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Artigos-->PESQUISA DE OPINIÃO -- 07/09/2006 - 23:15 (Délcio Vieira Salomon) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
PESQUISA DE OPINIÃO



Délcio Vieira Salomon





O Vox Populi acaba de publicar nos jornais resultado de pesquisa em que mostra ter diminuído de 15 % a rejeição a FHC. Todos os que acompanham o noticiário dos jornais terão estranhado tal notícia, logo após estourar o escândalo EJ. Cony em sua magistral coluna na Folha de S. Paulo já criticou violentamente a pesquisa, justo por ser “encomendada” pelo governo, via CNT. Cita, inclusive, outro jornalista e especialista em análise de pesquisa – Pedro Couto: “a pesquisa realizada pelo Vox Populi – Confederação Nacional dos Transportes não tem precisão. Num espaço de tempo de 30 dias, data do levantamento anterior, não houve qualquer fato concreto capaz de ter reduzido o índice negativo do presidente de 59% para 44%”. Pelo contrário, acrescentamos nós.

Como faz parte do projeto de marketing do governo federal a estratégia “milionária” de alavancar a imagem de FHC com todos os meios, inclusive “encomendando” pesquisas de opinião (conforme há dias denunciou Jânio de Freitas em sua coluna na Folha de São Paulo), o fato merece reflexão.

Todos temos memória do que ocorreu entre maio e julho de 1998, quando da reeleição presidencial: a preferência pro FHC deu um salto assustador, ultrapassando de repente Lula, quando todos os fatos indicavam o contrário.

Mais uma vez o assunto “pesquisa de opinião” é convite à problematização. Sobretudo, agora, em clima de eleições municipais. Será que as pesquisas de opinião são confiáveis? Até que ponto “encomenda de pesquisa” significa “compra de resultado”? É possível que, independente da lisura do processo de pesquisa, seus resultados sejam manipulados, a fim de influenciar a opinião pública? Fiquemos apenas nestas três interrogações.

Negar, em tese ou teoricamente, a “cientificidade” à pesquisa de opinião, ao método do “survey”, seria um contra-senso. Sobretudo para quem, como este escriba, professor de metodologia da pesquisa em ciências sociais e que se tornou livre-docente com tese nesta área.

O problema não está no método ou no instrumento de pesquisa. Está quase sempre no “técnico” que o utiliza e nos coletadores de dados e suas entrevistas. Está particularmente no viés facilmente cometido, quando se passa da teoria da amostragem para a prática da escolha da amostra – de seu volume e de suas características. Creio que, dos métodos de pesquisa, o estatístico é o mais acessível à manipulação. É fácil mentir com os números...

Curiosamente, os resultados das pesquisas são publicados nos jornais de maneira truncada. Como o público alvo destas pesquisas é justamente o leigo (ou seja o leitor comum, que lendo tais resultados os transmite a outros iguais a ele, também leigos, e assim vai se formando a cadeia que constitui a “opinião pública”), a informação captada e retransmitida acaba sendo a da “manchete” do anúncio da pesquisa e neste contexto consegue-se até a peripécia de transformar o “dado” em argumento e este em convencimento...

Nem todos os jornais, infelizmente, têm uma assessoria técnica para analisar toda pesquisa que lhes chega em forma de relatório sucinto. Houvesse tal assessoria constituída de especialistas em metodologia da pesquisa social e em estatística, sobretudo em teoria da amostragem, a informação não seria passada para o público, independente de ser ela correta ou manipulada, distorcida e até perniciosamente falsa.

Apenas pequeno detalhe que existe por trás de tantas informações deturpadas em tais pesquisas: o universo pesquisado. Quase sempre é estatisticamente infinito (mais de cem mil indivíduos). O tamanho da amostra neste caso deveria levar em conta o intervalo de confiança, o grau de probabilidade da presença da característica a pesquisar e a estimativa de erro (em geral, nos “surveys”, o máximo admissível são 6%). Tudo isso, naturalmente, supõe a hipótese de se trabalhar com amostra aleatória simples, pois, se for estratificada ou por conglomerado, as coisas complicam mais ainda.

Apesar de estarmos falando superficialmente, é possível enfatizar quão delicada é uma inferência estatística. Por falta de espaço e diante da suposição de que a maioria das informações técnicas seria inacessível ao grande público, o relato de tais pesquisas as omite. Aí é que mora o perigo da falácia e da manipulação.Quando isso acontece, tem razão Roberto Campos: “Tais pesquisas são como o biquíni. Mostram tudo, mas escondem o principal”.

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