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Artigos-->A DERROCADA DE UM MITO -- 05/09/2006 - 21:31 (Délcio Vieira Salomon) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
A DERROCADA DE UM MITO



Délcio Vieira Salomon



“ele é mais que um produto (da mídia), ele é um monstro, o monstro que a teratologia não consegue decifrar”

(Antônio Lancetti)





No centro desse maremoto político e social que abala o país está o presidente da República. Infelizmente comporta-se como o último abencerrage: inabalável, imune e lavando as mãos a la Pilatos. Por isso sou levado a parodiar Fernando Pessoa: “Lula (tal qual o poeta) é um fingidor/ Finge tão completamente/ Que chega a fingir que não é com ele/ O abalo que o país deveras sente”.



É triste ter que dizer isso, mas é o que se pode pensar diante dos pronunciamentos e das atitudes do presidente. Depois da entrevista de Paris, justificativa da corrupção, (não retratada) e do pronunciamento inodoro e insosso da “desculpa”, só podemos lavrar essa dedução. Leva-nos, pois, a inferir que não foi traído, apenas finge ter sido traído. Se de fato o fosse, já teria tomado atitude drástica, que a crise, por ser gravíssima, exige.



Alguns analistas tentam explicar até psicanaliticamente o que ocorre, tomando como ponto de partida o papel da vítima diante de traição, de conspiração ou da revolta das elites contra o sucesso de um semi-analfabeto e rude emigrante nordestino, ao chegar ao mais alto posto na sociedade brasileira. Antonio Lancetti, por exemplo, elabora a “teoria do refluxo” para explicar a atual crise. Enquanto há um refluxo da luta social no mundo, Lula seria a esperança de retomá-la e capitaneá-la. Mas, ao invés de seguir uma política de esquerda, de questionamento da dívida, de distribuição de renda , de revolução na saúde e de aumento e organização dos poderes populares, preferiu aderir ao ideário neoliberal e por isso deu no que deu. Segundo Lancetti, àquela época de tomada do poder foi dito a Lula que “o apressado come cru”. Mas, hoje, conclui o psiquiatra diante da lerdeza de Lula em agir: “estamos prestes a constatar que o demorado come podre”.



Concordo em quase tudo com essa análise. Tomando, entretanto, como referencial a realidade que estamos vivendo e tentando ser “olhos e ouvidos” do povo com que me identifico, gostaria de contrapor pequeno detalhe: A meu ver, Lula, até certo momento, encarnou o “rebelde primitivo” tão bem estudado por Hobsbawn. Tornou-se ídolo e mito social. Teve seu momento culminante de transfiguração mítica como condutor de massa, à véspera da votação do segundo turno, quando a fala de Regina Duarte contrapôs para todos nós, o medo à esperança. Em oposição a sua fala, se levantou o brado: “a esperança vencerá o temor”. Lula era a encarnação da esperança.



Se hoje considerarmos Lula vítima e não um dos responsáveis pelo tsumani da corrupção, havemos de concordar que ele não pode ser vítima nem das elites, nem da traição de correligionários seus, mas vítima de si mesmo. De sua demagogia e de sua incompetência. Teve, no mínimo, 25 anos para se preparar para ser presidente (inclusive intelectualmente e através do exercício da praxis autenticamente política), mas preferiu continuar vivendo o papel do eterno líder sindical. Basta reparar em suas reações diante de qualquer desafio. Recorre de imediato às arengas assembleistas, aos rompantes de palanque, como se povo para ele fosse simplesmente uma claque previamente arregimentada para o aplauso e não a nação a ser governada e/ou conduzida.



Lamentavelmente a imagem da vítima de si mesmo identifica-se hoje com a do mito ou do ídolo derrocado.

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