O Brasil é um país extremamente paradoxal. É de esquerda na política social e de direita na política econômica. O comando do país, seja qual for o naipe ideológico e salvo raras exceções, não consegue se desenredar da miudez do troca-troca, do é dando que se recebe e, pour cause, da corrupção.
As oposições, independentemente da cor filosófico-política, defendem ardorosamente a questão social, cobram moralidade, dificultam a aprovação das medidas oficiais e mantêm o estilingue armado na direção dos governantes.
A própria constituição federal, dita cidadã, é uma carta-magna paradoxal, quando abriga uma benevolência social própria dos modelos estatizantes que foram soterrados nos escombros do Muro de Berlim, ao mesmo tempo em que assegura a execução de uma política econômica ortodoxa, neoliberal, de mercado desamarrado da burocracia estatal, permitindo o acúmulo de riquezas nas mãos de poucos, em detrimento de uma expressiva massa de desassistidos, excluídos do banquete de iguarias refinadas.
Com um gordo PIB de R$ 1,2 trilhões, sendo a 12ª economia mundial, com renda per capita anual de R$ 6.000,00, poderia ser um país com renda considerada razoável se realmente as pessoas percebessem este valor.
Ocorre que, já com aproximadamente 200 milhões de habitantes, há 50 milhões de brasileiros sem ou quase sem renda; há 50 milhões com renda para mera sobrevivência; há mais 50 milhões com alguma renda que dá para viver, pobre, mas, pelo menos, morando e comendo; 45 milhões representam o mercado consumidor que sustenta a economia e dá suporte ao modelo, no qual ninguém quer mexer; por fim, há o restante, em torno de 5 milhões que são donos do PIB, do capital, do maior volume das riquezas.
Com tanta desigualdade e em meio aos paradoxos, mesmo assim, esperava-se que a nova estrela que iluminou as eleições de 2004 começasse a clarear mais as coisas e desse o primeiro impulso para reversão desse quadro negro.
Mas, que decepção!
Pra não desmentir o paradoxo, a antiga oposição guardou o estilingue e se expôs na vidraça, de forma escancarada, levando os ex-governistas, antes envidraçados, a armarem os estilingues e mandarem pedras bem no centro da estrela, outrora carismática, hoje esfacelando-se no paradoxo da facção que entrou em tremenda crise de identidade.
Resultado.
O poder nacional está vendo a coisa preta, enquanto isso deu um “branco” no seu condutor, que a essa altura não viu, não soube, não sabe e não lembra de nada.
Aliás, tem petista que já não se lembra mais nem onde é a sede do PT nacional.
E haja paradoxo!
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