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Artigos-->UMA EXPERIÊNCIA VIVIDA COMO EDUCADORA -- 21/09/2006 - 17:37 (vicente martins) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos




O DIÁLOGO E A CIDADANIA NA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS – UMA EXPERIÊNCIA VIVIDA COMO EDUCADORA



Marise Lira Bezerra





Este artigo discute o papel do diálogo na construção da cidadania, a partir da experiência da autora como educadora de educação de Jovens e Adultos em cidades cearenses. A estrutura do trabalho foi organizada levando em conta apresentar o tema inserido no contexto da Educação Brasileira e foi construído dialogando com autores destacados como Demerval Saviani, Libâneo e Paulo Freire.

A trajetória da autora se dá a partir de experiências vividas durante trabalho profissional na Federação de Bairros e Favelas de Fortaleza, o Assentamento Maceió/CUT e no Bairro do Serviluz (EJA-Escola Pública Municipal de Fortaleza) ocorrido a partir da década de 80. As experiências indicam que ocorreu uma mudança de referencial para os educandos, que passam a ver Escola além do espaço físico existente e de seu corpo de professores.



O processo de aprendizagem tem sido freqüentemente discutido como instrumento de forte impacto sobre a vida dos indivíduos, influenciando o complexo jogo de posições que as pessoas ocupam na sociedade. Os conteúdos trabalhados nas salas de aula costumam chegar prontos e acabados, na maioria das vezes, excluindo a parceria do educando do processo de construção do conhecimento.



Outras experiências, ao contrário, buscam encontrar caminhos para o aprendizado, colocando o educando no centro do processo de aprendizagem e examinam o diálogo e a palavra do educando como um formidável caminho para encurtar as distâncias entre o mundo letrado e a periferia do saber, onde as pessoas são privadas do conhecimento produzido pela humanidade. Estudar a realidade educacional é levar em conta os aspectos contraditórios desse processo.



O Estado faz valer sua experiência, ao mesmo tempo, em que a sociedade civil, por meio dos movimentos sociais, enfrenta o desafio de buscar alternativas para o processo de formação dos seus integrantes. Analisar pontualmente essa situação é verificar como o diálogo se efetiva e como ele pode contribuir na formação crítica e cidadã de pessoas habitualmente excluídas socialmente.



O desafio de reverter os trágicos indicadores educacionais tem colocado historicamente para os movimentos sociais, a necessidade de construção de experiências alternativas com o objetivo central de formação de consciência crítica, fundamental para influir na transformação da sociedade.

A experiência dos movimentos sociais na construção da educação popular, além de explicitar a ausência efetiva do estado, demonstra o quanto é possível à superação da tragédia do analfabetismo.



Pretendo a partir da minha trajetória como educadora de Jovens e Adultos refletir sobre as experiências da Federação de Bairros e Favelas de Fortaleza, do Assentamento Maceió/CUT e do Bairro do Serviluz(EJA-Escola Pública de Fortaleza). A perspectiva é sistematizar essas vivências buscando elementos importantes para pensar a relação do diálogo e a construção da cidadania para esses atores sociais.



Para efeito de referência trabalharei com autores identificados com esses processos, com especial foco na teoria do Educador Paulo Freire, que é um marco referencial para o estudo da Educação numa perspectiva popular.



A estrutura do trabalho foi organizada levando em conta a necessidade de apresentar os temas a partir do contexto da Educação Brasileira, da proposta de Paulo Freire, articulando minhas experiências como educadora dos movimentos sociais e da Escola Pública. Em seguida apresentarei a metodologia, a conclusão e o conjunto da bibliografia consultada. Eis o texto proposto.





2. Referencial Teórico



2.1 Os desafios da educação brasileira



A educação no Brasil tem sido bastante discutida, por experientes estudiosos, professores, estudantes, no sentido de entendê-la como instrumento formador de consciência e construtor da cidadania. Há muitas tentativas de explicar o atraso do Brasil nessa área. Uma das mais correntes é assinalada como a falta de compromisso dos tradicionais “donos do poder”, que sempre investiram pouco em Educação. E isto ganha força, quando olhamos para o próprio País, onde a tradição dos governantes é não dar efetiva prioridade ao pleno emprego, a qualidade de vida e ao bem-estar da população.



Ao longo dos anos temos sofríveis indicadores educacionais. A taxa de escolarização é uma das mais baixas do mundo, predominando em larga escala o analfabetismo. O sistema educacional amarga uma crônica evasão. A juventude não consegue conciliar o estudo com as exigências do mundo do trabalho. Cada vez fica mais difícil manter jovens no Ensino Fundamental e no Ensino Médio. Boa parte deles, muito mais cedo, correm atrás da sobrevivência. Por isso é necessário pensar a Escola e o estudante, inserido na dinâmica dos grupos, das classes sociais e da sociedade.



2.2 A democratização do ensino



A educação só começa a ser discutida como um problema nacional a partir da década de 30 do século XX, com as primeiras tentativas de ordenamento do estado brasileiro. Essa atenção tardia é resultado do processo de colonização dependente e da formação atrasada que predominou em nosso País.

O direito à escola e ao saber era compreendido como privilégio de poucos, subestimação histórica do significado da educação para o desenvolvimento pleno do país e para afirmação da soberania e o bem-estar da nação.

A ausência de democracia é uma marca presente ao longo da história da educação brasileira. De acordo com Demerval Saviani:



“... o Estado brasileiro não se revelou, ainda, capaz de democratizar o ensino, estando distante da organização de uma educação pública democrática de âmbito nacional. À vista da situação descrita, estamos prestes a transpor o limiar do século XXI sem termos conseguido realizar aquilo que, segundo Luzuriaga, a sociedade moderna se pôs como tarefa dos séculos XIX e XX: a educação pública nacional e democrática.”(Saviani, 1997, p.7)





Diversas iniciativas esbarraram na miopia e no medo das elites econômicas de que o acesso ao conhecimento dos dominados pudesse de fato promover uma “segunda libertação dos escravos”. Isto influenciou na visão de mundo conservadora e discriminatória da educação. Essa perspectiva histórica nos ajuda a ver o alcance dessa problemática.





























3. A educação popular



Na década de 60 do século XX ocorrem importantes experiências no campo da educação popular. Essa perspectiva pretendia em certo sentido enfrentar a enorme defasagem escolar dos brasileiros. Algumas delas se tornaram referências, pois, se mostraram viáveis e com um grande potencial de mobilização da população.



Nesse período destacam-se as atividades realizadas pelo Movimento Educacional de Base (MEB) e os Centros Populares de Cultura(CPCs) da União Nacional dos Estudantes(UNE), que propunham um modelo de educação centrado na realidade social dos educandos, inspiradas na pedagogia de Paulo que já havia realizado sua experiência pioneira de educação popular em Angicos, Rio Grande do Norte, em 1963.



Esses programas – alguns centrados na alfabetização de adultos - foram de certo modo, a demonstração de que era possível realizar um grande mutirão educacional no País para reverter à dramática ausência de escolarização da população brasileira. A ditadura militar interrompeu a viabilidade desse processo.



3.1. A Proposta de Paulo Freire e o processo de alfabetização



A obra de Paulo Freire é vasta, assim como é ampla sua contribuição teórica para educação brasileira. Sua proposta se dirige a imensa rede de excluídos socialmente que não consegue entrar ou permanecer na escola.



Sua experiência como Professor universitário e suas pioneiras atividades no sertão do Rio grande do Norte, deram a ele a convicção de que a alfabetização não pode ser desvinculada do processo de consciência do mundo. A educação não ensina apenas a dominar o instrumento da leitura e da escrita, mas é um processo de libertação do educando.



Paulo Freire enfrentou a prisão e foi dos primeiros perseguidos e exilados pela ditadura, que o tinha como um “perigoso subversivo”. Sua grande vivência internacional forjou a euforia e a determinação de levar adiante um novo projeto de educação, transformando-lhe num grande intelectual de nosso tempo. Entre suas publicações destaca-se, “Educação como prática da liberdade(1967), Pedagogia do Oprimido(1968), Pedagogia da Esperança(1992) e Pedagogia da Autonomia(1996). Freire ainda foi Secretário de Educação do Município de São Paulo e recebeu diferentes prêmios pelo impacto de sua vida e atividade intelectual.



O pensamento de Paulo Freire, que já foi chamado de Método Paulo Freire, é bem mais que um método. Depois de algum tempo percebeu-se que era mesmo uma filosofia, um olhar muito mais amplo sobre a educação. Em sua obra a educação é vista de duas formas antagônicas. Uma de caráter bancário, onde os educandos são receptores de conteúdos impostos e outra de caráter problematizador onde emerge uma permanente reflexão crítica por parte de educadores e educandos, prevalecendo o diálogo entre eles.



“A concepção e a prática“bancárias”, imobilistas, “fixistas”, terminam por desconhecer os homens como seres históricos, enquanto a problematizadora parte exatamente do caráter histórico e da historicidade dos homens(...)”(Freire,1984,83)



A formação dos educandos é encarada como algo inacabado, assim como toda e qualquer atividade humana, em sintonia com uma realidade que também é histórica e também inacabada. Há nisso um entendimento de que estão aí as raízes mais profundas da educação, sendo ela um “(...) que-fazer permanente. Permanente, na razão da inconclusão dos homens e do devenir da realidade.”(Idem).



Há em Paulo Freire um convite ao mergulho na realidade do educando, nas suas vivências, no seu cotidiano povoado de desafios concretos da sua sobrevivência. Para ele o educando não é um ser vazio que necessite ser preenchido de conteúdos distantes do seu mundo, um aprendiz da palavra alheia, filhos de um saber fragmentado. Há um sentido transformador em sua visão de educação que problematiza a realidade. Para ele nenhuma “ ordem opressora suportaria que os oprimidos todos passassem a dizer: Por quê?”(Freire, 1984, 87)



A pergunta insubmissa é parte de uma grande estratégia de construção do conhecimento, o diálogo. Talvez esteja aqui a chave do mundo Freiriano e sua visão de educação.



“ Como posso dialogar, se alieno a ignorância, isto é, se a vejo sempre no outro, nunca em mim? (...) Como posso dialogar, se me sinto participante de um “gueto” de homens puros, donos da verdade e do saber, para quem todos os que estão fora são “essa gente”, ou são “nativos inferiores”?”(Freire, 1984, 95)



O intercâmbio construído a partir do diálogo tem um papel central na edificação da consciência do educando. Isso pode ser mais bem compreendido se visto a partir dos Círculos de Cultura: por que todos estão em círculo, com o professor assumindo o papel de facilitador do saber, assegurando ao aluno ampla participação na sala de aula.



Tudo se desenrola a partir de um método que privilegia a participação e pode ser estruturado com as seguintes etapas: a) levantamento do universo vocabular, escolha de palavras geradoras, codificação das situações problemas (temas geradores), elaboração de roteiro de discussão, elaboração de fichas-da-descoberta, diálogo sobre o tema gerador, decodificação da ficha-da-descoberta(criação de novas palavras.



Desse universo as palavras brotam, assim como da realidade do educando, emerge a força para transformá-los em seres cheios de consciência e cidadania. Como essa experiência de Freire se implementa nos dias atuais? Perdeu seu impacto ou ganhou outros significados?



A riqueza dessa dinâmica tem a meu ver grande atualidade. Isso se comprova quando analisamos em pormenores sua importância. O levantamento do universo vocabular é um trabalho que permanece extremamente atual e importante, pois ainda se pesquisa a fundo a realidade do grupo que se vai trabalhar, algo fundamental que, em geral, permeia todo o processo. Na escola pública, na área urbana ou rural, prevalece a necessidade de mergulharmos no contexto vivido pelos alunos.



A escolha das palavras geradoras tem significado central, mesmo que hoje a alfabetização de um modo geral não parta de uma palavra geradora. Fica a idéia de que é essencial trabalhar conteúdos referenciados na realidade do educando, sendo um bom ponto de partida.



A decodificação das situações problema demonstra a importância de desvendar a realidade. Na atual situação da Escola Pública é necessário discutir as questões postas pelos livros didáticos que já trazem uma realidade padrão para todo lugar. É um desafio cada vez maior para o educador dialogar com os alunos e alunas a partir desse novo contexto. Há um risco de reprodução de uma educação bancária.



A elaboração do roteiro de discussão é um momento importante para o Planejamento e realização do diálogo. Isso permite uma percepção mais adequada do significado freiriano dessa questão para a formação dos educandos, favorecendo a troca de saberes e a formação da consciência crítica e libertadora.





3.2 Experiências como profissional da educação de Jovens e Adultos



Há uma longa identificação entre minha trajetória e o trabalho que realizo até hoje, a saber, a educação de Jovens e Adultos. Era abril de 1983, o Brasil vivia um intenso processo de lutas pela redemocratização do País.



A ditadura chegava ao final, após um saldo de muita dor e enorme resistência popular. Foi nesse ambiente que entrei em contato pela primeira vez com as idéias do Educador Paulo Freire, quando fazia o curso de Pedagogia. Muitos intelectuais e exilados ainda retornavam de um longo período fora do País. A professora Ruth Cavalcante era uma delas, liderança estudantil na década de 60, retornava do exílio na Alemanha e vivia período de reintegração à vida pública.



Pela sua experiência como educadora, foi convidada para ministrar um curso na Casa das Irmãs de Caridade, no Pirambu, em um dos bairros mais pobres de Fortaleza. Nessa época, soube desse curso nas reuniões das Comunidades Eclesiais de Base(CEBs), lugar onde aprendi minhas primeiras noções de cidadania e sociabilidade. Decidi participar do curso e assim me envolvi pela primeira vez, com a obra, a filosofia e o pensamento de Paulo Freire.



A idéia do curso era capacitar pessoas e formar grupos de alfabetizadores em diversos bairros de Fortaleza. O objetivo não foi inteiramente atingido, mas definitivamente calou fundo no meu coração de professora, e aprendi a mediar a aprendizagem através do diálogo e a valorização do saber de cada educando.



No segundo semestre de 1983 comecei a trabalhar numa escola que recebia crianças portadoras de necessidades especiais em sistema de inclusão. Pude ampliar minha experiência vivenciando outra modalidade de aprendizagem, que muito valoriza a diferença.



Essas duas grandes vertentes da minha vida se encontram e vão marcar minha formação e até mesmo minha percepção de mundo. A Educação Popular, como atualmente é conhecida a Educação de Jovens e Adultos, e a Educação Especial, definem as trilhas da minha caminhada na educação, seja como estudante e mais tarde como professora.



Hoje percebo que o cruzamento dessas duas áreas da educação foram complementares, pois ao mesmo tempo, em que eu estava envolvida, num projeto de uma sociedade nova, no fim da ditadura militar, passava a ter uma visão do educando como sujeito ativo da sociedade. Mais tarde pela lente da Educação especial vi o ser humano de forma individual necessitando ser cuidado em suas dificuldades e reafirmando suas qualidades, num outro ambiente de exclusão social.



Entre 1984 e 1985 retornei ao Bairro do Pirambu, pelas mãos do Projeto de Extensão em Psicologia Comunitária da Universidade Federal do Ceará(UFC) que atuava junto a grupos populares, no trabalho com a alfabetização de adultos, através do método Paulo Freire, sob a supervisão da Professora Ruth Cavalcante e sob Coordenação do Prof. Cezar Wagner de Lima Góis.



Vivenciei uma instigante experiência à luz das grandes mobilizações pelas Eleições Diretas, onde a população voltava a respirar um clima de democracia e participação popular. Isso indiretamente dava um novo ritmo ao diálogo dos círculos de cultura.



Entre setembro de 1988 a dezembro de 1990, coordenei um Projeto da Federação de Bairros e Favelas de Fortaleza(FBFF) de Alfabetização de Adultos e Capacitação Comunitária, em 20 bairros de Fortaleza, sendo responsável pela elaboração de relatórios, cartilhas, subsídios pedagógicos, treinamento e acompanhamento de monitores e supervisores. Essa foi uma experiência fundamental na minha compreensão e identificação com as idéias de Paulo Freire.



A Federação de Bairros e Favelas de Fortaleza(FBFF) era a entidade mais respeitada do movimento popular de Fortaleza naquele momento. Nessa época tive contato com muitas lideranças. Os monitores e educandos eram definidos pela Associação de Moradores. Dado a importância disso para a comunidade havia um controle da participação dos jovens, assim como do trabalho realizado. Isso foi muito positivo porque dialoguei com a visão de mundo de pessoas tradicionalmente excluídas e compreendi melhor como entendiam a importância da escola para o crescimento de sua auto-estima e fortalecimento de suas lutas.



Depois desse trabalho na FBFF, tive uma participação pontual na Educação popular. Fiquei restrita a alguns trabalhos de supervisão, palestras e cursos sobre educação de adultos. Tive minha atenção centrada nesse período em trabalhos voltados para a educação especial.



Em 2000, retornei ao trabalho com Jovens e Adultos. Dessa vez com trabalhadores rurais. Fui contratada pela Escola Nordeste da Central Única dos Trabalhadores(CUT), como educadora para trabalhar no Projeto de elevação de escolaridade no assentamento rural Maceió, em Itapipoca.



Na minha experiência de sala de aula, predominantemente urbana foi muito desafiador trabalhar numa área rural com um grupo de 38 pessoas, todos moradores de uma área com grande experiência de luta pela terra. Isto me colocou diante de uma nova realidade e de uma nova forma de relacionamento pessoal e pedagógico.



Considerando essas singularidades, passei a interagir com a comunidade com vistas a compreender a cultura local, seus valores e a história de vida de cada um. Essa foi uma etapa importantíssima para dimensionar minhas expectativas e a do grupo frente à escola e principalmente, quanto à percepção informativa que cada participante agregaria ao grupo.



Na troca de saberes percebi como foram fortes na vivência do grupo os anos de luta que tinham desenvolvido pela posse da terra e, sobretudo, a rede de solidariedade existente entre eles. Isso se tornou importante referência para que fosse efetivada a proposta educacional que seria trabalhada. Portanto, estávamos diante de uma tarefa de colocar para eles uma dupla função para a escola desejada: assegurar a construção coletiva do conhecimento e contribuir para o fortalecimento da experiência de Reforma Agrária por eles desenvolvida.



No início do ano de 2001 passei no concurso da Prefeitura de Fortaleza e fui lotada na sala de EJA III(o equivalente a 3ª e 4ª série do Ensino fundamental I) da educação de Jovens e Adultos e onde permaneci até o fim de 2005.



Em 2006, estando lotado na sala de EJA II - o equivalente a 1ª e 2ª série do ensino fundamental I – percebo que é possível fazer um balanço da minha atividade de sala de aula, notadamente, a minha experiência com o aprendizado de Jovens e Adultos.



3.2.1 A experiência da FBFF



O chamado movimento comunitário, por suas fortes ligações sociais, é sempre um espaço de grandes necessidades onde afloram com intensidade demandas populares fundamentais, como a educação. As associações de moradores costumam encaminhar os interesses da população junto às instâncias governamentais e estão sempre atentas a qualquer possibilidade de atender seus pleitos.



Assim a Federação de Bairros e Favelas de Fortaleza, que congrega centenas dessas entidades, não hesitou, quando surgiu a possibilidade de organizar em 20 bairros de Fortaleza uma experiência de Alfabetização de Adultos, podendo atender uma reivindicação antiga e sempre latente nos bairros. Elaborou o projeto e conseguiu financiamento da Fundação Interamericana, que viabilizou as condições materiais para realização desse significativo projeto.



O Projeto de Alfabetização da FBFF teve uma particularidade central, desde a construção do projeto até sua realização, houve grande participação das entidades comunitárias e contou com a presença marcante dos moradores da comunidade.



A estrutura do Projeto era composta por um monitor em cada comunidade, supervisores por área de trabalho e a coordenação geral. Havia uma estratégia regular de capacitação dos monitores na Teoria de Paulo Freire e havia um rigoroso acompanhamento das lideranças comunitárias.



A experiência se destacou pela contribuição efetiva na formação de lideranças e na inserção dos alunos posteriormente em escolas públicas. Naquele momento político o País recomeçava a viver um período de redemocratização e jorravam em quantidade as demandas populares. As lutas cotidianas e seus desdobramentos adentravam as salas dos Círculos de Cultura.



O diálogo era rico. Os educandos extraiam suas palavras geradoras do seu universo de exclusão social e davam nova qualidade aos conteúdos desenvolvidos. Aos poucos surgiam da discussão, novos significados para suas palavras. Para efeito de registro destaco as seguintes: vida favela, voto, bodega, comunidade, lixo, saúde, chuva, jogo, forró, escola, pobreza, máquina, dinheiro, enxada, eleição, transporte e trabalho.



A construção do diálogo era determinada pela mediação de instrumentos pedagógicos normalmente trabalhados em grupos. Como se tratavam de educandos em geral desprovidos de pouca ou qualquer informação do mundo letrado, utilizavam-se fragmentos desse universo para estimular seu processo de aprendizagem. Trabalhou-se com sucesso com varal de sílabas, cartazes, dramatizações, recortes de jornais e colagens e ao final produziu-se uma cartilha para o com textos e exercícios para uso individual.



A elaboração do roteiro de discussão diz muito do que o monitor estava pretendo aprofundar com os educandos e em certo sentido expressava o meio dos educandos, uma vida bastante precária.



“ Roteiro de discussão da palavra VIDA

- Que é vida?

- Qual seu meio de vida?

- O que é importante para melhorar sua vida?

- A vida é igual para todos?

- Como vocês vivem hoje?

- Você gosta da vida que leva?

- Quando a vida acaba para vocês?

- Quando a vida começa para você”(Relatório FBFF)



Um aspecto que percebi nesse tipo de grupo é que se deve estar atento ao perfil do grupo escolhido. Em geral, quando se juntam jovens e adultos a pessoas da terceira idade pode ocorrer algum choque de geração, podendo influir na dinâmica do grupo. Houve necessidade de reorientação dos monitores para que pudessem trabalhar a partir das particularidades.



Um processo muito interessante foi observar ao longo dessa experiência o nascimento de “novos cidadãos”. Muitos deles não só passaram a se envolver na própria associação, como assumiram os postos principais dessas diretorias. O diálogo abriu a porta da participação.







3.2.2 A Proposta da CUT



As exigências do mundo trabalho, que engendra aumento de produtividade e desemprego, colocou para organizações como a Central Única dos Trabalhadores(CUT) o desafio de mergulhar nessa empreitada educacional de caráter alternativo, associado a idéia de que isso faz parte de um Projeto de sociedade novo. O propósito da Central era arrojado, na medida que não se coloca apenas, na perspectiva de certificação educacional. O que propunha a CUT? Quais as dificuldades e desafios?



A perspectiva dos sindicalistas cutistas era:



“ articular a formação para o trabalho com a formação geral(com certificação em nível de Ensino Fundamental, Médio e Superior) e com a geração de alternativas de emprego e renda e a desenvolver uma experiência de formação para o trabalho, tendo como base uma concepção de educação que contribua na formação de um indivíduo criativo, crítico, solidário e com capacidade de intervenção nos processos sociais.(...)”(CUT, 2000, p.12)



Há uma compreensão inovadora nos objetivos da CUT, quando pretendia ir além da superfície do ensino técnico, de caráter exclusivamente profissionalizante. Os educadores de todas as matizes sabem o quanto é limitado e conservador a idéia de que o trabalhador só tem que apreender o funcionamento das máquinas, sendo desnecessário o entendimento do contexto sócio-econômico em que elas operam, e qual o sentido da produção e da sociedade em que elas atuam. Passo a relatar como se deu a experiência na área rural de Itapipoca.











3.2.3 O Assentamento Maceió–Itapipoca



Sistematizar essa experiência de educação popular é recorrer às condições em que ela foi criada e a forma como foi desenvolvida. É compreender os principais avanços e desafios encontrados na efetivação desse programa. Há muitos destaques a serem registrados, mas nenhum deles chega próximo ao da alegria de ver uma comunidade rural, se mobilizando para garantir aos seus moradores o direito a escola.



Isto fortalece a idéia de que a educação ainda simboliza um passaporte para o “mundo do saber”, e tem grande valor na elevação da auto-estima das pessoas. Demonstra, também, o quanto é verdadeira, a ausência de um projeto educacional que assegure o pleno desenvolvimento da cidadania.



Como educadora foi uma das mais importantes atividades que já participei, pois o universo de minhas outras experiências fora em sua grande maioria urbana. Senti, que seria uma vivência ricamente desafiadora, interagir com uma comunidade que tinha uma trajetória vitoriosa de luta pela terra e com avançada marca de solidariedade entre seus moradores.



Os desafios pedagógicos encontrados durante as aulas são a expressão de vários fatores. Algumas singularidades de todo processo influenciaram no próprio desempenho do grupo. Duas características foram marcantes: a heterogeneidade do grupo e alguns problemas estruturais que muitas vezes podem contribuir para evasão escolar.



Enquanto processo de aprendizagem foi viável cumprir da melhor forma possível os objetivos que nos foram definidos pela Escola Nordeste e pelo movimento sindical, de contribuir para a construção de um Projeto educacional que mude a face de nosso país.



Para efeito de ordenamento dessa experiência distribuirei meu relato nos seguintes níveis: integração entre educandos e a comunidade; troca de saberes e conteúdos trabalhados; diálogo e participação dos educandos;



3.2.4 Integração com os educandos e a comunidade



Quando iniciaram as aulas da Escola Geraldo Souza Pinto, em julho de 2000, tínhamos consciência de que um dos principais desafios a serem enfrentados, era sensibilizar a comunidade envolvida para a proposta educacional da CUT, pela importância que essa experiência poderia representar para o fortalecimento da luta que eles empreendiam há anos pela terra. Mais tarde isso se comprovou como verdadeiro, pois a participação dos moradores foi um dos fatores essenciais para assegurar o pleno funcionamento da sala de aula, pois além de dar estabilidade, contribui para exercer um forte incentivo aos educandos que passaram a valorizar melhor essa experiência. Muitos alunos continuaram procurando vagas durante o curso, motivados pela expectativa criada.

Nos primeiros contatos que tivemos com as lideranças do assentamento Maceió, percebemos a necessidade de esclarecer com muita ênfase o significado da educação popular, pois, como era de se esperar, o entendimento que eles tinham da sala de aula, era reflexo do modelo tradicional. Em certo sentido, isso era natural, pois a grande maioria não conhecia amiúde a proposta de educação popular.

Na montagem da infra-estrutura, tivemos ainda que superar um certo atraso no conhecimento da área de trabalho, decorrente do atraso na implantação do calendário da Central e o fato de ter que me deslocar todos os dias cerca de 200 km (ida e volta para Itapipoca) para poder estar na sala de aula.

Tomando como ponto de partida essas condicionantes do nosso trabalho investimos no conhecimento da história da comunidade, buscando articular os conteúdos que estávamos nos propondo a repassar e os saberes da comunidade. As primeiras aulas foram mediadas a partir da história de vida do grupo e do saber de cada um.



3.2.5 Troca de saberes e conteúdos trabalhados



Um dos momentos mais importantes no processo de aprendizagem se dá quando o educador reconhece nos educandos seu papel de Sujeito. Baseado nisso, realizamos uma troca saudável de conhecimentos, valorizando o saber que eles possuíam interagindo com as atividades da vida cotidiana da comunidade.

Verificamos que a formação do grupo era bastante heterogênea. Tendo pessoas semi-alfabetizadas;outras no supletivo e muitos que já haviam passado pelos bancos da escola formal. Isso não nos incomodou, apesar de sabermos das dificuldades que teríamos com o ritmo de uma turma heterogênea. Na verdade, o perfil do nosso aluno, é o retrato da evasão escolar e do modelo educacional que exclui grande contingente de pessoas.

As primeiras noções de história, geografia e matemática foram trabalhadas a partir do universo da comunidade. Com a elaboração de mapas sobre a área do assentamento, refletimos sobre o espaço físico e histórico em que se constitui o assentamento, onde há muitos anos moraram seus ancestrais e onde hoje, os descendentes, organizam sua sobrevivência.



A matemática foi discutida por meio da problematização de questões relativas aos itens produzidos em cada plantio, descrevendo a produção do assentamento, o valor dos rendimentos de cada um e a relação disso com o custo de vida do restante do país. Houve uma boa receptividade da turma frente a esse tipo de abordagem

Notamos uma certa limitação do grupo para compreender os textos dos cadernos de apoio. Parecia haver na quase totalidade dos alunos uma dificuldade no entendimento do que estava escrito. Isso me levou a encontrar outras pistas de trabalho. Tomei a iniciativa em alguns momentos de fazer leitura coletiva, trabalhando com muitas perguntas, buscando incentivar seus raciocínios e seus modos de pensar.

Para se ter idéia, na discussão de temas genéricos todos tinham opinião. Mas, quando se referia aos textos, era visível a forte limitação vocabular. Conclui que essas “barreiras”, só poderiam ser superadas, por um maior volume de leitura e uma ampla solidariedade do grupo.

Esse processo foi muito interessante, pois, despertou a solidariedade de parte dos educandos com os outros colegas, desencadeando um desejo de que todos deveriam caminhar e se desenvolver. O fato é que esse clima abriu caminho para uma ótima interação com a turma.







3.2.6 Diálogo e Participação dos educandos



O processo de aprendizagem é cada vez mais relevante, quando reconhecemos que através do diálogo, podemos colocar o educando diante de novas experiências sócio-culturais, que são fundamentais para a sua formação, sendo de grande importância para a dinâmica das aulas. Entre as atividades que realizamos e que contamos com a presença de outros educadores e lideranças sindicais, destacam-se: o Laboratório Pedagógico sobre Sindicalismo e a Oficina Pedagógica com o tema: “Cidadania e Corrupção”. O resultado dessas iniciativas é que elas enriquecem o conteúdo que estamos discutindo e possibilita uma elevação da consciência crítica dos participantes.



Nessa experiência teve um episódio que expressa muita bem a singularidade dessa participação dos educandos. No período eleitoral recente, houve uma grande inquietação do grupo para participar de um debate entre os candidatos a prefeitura de Itapipoca. Considerando a importância que isso poderia ter para as nossas discussões, concordamos em ir ao debate. Tivemos que fazer uma flexão na programação de trabalho que estava previsto, pois o apelo das eleições se transformara num forte tema concorrente.



Depois identificamos que a empolgação dos meus alunos fazia parte da consciência política da própria comunidade. Nossos educandos possuíam também uma certa visão crítica do processo eleitoral, sabendo, pois, distinguir entre as candidaturas vinculadas as elites da cidade e a dos trabalhadores. Também acho que influenciou positivamente o fato da única vereadora da esquerda de Itapipoca ser eleita com os votos da área do Assentamento.



Entretanto, foi muito importante discutir a razão do voto da quase totalidade dos meus alunos. A grande maioria escolheu o advogado-candidato para votar porque conhecia a longa historia de compromisso dele com a luta do assentamento. Isso nos possibilitou fazer um importante gancho com o desejo de participação do grupo e sua percepção dos fenômenos sociais e políticos importante para eles.



Nessa mesma perspectiva realizamos uma Oficina sobre Política Públicas, que deu uma boa visão para nossos alunos do valor de uma administração transparente com políticas voltadas para a população. Nessa mesma linha foi muito interessante a realização da aula passeio na praia da Baleia, no município de Itapipoca, conhecida por ser uma região de três climas: sertão, serra, mar. O importante é que nossos alunos tomaram conhecimento da história de Itapipoca e suas diversas lendas.



Trabalhamos com sucesso a questão ambiental, buscando desenvolver a reciclagem de materiais que poderiam ser utilizados por eles e por suas famílias nas festas do final de ano. Creio que nesses meses houve uma grande evolução dos nossos educandos, um enorme interesse pelo aprendizado e uma enorme vontade de dar continuidade à Escola que reativamos em uns e acendemos em outros.



















4. A Experiência da EJA no Bairro Serviluz



Desde 2001 como professora do município de Fortaleza, percebo cada vez mais a oralidade na sala de aula como algo mais qualificado, como uma atividade determinante para a aprendizagem. O trabalho feito nas salas de EJA permite transformar a tradicional oralidade em momentos de afirmação do diálogo, na criatividade na apresentação do conteúdo e a interação com a realidade de cada educando.



Nos momentos de roda de conversa discutimos temas fundamentais do seu bairro, o Serviluz, tais como a violência, o impacto da duna móvel que leva areia para dentro das casas das pessoas, o referendo sobre o desarmamento, o significado da eleição do atual presidente, a questão d água no planeta, e outros assuntos de suas realidades.



O conjunto dessas discussões pode ser sintetizado no âmbito afetivo, social e cognitivo. Na questão afetiva e social temos o fortalecimento dos laços de amizade e solidariedade e convivência, a possibilidade do aluno ser acolhido pelo grupo quando enfrentam problemas pessoais. E os idosos cuidam dos mais novos e ajudam nas atividades de aprendizagem, atividades fraternais concretas.

O espaço livre do diálogo contribui para perder o medo de falar e fortalece a auto-confiança. A conversa sobre a cultura de cada um melhora a auto-estima do adulto e fortalecem o cuidado com a educação das crianças, tanto as crianças de cada um, como também as de toda a comunidade. Estes momentos contribuem na luta por seus direitos e percepção de seus deveres.



Nesse aspecto realizam-se alguns avanços e a comunidade obtém vitórias dentro da Escola, tais como: a conquista de bebedouros na parte das salas de aula, lanche à noite e diálogo constante dos alunos com o núcleo gestor da Escola. Em outros momentos chegam a fazer manifestação no bairro para exigir que governantes cuidem das dunas e da sua segurança.



Para essas situações é fundamental a postura do educador. Como aproveitar esse manancial de questões locais para estimular a aprendizagem? Pois uma vez estimulados esse lado ativo do aluno vai se estender a todas a situações, inclusive a forma de encarar criticamente o mundo.



É possível identificar algumas características desse processo: a possibilidade de reconhecer a fala como um dos principais instrumentos para transmitir a cultura e a história de um povo. O estimulo as várias lideranças políticas, poetas, artistas de um modo geral, que tem apenas a fala como veículo de sua arte.



Nos momentos de diálogo é possível desenvolver a capacidade de saber escutar, tanto no respeito aos colegas, como para receber o saber do outro. Os alunos poderão também expor suas idéias, confrontar seu saber e construir seu conhecimento. Algumas atividades, feitas nos mais diversos níveis de escolarização, ajuda a gerar ou encaminhar o diálogo com alunos com dificuldades de se perceberem sujeito construtores de sua aprendizagem. Dialogar com o conteúdo para perceber a validade dele para sua vida.



A formulação de perguntas que exijam do educando correlação da sua vivência, entendimento e conteúdos estudados criam situações de debates onde podemos trabalhar diversos temas e abordagens, trabalhando com eles a partir de alguns instrumentos, tais como: apresentação de poesias, dramatização, conversas geradas a partir de leitura de jornais, revistas ou livros, trabalho com músicas e poesias de poetas como Luiz Gonzaga e Patativa do Assaré, onde são percebidos as diferentes linguagens e o debate sobre a religião de forma ampla para que não desvalorize nenhuma opção religiosa presente em sala (o mesmo vale para a questão étnica, meio ambiente etc.)

























































5. Metodologia



Para chegar a esses dados de pesquisa foi necessário viver o que foi relatado aqui, entrando no “trem” da educação popular e encontrar a possibilidade de ver a educação se refazendo a partir daqueles que mais precisam dela.



Desde os primeiros tempos no trabalho com a educação popular fui acumulando historias, conhecimentos e amigos. Posso dizer que fiz uma trajetória completa, inicialmente nos movimentos sociais trabalhando de forma teórica como capacitadora, supervisora e coordenadora de projeto, para depois trabalhar desde 2000 na sala de aula na Escola Pública e puder ter a oportunidade de comparar as experiências.



Essa variedade de papéis me forneceu varias lentes para olhar a educação de jovens e adultos além da educação especial e o trabalho com crianças. Como essa pesquisa foi vivida, nos encontramos algumas vezes comemorando vitórias com os alunos chorando com adolescentes presos, comendo camarão e lagosta trazidos por pescadores, viajando de moto-táxi, indo a uma festa pau-de-arara, comendo pipoca doce com os alunos na praia de Iracema, recebendo bilhetes e presentes de quem estar no presídio, visitando alunos doentes recebendo solidariedade nos meus problemas de saúde. Uma história de vida que se refaz na história do outro.



Consegui chegar até aqui por meio de vasta rede de trocas entre experiências. Realizei entrevistas com professores, educandos, ex-educandos e profissionais da educação. Tive a oportunidade de analisar documentos teóricos e dos movimentos sociais onde bebi a narrativa de suas experiências. Vi cadernos e revi minhas anotações e os relatórios de viagem e de pesquisa para organizar as idéias que exponho nesse trabalho.



Por ser uma reflexão a partir de minha experiência fiz um recorte o mais próximo possível daquilo que senti e que na minha percepção do que poderia contribuir para o entendimento de que a Escola Pública tem todas as possibilidades de dá conta da tarefa de colocar todos os brasileiros no mesmo patamar de aprendizado.

















































6. Conclusões



O diálogo e a cidadania se encontram com êxito nas experiências aqui relatadas. A primeira manifestação disso é a mudança de referencial colocado para os educandos, que passam a ver a Escola além do espaço físico existente e de seu corpo de professores. A segunda é a eficácia do diálogo numa perspectiva libertadora como instrumento de formação da cidadania.



O diálogo assume importância central e pode contemplar tanto a troca de saber de cada pessoa, bem como os saberes do grupo. Isto como um lugar de aprendizado, de um saber histórico acumulado, que jogará um grande papel na formação de indivíduos que intervenham em toda sociedade, de forma esperançosa e positiva.



A cidadania pode ser construída a partir da formação humana renovada que se materializa na ampla possibilidade que o educando passa a ter quando está diante de sua realidade. O fato de encontrar novas palavras e seus novos códigos derivados de suas próprias palavras e experiências permitem que consiga realizar uma leitura do mundo com um valor mais próximo dos seus interesses. Há um saldo muito positivo nessas experiências da incorporação de seus integrantes na vida ativas de suas comunidades.



A educação bancária pode ser superada quando o educando assume a palavra e a devolve ao professor na forma de crítica e questionamento. É possível a gestação de uma nova modalidade de educação que privilegie o saber crítico e a conquista da liberdade frente ao autoritarismo da escola tradicional.



O olhar de Paulo Freire sobre a sociedade comprova-se em todas experiências, afirmando os educandos como seres de cultura e não pessoas vazias sem saber nenhum, ainda que existam lacunas e limites apontados na implementação de sua teoria como a rapidez da alfabetização; a necessidade de continuidade da alfabetização; uma visão mais completa da alfabetização que vai desde a leitura da palavra até a compreensão e produção de textos mais complexos; a matemática como um outro código a ser desenvolvido e o trabalho com os conteúdos críticos.



Uma outra questão importante é a contribuição efetiva que a educação de Jovens e Adultos possibilita dá para o avanço da Escola Pública, fortalecendo a qualidade da educação, o respeito aos direitos dos professores, os conteúdos estudados, a qualidade do livro didático e a educação como instrumento de conscientização.



Não quero aqui discorrer algo que não possa não dar conta nessa pesquisa, mas fazer esse diálogo com professor é algo fundamental para elevar auto-estima de todos, formando pessoas aptos a viver a plenitude de seus direitos e deveres na sociedade. Segundo Libâneo:



“... há muitas tarefas pela frente, entre elas, a de resgatar a profissionalidade do professor, redefinir as características da profissão, fortalecer as lutas sindicais por salários dignos e condições de trabalho. É preciso, junto com isso, ampliar o leque de ação dos sindicatos envolvendo também a luta por uma formação de qualidade, por uma cultura do profissionalismo, de modo que a profissão ganhe mais credibilidade e dignidade profissional. É preciso, também, uma ligação maior da formação que se realiza na faculdade com a prática das escolas, trazendo os professores em exercício para a universidade, para a discussão de problemas comuns”.(Adeus professor, adeus professora? – José Carlos Libâneo)









7. Bibliografia



BRANDÃO, Carlos Rodrigues. O que é o método Paulo Freire. 13ª ed, São Paulo: Braziliense, 1987.



CUT, Escola de formação sindical do nordeste da. Educação de jovens e adultos, Edições Bagaço, Recife, 2000.



FREIRE, Paulo.Pedagogia do oprimido, 13ª edição. Rio de Janeiro, Paz e terra, 1983.



LIBÂNEO, José Carlos. Democratização da Escola: A Pedagogia Crítica -social dos Conteúdos. Edições Loyola.2001.

_____ .Adeus Professor, Adeus Professora? novas exigências educacionais e profissão docente. 5ª edição. São Paulo. Cortês. 1998.

RIBEIRO, Vera Maria Masagão (coordenação).Educação de jovens e adultos, Proposta curricular para o 1º segmento do ensino fundamental, São Paulo. Editora Ação Educativa.1998.



SAVIANI, Dermeval. A Nova Lei da Educação/LDB:Trajetórias: limites e Perspectivas. 6ª ed. Campinas/São Paulo. Editora Autores associados.1997.



SOUZA, João Francisco de. A educação escolar, nosso fazer maior, des(a)fia o nosso saber. Educação de jovens e adultos, NUPEP, 1999.



STRECK, Danilo Romeu (organizador).Paulo Freire: ética, utopia e educação.Petrópolis, RJ: Vozes, 1999.







A presnete monografia foi orientada pelo professor Vicente Martins(UVA), em Sobral, CE. E-mail: vicente.martins@uol.com.br

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