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Artigos-->OMISSÃO DISFARÇADA -- 19/09/2006 - 22:29 (Délcio Vieira Salomon) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
OMISSÃO DISFARÇADA



Délcio Vieira Salomon





Entre tantas lições políticas e de vida que as eleições para a Presidência da Câmara dos Deputados e do Senado nos proporcionaram, uma não pode ser jogada ao esquecimento. Muito menos na lata de lixo.



Foi-nos dada justamente por quem mais tinha interesse nesse pleito: FHC. Mas para captá-la é preciso começar desde o início. Desde muito antes dessas eleições. Desde 1994, quando FHC se candidatou à presidência da República.



Não se elegeria – todos o sabemos – somente com o Plano Real. Por mais que aparentasse ser seu “genial” inventor. Tudo começa com essa mentira. Seu verdadeiro autor foi Edmar Bacha, assessorado por André Lara Resende, Francisco Lopes, Pedro Malan e Winston Frisch. Mas isso ficou escondido e só revelado mais tarde no livro “O presidente segundo o sociólogo” – entrevista ao Jornalista Roberto Pompeu de Toledo (p.67-9) (*).



Naquele momento apresentar-se como o criador do Plano Real foi fruto de ousadia e muita cara de pau. Coisa, aliás, que nunca lhe faltou.



Entretanto o motivo principal é outro. Para implantá-lo exigia-se alta reserva monetária. E o país não tinha. Naquele momento o FMI não apoiou o plano (idem, ibidem, p.71).



Para alcançar o desiderato havia duas alternativas. A primeira seria através de pacto com especuladores e “doleiros” internacionais. Hipótese logo descartada. Impossível descurar que o episódio ocorrido com Collor estava muito vivo na memória de todos. Restou a segunda, fazer as coisas “na calada da noite”, sem o presidente Itamar saber, mesmo que isso significasse crime de felonia. E foi cometido com a audácia de um Maquiavel. A ponto de cinicamente ser confessado na mesma “autobiografia” em forma de entrevista (idem, ibidem, p. 74).



Então, o que se quer dizer é que FHC não ganhou as eleições simplesmente por causa do Plano Real. Precisou fazer uma aliança política forte e se vender à mídia capitaneada pela Rede Globo.



Em o fazendo, vendeu a alma ao diabo. Pisoteou sobre sua biografia e renegou tudo que pregou e escreveu no passado. Fez a aliança com o PFL, ou seja com o segmento político mais reacionário deste país - a “escória da ditadura de 64-85”. E nesta aliança fez pacto com a figura mais sinistra da política nacional, ACM.



Agora chegamos ao ponto com que iniciamos nossa reflexão. A da lição dada por FHC no episódio das eleições à Presidência da Câmara Federal e à do Senado.



Diante da briga de baixo nível entre ACM e Jader Barbalho, FHC aparentou ficar de fora. Na verdade gostou do entrevero e torceu para o segundo. Em moral e política os dois se equivalem e se nivelam abaixo da linha do tolerável.



Alguém poderia perguntar: - se FHC é o que aparenta ser (honesto e político hábil – o que hoje já começa a provocar dúvida), por que não trabalhou muito antes de eclodir a baixaria, para conseguir o que todos almejamos, a eleição de um nome acima de qualquer suspeita para colocar o Congresso como instituição respeitada? Óbvio: se pudesse e quisesse, o conseguiria.



Mas como não tinha moral para querer, por força da própria aliança, acabou não podendo. Preferiu se omitir. Lavar as mãos. No fundo sua obsessão era livrar-se da sombra de ACM.



Arrependimento tardio. Livrando-se de ACM, pensou (e continua pensando), chegaria a oportunidade de refazer sua imagem, recompor sua biografia. Mal sabe que da sombra de ACM, como da sombra do demônio, como da sombra do abutre ou do corvo de Poe, uma vez celebrado o pacto, ninguém mais se livra. Never! Nunca mais! ...



Além de não livrar-se, acabou caindo nos braços, ou melhor, nas garras da hiena, que lhe vai ser Jader Barbalho. Não sei qual o pior colo para se deitar.



E tudo para salvar mais uma vez as aparências. Gesto digno de quem sabe disfarçar a omissão.



FHC começa a viver, a partir de agora, a fase de agudização do conflito entre a governabilidade real e a governabilidade aparente. Para seu triste consolo uma coisa é certa: ACM não mais governa, de fato, o país como até há pouco se dizia.



Mas terá FHC a capacidade, a força da superação desse conflito? Teria, se não tivesse abandonado seu passado dialético. Esta, a dura lição a ser tirada. Por ele, como agente do processo e, por nós, como espectadores.



A omissão disfarçada paga preço mais caro que o erro cometido sem disfarce. Parafraseando as Escrituras Sagradas, quem age contra e às escondidas, acaba fazendo do inimigo a sombra que o persegue, a vida inteira. Daqui para frente seu discurso manifesto não conseguirá mais ocultar o discurso latente, o verdadeiro, que só a História revela.

___________________

(*)Curiosa e lamentavelmente FHC parece gostar de atribuir a si autoria alheia. Haja vista a teoria da dependência elaborada na CEPAL - Chile, cujo principal autor era o Faletto.
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