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Roteiro_de_Filme_ou_Novela-->Fino Trato - Quarto Tratamento -- 28/09/2002 - 13:00 (Jefferson Cassiano) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
FINO TRATO
Roteiro Curta Metragem
por Jefferson Cassiano
2002

Baseado no conto
O TRATO
de Toni Deléo
1997



Quarto Tratamento
(15 minutos)


Total de Seqüências: 11
Total de Laudas: 17


SINOPSE

O casamento feliz e recente de MARINA e TALES termina com a morte de TALES num acidente de carro. MARINA está tentando se recuperar da tragédia quando passa por uma experiência surreal: seu apartamento, no décimo quinto andar, é invadido por dois assaltantes muito especiais. Tocados pela história de MARINA, os assaltantes fazem um trato com ela: em troca de seu silêncio, nunca mais voltariam a incomoda-la. Como garantia, a dupla pede a carteira de identidade de MARINA, assumindo o compromisso de envia-la pelo correio depois de alguns dias.


FINO TRATO
FADE IN

ABERTURA

Super close de um copo de vidro com pedras de gelo em detalhe. O Uísque vai aos poucos aparecendo na base da tela. Quando o líquido chega à metade, letras começam a boiar até formar o título: “Fino Trato”, com lay out de carta de seqüestrador.As letras desaparecem e o líquido toma conta de toda a tela. Trilha: Tom Jobim.

1 JOBIM E FOTOGRAFIA.

INT. SALA DO APARTAMENTO DE MARINA. TARDE.
MARINA está em pé, ao lado de um aparador. Pega o copo cheio de uísque. Ao fundo, sobre o aparador, um porta retrato com uma foto de MARINA com roupa descontraída e TALES vestindo uniforme de pólo. Marina mexe o gelo no copo e encara, rosto inchado de choro, TALES na foto. Pela janela, a luz da tarde adiantada atravessa a cortina e entra na sala ampla. Ainda se ouve Tom Jobim. TIA MARTA sai da cozinha, falando.

TIA MARTA:
Marina, eu já coloquei tudo na geladeira, viu!(pausa) Eh, menina! Sai da frente dessa foto um pouco!

MARINA:
(suspirando)
Ai, Tia...

TIA MARTA:
Ai, nada! Ai, nada! Sai daí que ninguém
trepa com fotografia! Você precisa sair
dessa casa, respirar um pouco.

TIA MARTA anda pela sala, abrindo as cortinas. MARINA continua indiferente. TIA MARTA vai até o aparelho de som.

TIA MARTA:
E vamos mudando de repertório que essa música já deu...

TIA MARTA tira o CD de Jobim e troca por Carlinhos Brown.

TIA MARTA:
Agora, sim! Parece que tem gente viva aqui!

MARINA, obrigada pela mudança de clima, caminha até o sofá e se deixa cair como uma pedra. Esboça um pequeno sorriso para a tia que a observa, com olhar de compaixão. TIA MARTA senta-se ao lado de MARINA.

MARINA:
Ai, TIA MARTA! É tão difícil de acostumar...

TIA MARTA:
É, minha filha. Eu sei. Mas você tem que ser forte, viu?! Não pode ficar assim, jogada. A vida vai continuar de qualquer jeito...

MARINA:
Eu sei. É que eu ainda vejo o TALES em cada canto deste apartamento. Até pensei em mudar daqui. Mas aí eu achei que, se ele estivesse vivo, não ia querer que eu saísse assim...

TIA MARTA acaricia o rosto de MARINA

TIA MARTA:
É isso mesmo! Nem pense em sair daqui assim. Primeiro é melhor colocar a cabecinha no lugar e depois a gente vê como é que ficam as coisas. Se você quiser, eu falo pra Nina ficar uns dias com você...

MARINA:
Não precisa, Tia. A Cleuza tá trabalhando quase o dia todo aqui e me faz companhia também...

MARINA dá um longo gole no uísque.


TIA MARTA:
E você não devia beber tanto, MARINA. Vai acabar te fazendo mal.

MARINA:
Deixa, tia. Deixa, que só assim eu consigo esquecer tudo por um tempo... Sabe, às vezes eu olho para essa garrafa de uísque doze anos e penso que o meu casamento não durou nem doze meses. Nem doze meses, Tia...

MARINA chora, deita no colo de TIA MARTA e descansa o copo no sofá.

MARINA:
Meu Deus! Se eu soubesse tinha ido com ele naquele maldito carro.

TIA MARTA:
Não fale assim, minha filha...


2 TALES E O CARRO PRETO

FLASH BACK. EXT. RUA EM FRENTE AO PRÉDIO DE MARINA.TRÊS MESES ANTES.
Marina, com o cabelo mais curto e roupa esportiva de grife, conversa com TALES.

MARINA:
(teatral)
Grande coisa, senhor TALES!

TALES está ao lado de um carro importado preto, novo, estilo Alfa Romeo ou Audi A4. Veste parte do uniforme de um time de Pólo. Faz uma reverência à MARINA, como se procede com uma rainha, e estica o braço mostrando o carro. Ao fundo, o PORTEIRO que folheia um jornal ou revista na guarita e, ao mesmo tempo, observa o casal conversando.

MARINA:
(ainda em tom de deboche)
Eh, senhor TALES! Grande coisa. E precisava ser preto?

TALES:
(radiante)
Preto é clássico, meu amor!

MARINA:
(fazendo birra, descontraída)
Acho que Ford dizia a mesma coisa, né? E ele só fazia carro dessa cor. Eu prefiro prata...

TALES:
Eu queria um todo dourado e cravejado de diamantes pra combinar com a minha rainha.

TALES repete reverência.

MARINA:
Bobo!
(mudando um pouco o tom)
Carro claro é mais seguro, todo mundo enxerga...

TALES abraça MARINA.

TALES:
Hoje em dia, amor, a gente é que tem que enxergar os outros.
(mudando um pouco o tom)
Tem certeza que não quer ir? Vamô, vai? É o último jogo antes do torneio na Argentina e a Beth do Chico Pane insistiu tanto pra você ir também...

MARINA arruma a gola da camisa de TALES.

MARINA:
Não dá amor! A Beth vai entender. A Bisa não tá nada bem. E se ela morre nesse fim de semana, eu me conheço, vou ficar culpada de não estar aqui.

TALES:
Fica tranqüila. A Bisa ainda vai ver nosso time campeão em 2008...

MARINA:
Deixa de ser maldoso, Tato. É melhor você ir logo pra não pegar muito sol na estrada.

Plano geral mostrando o casal, o carro e o prédio ao fundo.

TALES:
Nesta maquina, gata, a gente nem sente que está sol.

TALES abraça MARINA calorosamente. O PORTEIRO observa a cena, sorridente. TALES entra no carro e sai acenando para MARINA e buzinando, até sair do quadro.Fim do Flash Back.


3 ERA SÓ O QUE FALTAVA

PRESENTE. INT. APARTAMENTO DE MARINA. HALL DE ENTRADA. FIM DE TARDE. MARINA.
A câmera está posicionada no hall externo do apartamento, mostrando a porta que se abre. TIA MARTA está se despedindo de MARINA. Ainda se ouve Carlinhos Brown, ao fundo.

TIA MARTA:
Tem certeza, MARINA?

TIA MARTA aperta o botão do elevador.

TIA MARTA:
A Nina pode ficar aqui com você. A Bisa já melhorou e está pronta pra outra...

MARINA:
(observando a ironia)
Pois é... A Bisa está pronta pra outra mas eu não, tia! (suspiro) Deixa a Nina sossegada. Eu saio dessa tia. Uma hora eu saio dessa.

O elevador chega. Tia Marta abraça MARINA.

TIA MARTA:
Chegou. Eu vou, mas qualquer coisa, vê se liga, minha filha. E come um pedaço da torta de morango que eu fiz, viu...

MARINA se apóia na porta.

MARINA:
Pode deixar, tia...

TIA MARTA entra no elevador. MARINA fecha a porta. Já está escuro, quase noite. MARINA vai até o aparelho de som e coloca o CD de Tom Jobim novamente. Volta ao bar e enche outro copo de uísque. Dá um gole generoso, caminha até o sofá e desaba. Pega na mesinha de centro o livro de Helena Jobim. Passa aos olhos obre as páginas.

MARINA:
(em solilóquio)
Ai, Helena Jobim. Pega leva que eu ainda não agüento o tranco...

Já é noite e apenas uma luminária e a luz que escapa de um cômodo iluminam a sala ampla. MARINA tenta ler, mas não consegue se concentrar. Coloca o livro de lado e continua bebendo ao som de Tom Jobim. Alguns takes mostram a dimensão da sala e da tristeza de MARINA. Minutos correm. Uma nova música roda no CD player: Só danço Samba. MARINA, já bem alterada pelo álcool, conversa com o refrão.

MARINA:
É, Tom, você ainda dança um sambinha. Eu não danço mais nada com ninguém...

MARINA vira mais um gole. Um ruído de objeto que cai assusta MARINA.

MARINA:
Era só o que me faltava! Um assalto em pleno décimo quinto...

Plano Geral. Da cozinha saem, repentinamente, RONALDO e MANGA, roupas escuras e velhas, tocas na cabeça. RONALDO é alto, moreno e empunha uma pistola. MANGA é mais gordo, branco, traz um saco grande já com alguns objetos dentro e uma lanterna. A entrada é violenta, mas desajeitada.




RONALDO:
(apontando a arma para MARINA)
Quétinha, dona! Colabora que a gente não demora e a senhora já volta a curtir o som e o uísque.

MANGA anda pela sala iluminando cantos com a lanterna. Vai em direção ao som.

MANGA:
(para RONALDO)
Curtir o som, o escambal! Esse já vai ganhar casa nova. E dá licença que eu vou acender a luz. Isso aqui tá parecendo cemitério.

MANGA aciona o interruptor. MARINA observa tudo com uma certa surpresa. O efeito do álcool torna a experiência mais divertida. Continua bebendo.

MARINA:
Pode levar o som, mas o CD do Tom Jobim, nem pensar...

RONALDO anda pela sala, conferindo a “mercadoria”. Continua apontando a arma para MARINA.

RONALDO:
Calma aí, dona. Nóis é que manda aqui e vai levar o que quiser. A senhora fica na sua.

MANGA:
Ninguém qué esses CD de granfa, não!

RONALDO:
Fecha o bico ce também, MANGA. Vai recolhendo tudo. Pega esse vídeo cassete que pra levar pro Tio.

MANGA:
(para MARINA)
O Tio adora filme pornô...

RONALDO:
Fecha a matraca, MANGA!

MARINA:
Calma, gente. Acho que vocês estão precisando de um gole...
MANGA:
Qué isso, dona. Nóis num bebe em serviço, não...

MARINA:
(mudando o tom)
Vocês vão me estuprar?

RONALDO aproxima-se de MARINA, ofendido.

RONALDO:
Nóis num é desse tipo, não...Droga e estrupo é coisa de bandido.

MANGA:
(para MARINA)
Desse jeito a gente se ofende!

MARINA:
Me desculpem. Eu nunca fui assaltada antes...

MANGA:
Além disso, dona, quem faz essas coisa aí, sai no jornal e naquele programa da tv, sabe? Aí fica muito famoso e viceia...

MARINA esboça um sorriso nervoso.MANGA observa o porta-retratos com a foto de TALES.

MANGA:
(pra si)
Olha a pinta desse cara, mano!
(para MARINA)
Esse aqui com essa roupa de lorde é seu esposo, dona?

MARINA:
Foi...

RONALDO também se aproxima da foto e observa.

MANGA:
A senhora é desquitada, é?

MARINA:
Não, não! Antes fosse. Meu marido morreu faz três meses.
(pausa)
E agora eu sou assaltada...

MARINA chora, descontrolada.

MANGA:
(para RONALDO)
Ta vendo, RONALDO! Eu falei que hoje não era dia pra trabalhá. A dona tá de resguardo da morte do esposo e gente aqui na maior falta de dó...

RONALDO:
A culpa é sua que derrubou o vaso lá atrás. Ela nem ia saber que a gente tinha entrado aqui.

MANGA:
Agora a culpa é minha. Eu nem queria vim. Por mim eu tava jogando bola e boa!
(para MARINA)
Desculpa perguntar, dona. Mas seu esposo era muito moço... Morreu de assassinato...

MARINA enxuga as lágrimas, levanta-se e vai até o bar, encher o copo novamente. MANGA e RONALDO se olham, reprovando a atitude de MARINA.

MARINA:
Ele estava voltando pra casa depois de um jogo de pólo em Colina e aconteceu um acidente na estrada. Ele tinha acabado de comprar o carro.




4 TALES E O ACIDENTE

FLASH BACK. EXT. DIA. ESTRADA.
TALES está dirigindo o carro preto de volta para casa. Tira os olhos da estrada para colocar um CD e selecionar a faixa Marina Você se Pintou. Um trator tenta atravessar a estrada, próximo a uma curva, enquanto TALES ainda está sintonizando o CD. O trator invade a estrada. Na outra mão da pista, uma caminhonete se aproxima do trator. TALES volta os olhos para a estrada e vê uma curva. O trator “morre” na faixa na qual circula o carro de TALES. TALES encontra no CD a música que procurava e completa a curva. A música começa. TALES olha para a estrada e se assusta com o trator parado. Tenta trocar de faixa, mas encontra a caminhonete. Freia o carro que derrapa. Slow Motion. Close de TALES em desespero. Fade to Black. A música continua. A música termina num corte com eco.
Fim do Flash Back.


5 O TRATO

PRESENTE. INT. APARTAMENTO DE MARINA. SALA. NOITE
MANGA olha a foto de TALES. MARINA senta-se novamente.

MANGA:
(lamentando)
Tão moço.

RONALDO:
(para MARINA)
A gente vê que a senhora num ta bem, mesmo. A senhora não se incomode que a gente já ta terminando.
(para MANGA)
Pega logo o telefone sem fio e o vídeo e vamo embora.

MANGA:
Ce não vai levar nada, não! Bebé?

RONALDO:
Eu to segurando a arma, besta!

MANGA:
Sei...
(resmunga)

RONALDO senta-se ao lado de MARINA.

RONALDO:
Dona, vamo fazer o seguinte...

MANGA:
(resmungando)
Lá vai ele...

RONALDO:
A gente não queria fazer a senhora sofrer mais, sabe?

MARINA:
Humm...

RONALDO:
Então eu vou fazer um trato com senhora...

MANGA:
(resmungando)
Lá vai ele...

RONALDO:
Como a gente ta vendo a situação e a gente também já sabe o endereço da senhora... Se a polícia não entrar na parada, eu prometo que a gente não aparece aqui nem pintado. Nunca mais a senhora vê nóis.

MARINA:
(enxugando lágrimas)
Tá...

RONALDO:
Mas a senhora tem que dar uma garantia pra nós.

MANGA aproxima-se por trás do sofá

MANGA:
Que qui cê vai pedir, RONALDO?

RONALDO caminha até o aparador onde está o porta-retratos com a foto de TALES.

RONALDO:
A gente vai levar essa foto aqui que deve de ser muito querida pra senhora.

MARINA:
De jeito nenhum! É a única foto que eu tenho do TALES com o uniforme.

MANGA:
Que isso, mermão? Ta ficando frutinha?
Qué foto com homem pra quê?

RONALDO:
Cala boca, MANGA. A senhora entrega a foto e, se a polícia não procurar nóis, daqui uns dias a gente põe a foto no correio e senhora recebe de volta.

RONALDO desencaixa a foto e coloca o porta-retratos vazio no aparador.

MARINA:
Mas eu não vou chamar a polícia...

RONALDO:
Então a senhora num tem com que se esquentar, né? A gente manda de volta e fica tudo certo...

MARINA:
Não!

MANGA:
Calma, dona. Se o Ronaldo falou que vai devolver, a senhora pode confiar.

RONALDO:
Mas a senhora não pode chamar a polícia!

MARINA:
Eu não vou chamar polícia nenhuma.

RONALDO olha MARINA nos olhos, com rosto bem próximo ao dela.

RONALDO:
(para MANGA, olhando para MARINA)
Vambora, MANGA.


MANGA:
(para MARINA)
A dona fica sossegada que eu cuido da foto, viu?

RONALDO:
(irritado)
Vamo embora, Gordo!

RONALDO e MANGA saem em direção a cozinha. MARINA olha para o porta-retratos vazio, ainda descrente.


6 Manga e Ronaldo saem do prédio

INT. ESCADAS DO PRÉDIO DE MARINA.
Os assaltantes descem as escadas carregando os sacos cheios de objetos roubados. RONALDO ainda tem a arma nas mãos.

MANGA:
Coitadinha dela, hein?

RONALDO:
Ela é moça e rica, MANGA. Logo tá arrumada outra vez.

MANGA:
Mas o Carlim podia ter contato a história direito pra nós, né?

RONALDO para no degrau.

RONALDO:
Tu é folgado mesmo, né? O cara passa o esquema pra gente e cê ainda quer saber da história da moça.


MANGA:
Ué! O Carlim trabalhou três anos de PORTEIRO desse prédio. Devia de saber que o marido tinha batido as bota, né?

RONALDO esconde a arma embaixo da camiseta.

RONALDO:
O Carlim botou a gente pra dentro mas a dona é que vai ter que ajudar a gente a sair...


7 Marina no Interfone

INT. APARTAMENTO DE MARINA. COZINHA. NOITE
MARINA está na cozinha tomando um copo d’água. Toca o interfone. MARINA titubeia. Atende. Split Screen

MARINA:
Sim?

PORTEIRO:
Dona MARINA tem uns rapazes aqui,
falando que tavam aí no 15 fazendo
limpeza aí no apartamento da senhora...

MARINA:
(confusa)
Limpeza?

PORTEIRO:
Isso, um gordo e um alto.

MARINA:
Ah, sim! Eles estavam fazendo uma limpezinha...


8 Porteiro muito vivo

EXT. GUARITA DO PRÉDIO DE MARINA
O porteiro ainda fala ao interfone. MANGA e RONALDO esperam, inquietos.


PORTEIRO:
(falando no interfone)
Então tá bom! É que hoje foi o último dia do Carlim. Eu entrei agora e, sabe como é, essa onda de assalto na cidade...
(Ouve)
É verdade. Boa noite, então.

O PORTEIRO desliga o interfone. RONALDO e MANGA trocam olhares.

PORTEIRO:
Da próxima vez, vocês têm que vir com o crachá da empresa de limpeza, falou?

RONALDO:
Falou, chefia...

O PORTEIRO acena para eles e abre o portão. A dupla toma a rua. A câmera gira 360 graus. Gira novamente, enquanto amanhece. Gira de novo e anoitece. Cinco dias se passam com giros de câmera.


9 A Volta da Foto

EXT. DIA. FRENTE DO PRÉDIO DE MARINA.
MARINA e TIA MARTA caminham pela calçada, lentamente.

TIA MARTA:
Eu ainda não acredito que você esperou esses dias todos pra me contar isso, minha filha. Nem chamou a polícia.

MARINA:
Nem eu acredito, Tia.

TIA MARTA:
Mas, menina, eles podiam ter machucado você...

MARINA:
Acho que eles não eram como esses assaltantes que a gente ouve falar, não. Eles eram muito engraçados.

As duas param em frente à guarita. O PORTEIRO aparece ao fundo, saindo da guarita em direção às duas.

TIA MARTA:
Bom! Uma coisa a gente tem que reconhecer: pelo menos esse assalto te fez rir de novo, né.

MARINA:
É... Eu ainda sinto falta do TALES, mas depois do assalto eu resolvi enfrentar tudo com mais força. Não sei... Acho que eu acordei. Foi um assalto meio surreal.

O PORTEIRO aproxima-se de MARINA e TIA MARTA com um envelope todo amassado nas mãos.

PORTEIRO:
Dona MARINA, o carteiro deixou esse envelope pra senhora. Mas já estava assim meio amassado...

O PORTEIRO entrega o envelope para MARINA que olha para TIA MARTA surpresa.

TIA MARTA:
Será que é o que estou pensando?

Marina olha o envelope

MARINA:
Não tem remetente...

MARINA abre o envelope e retira um bilhete escrito com letras de revista recortada e a sua carteira de identidade, com a foto faltando. MARINA lê o bilhete, ao lado de TIA MARTA. O PORTEIRO fica por perto, bisbilhotando.

VOZ DE RONALDO OFF:
Como combinado, a senhora foi gente da fina e estamos mandando a foto de vorta. A foto ta recortada. Desculpa. O tio achou a senhora muito bonita e colou a foto na parede do quarto dele...

MARINA olha a foto com seu rosto recortado. O PORTEIRO tenta ver, mas TIA MARTA o afasta com os olhos.

VOZ DE RONALDO OFF:
Só mais uma coisa, o MANGA manda falar que a senhora é bonita demais pra ficar aí bebendo desse jeito. Até nunca mais. Vamo ficar com saudade.

MARINA olha para TIA MARTA e começa a rir.

TIA MARTA:
Meu Deus do céu. E eu que achei que você tinha sonhado com esse assalto, menina.

MARINA:
Eu não disse que era meio estranho...

As duas caminham para o portão e entram no prédio. TIA MARTA fecha o portão.

TIA MARTA:
É, MARINA, acho que você conheceu ladrões de fino trato.

MARINA:
Pode?

As duas caminham conversando, de costas para a câmera que se afasta num movimento lento de travelling até o outro lado da rua.

MARINA:
Que será que esse tio tá fazendo com a minha foto?

As duas riem. Os créditos principais aparecem com o prédio ao fundo.



SEQUÊNCIA FINAL – A PAREDE DO TIO

INT. DIA. QUARTO DO TIO DE MANGA E RONALDO.
Zoom out a partir da foto recortada de MARINA colada numa parede cheia de pôsteres de mulheres nuas. Quarto muito simples. O quadro final mostra um velho numa cadeira de balanço, fumando um cigarro de palha e contemplando a foto. Numa cômoda velha está o vídeo cassete roubado do apartamento de MARINA. Numa pequena janela, vemos RONALDO, MANGA e outros homens jogando uma pelada. Outros Créditos e Agradecimentos.

FADE OUT
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