Acertar é humano
Hoje o meu beijo é na boca da realidade.
E diante dela não há fatos alternativos, a realidade é nua e crua.Ela uma hora é a morte devorando a vida e na outra é a vida triunfando sobre a morte.E nos intervalos dessa alternância de poder, sonhamos.
Fico aqui pensando nos meus erros e na culpa que sinto por eles, isso me torna menos cruel, tento ser melhor a cada dia, mesmo que ninguém sinta a diferença.Estes meus punhos cegos escrevem como que golpeando esse deserto de sentimentos, essa agressividade e a indiferença pela dor alheia que a vida moderna parece gerar em algumas pessoas.
Escrevo em nome desse sentimento trágico da vida, como se amanhã já fosse o nunca mais, por isso tô aqui mandando essa mensagem do espaço em mim que ainda não foi invadido pelo o que há lá fora, essa oscilação de modas, esta pressão dos produtos triunfantes, mas não posso mesmo me exilar, tenho que fazer parte dessa miscelânea, ainda sim, me preservo de alguma forma.Metade de mim já está contaminada.
A razão não dá conta da vida porque a racionalidade nos impõe limites e para ser humano não podem haver fronteiras.Por isso temos a imaginação que vem da nossa sensibilidade. A sensibilidade vai mais longe que a razão.
Ser racional é buscar lógicas em tudo, é encontrar equações para o sucesso, é quantificar tudo, como o dinheiro que se tem no bolso ou no banco, quantos anos já viveu ou quantos ainda vai viver.A razão é alimentada por números e os números não são confiáveis.Por mais exata que se pretenda a matemática, a física, a química, a economia, elas não têm o poder de nos dar todas as respostas.
Quando o amor acaba de nada adiantam as raízes quadradas.Quando se tem câncer não importam os produtos notáveis, a potenciação, a adição ou a multiplicação.
Por isso a sensibilidade existe.Para tornar impar o que é par.Para dar sentido a tudo que nos magoa profundamente, como a angustia de viver uma vida que não queríamos para nós, como a morte de alguém a quem amávamos mais do que a nós mesmos.
Ser sensível é como ser banido para uma floresta longe de todos.É ter uma parte de nós do “lado de lá”, que atravessou o espelho como fez Alice no país das maravilhas.Mas há uma parte aqui, na realidade, para que não fiquem pensando que somos loucos, também queremos ser “normais”.Acertar é humano, é nisso que creio.
Andre Luis Aquino
http://andre.aquino12.blog.uol.com.br/
|
