A campanha pela reeleição de FHC está nas ruas a todo vapor. Neste último domingo os leitores dos matutinos devem ter ficado surpresos com páginas e páginas de publicidade do presidente mostrando obras de que nunca se teve notícia. Até artigo e entrevista do próprio. Tudo com o propósito de passar a existência de uma administração eficaz, porém virtual, na tentativa de ofuscar a realidade. A pretexto de um projeto de ‘marketing’ político - Brasil em Ação - tudo está sendo permitido ao dono do poder. Inclusive, cinismo, empáfia, demagogia.
Se a “moda Mike Tyson” pegar e for aproveitada, como sói acontecer aos oportunistas e aos marqueteiros de plantão, não sobrará orelha para Lula, Maluf, Quércia, Brizola, Enéias, Itamar, Hélio Garcia, Ciro Gomes, Tarso Genro, Requião, Lerner e outros cogitáveis, quer sejam adversários de fato e de direito, quer sejam críticos do governo, quer apenas seus oponentes ou simplesmente candidatos potenciais. Talvez arrancar com dentada pedaço da orelha seja pouco. Não preferirá cortar-lhes a língua?
Nosso governante pode ser um “falso intelectual” (como o definiu Leonardo Boff) ou um “um político acima do próprio partido e sem compromisso com sua bandeira”(como tem mostrado Ciro Gomes), mas inegavelmente é o “presidente que age com um cinismo impensável no seu perfil anterior”(conforme acaba de nos revelar Raymundo Faoro). Em nome desse cinismo, tudo é válido. Inclusive negar denúncias e mentir. Tal qual a propaganda nazista: mentir, mentir, que de tanto repetir a mentira, esta acaba virando verdade.
Em 94, em cima do Real, FHC ergueu a mão e apontou os cinco dedos das cinco metas. Hoje a mão já não tem mais dedos. Cada dedo foi decepado ao introduzir-lhe ‘alianças’ de uma sucessão de casamentos espúrios: PFL, ACM, filhotes da ditadura militar, banqueiros caloteiros, Maluf ... (seria evocar “ad nauseam” tantas feitas no afã de construir desenfreada poligamia política). Foi-se o primeiro dedo - o da saúde - por-que esta piorou como jamais se registrou nos ambulatórios. Do segundo - o da educação - ficou apenas um toco. Basta olhar a crise das universidades federais, o abandono do ensino público, a falácia da “qualidade” do ensino particular revelada pelo provão do MEC. O do emprego deixou de simbolizar prioridade diante da onda nunca vista de desemprego. O da agricultura começou sendo o indicador para se transformar em mindinho e acabar também degolado pelas tentativas mais arbitrárias de sufocar o MST e escamotear a reforma agrária. E o dedo da segurança? A violência no campo e na cidade, agravada durante seu governo, acabou por devorar-lhe este último artelho erguido...
Dizem os maliciosos que o “príncipe dos sociólogos brasileiros”, por causa de seu passado de intelectual “marxista” (na realidade pseudo-marxista), à época da campanha de 94 teria erguido a mão esquerda e que nesta de 98 ergueria a mão direita. Tudo indica que desta vez só tem um dedo em riste a levantar: o do plano Real .
Mas aí sua campanha/98 se identificará com a da Brahma - a n º 1. E será que não vai ser processado, por roubar imagem e logotipo de marketing?... Ou quem sabe: - em troca da privatização da Petrobrás, estatizará a própria Brahma? Cuidemo-nos os amantes da deliciosa “lourinha”!
