Gifu. E engraçado, Tsuchiya comemorou como se esse tivesse sido o momento mais importante de sua vida. E não foi?
Com o apito do juiz e a vitória do Kunimi por 3 a 1, as lágrimas correram soltas. Katagiri não pensava nos três times da J-League que o querem contratar e muito menos na bela bola de ouro por ter sido artilheiro do torneio com seis gols. O menino simplesmente dizia, "eu perdi", e engolia o choro propagando a idéia de que homem não chora. Não? E a torcida aplaudia seus meninos...reconhecendo que a molecada tinha aprendido bem a lição. Estavam prontos para crescer, virar gente grande. Você dirá: "era só uma partida de futebol". Não sejamos tão burocráticos.  Já fomos crianças um dia.
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