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Artigos-->EM DEFESA DA DIALÉTICA -- 09/09/2006 - 19:05 (Délcio Vieira Salomon) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
EM DEFESA DA DIALÉTICA

(escrito em 2.000)



Délcio Vieira Salomon





Há pouco tempo, por ter afirmado em sala de aula, num curso de Metodologia da Pesquisa Científica, para a pós-graduação, que a dialética, enquanto método e lógica já assumiu o papel de condutora do pensamento científico contemporâneo nas ciências humanas e sociais, ouvi de um desses alunos, inquietos intelectualmente e com certa bagagem de leitura: - professor, é difícil concordar com o senhor, uma vez que estamos vivendo a morte da história e a derrocada do pensamento e da filosofia marxistas que fizeram da dialética seu método de conhecer a realidade e de transformar o mundo. Respondi-lhe lendo nota de pé-de-página dos originais de meu livro "A maravilhosa incerteza", agora já editado com lançamento daqui a alguns dias em BH e que passo a reproduzir:



“A estranheza é típica de quem julga realmente que, por causa da derrota do socialismo científico na ex-União Soviética, a queda do Muro de Berlim e as mudanças políticas radicais na China, foi a dialética banida do estatuto das ciências humanas e sociais. No meu entender faz-se aqui ilação a partir de fatos históricos com o objetivo de sustentar grande falácia. Independente do que está ocorrendo no mundo contemporâneo, em termos sobretudo de neoliberalismo e globalização, onde o enfoque e as preocupações enfatizam apenas aspectos econômicos, com destaque para o monetarismo e o especulativismo, sob a enganosa defesa do mercado livre, o acompanhamento de todos os movimentos identificados como políticos e sociais possibilita-nos considerar que a visão dialética da realidade (a mesma que embasou o marxismo) impregnou de tal forma as ciências e as pesquisas sociais que é impossível negar ser o pensamento contemporâneo eminentemente problematizador. Ninguém pode negar que isso se deve à dialética, desde Hegel é verdade, mas, sobretudo, a partir da contribuição de Marx, ao inverter o processo dialético idealista de Hegel e transformá-lo em processo dialético - materialista - histórico. Com o objetivo não só de compreender e explicar o social, como, sobretudo, de intervir na sociedade para transformá-la”.1



Constitui a maior sandice de nossos dias afirmar que a história morreu, que a dialética morreu, porque foram liquidadas pelo “triunfo” do capitalismo travestido de neoliberalismo! Leandro Konder, propondo estudar o porquê do ‘fracasso’ dos movimentos de esquerda no Brasil, quase todos originados no marxismo e por ele sempre alimentados, concluiu, em sua tese de doutorado, com afirmação que pode ser aplicada aos movimentos de esquerda no mundo inteiro: “Por dura que seja, no entanto, uma derrota é apenas uma derrota: não é a morte. E as derrotas da dialética podem sempre vir a ser, dialeticamente, aproveitadas pelos dialéticos. Walter Benjamim já escreveu, uma vez, que a vitória pode engendrar facilmente uma ideologia triunfalista que entorpece o espírito autocrítico e leva o pensamento a se instalar num carro blindado. A derrota, ao contrário, nos desafia a nos revitalizarmos e pode nos dar uma preciosa ocasião para nos renovarmos; com a derrota podemos aprender todas as fintas da ascensão e podemos nos banhar na vergonha como no sangue de um dragão”2. Prefiro mil vezes o epíteto de demodé, por sustentar a vitalidade e eficácia da dialética e a visão marxista do processo histórico para interpretar a realidade e entender os fatos sociais, a aderir (como tantos fizeram, inclusive os marxistas arrepen-didos) ao ecletismo ideológico e político, sobretudo este que impregna a falsa social-democracia de certos políticos.

E por falar neste tipo de ecletismo, a que se recorre por oportunismo, nos dias atuais, vale lembrar Lefebvre, também citado em meu texto: “Essa idéia do compromisso eclético impeliu politicamente a democracia para a crise que iria causar sua perda. A esperança de compromisso entre o fascismo e a democracia – com intenção de misturar certos aspectos do fascismo com certos princípios da democracia - foi, no plano ideológico e filosófico uma razão da não resistência à Alemanha hitlerista por parte de muitos democratas amantes do ecletismo político”(Lógica formal/lógica dialética, 1975, p.229).

Mutatis mutandis, estas palavras servem de reflexão quando deparamos com este ecletismo ideológico e político no poder, na conjuntura atual brasileira (“socialismo” com social-democracia com neoliberalismo!). Se os ecléticos franceses se entregaram ao fascismo, os nossos ecléticos tupiniquins estão nos entregando de corpo e alma à hegemonia norte-americana. Entrega por entrega, não sei qual a pior!

_______________



1 SALOMON, Délcio Vieira. A maravilhosa incerteza. São Paulo : Martins Fontes, 2000, p. 154



2 KONDER, Leandro. A derrota da dialética: a recepção das idéias de Marx, no Brasil até o começo dos anos 30. São Paulo : Campus, 1988, , p. 206-7.













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