Usina de Letras
Usina de Letras
182 usuários online

Autor Titulo Nos textos

 

Artigos ( 62187 )

Cartas ( 21334)

Contos (13260)

Cordel (10449)

Cronicas (22534)

Discursos (3238)

Ensaios - (10351)

Erótico (13567)

Frases (50587)

Humor (20028)

Infantil (5426)

Infanto Juvenil (4759)

Letras de Música (5465)

Peça de Teatro (1376)

Poesias (140793)

Redação (3302)

Roteiro de Filme ou Novela (1062)

Teses / Monologos (2435)

Textos Jurídicos (1959)

Textos Religiosos/Sermões (6184)

LEGENDAS

( * )- Texto com Registro de Direito Autoral )

( ! )- Texto com Comentários

 

Nota Legal

Fale Conosco

 



Aguarde carregando ...
Cronicas-->Cronicas PALMARENSES -- 03/02/2002 - 09:21 (LUIZ ALBERTO MACHADO) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Cronicas PALMARENSES

Luiz Alberto Machado

Nasci na Rua do Rio, na beira do Una, hoje essa nesguinha de nada feito fiapo de valeta que quando se arreta no seu caudal, desaloja bispo, despeja delegado, destrona juiz, descabela a população e fica três dias encarreados atrepando o povo no morro central onde antigamente era o baixo meretrício, limítrofe do cemitério local. É o maior alagado da paróquia, mais de dois metros de inundação.
Foi nesse rio que me batizei e quase morri afogado. Rio esse que começa em São Bento do Una e se encontra com o mar na Várzea do Una, nas proximidades de Barreiros e de São José da Coroa Grande. Testemunha das lutas de Zumbi, da Guerra da Praeira, das ligas camponesas, das intrigas triviais, das bravatas estrepitosas, dos fuxicos cabeludos e de muita ignomínia tola.
A cidade devia de ter por símbolo o Zumbi dos Quilombos, vez que os morros, dizem os historiadores oficiais, começam na Serra da Barriga, em Alagoas, fazendo fileira e acidentando o terreno até Cucaú, em Gameleira, já na zona da mata sul de Pernambuco. E se a gente observar aquele mapa hipotético do historiador Décio Freitas, poderá constatar que a cidade fica ali no reduto dos quilombolas.
Outro que poderia ser o símbolo da cidade, era Trombetas, nome originário do local, oriundo da perda desse instrumento pelos soldados que tentavam capturar os negros fugidios. Nem um, nem outro.
Por um tempo foi a "Terra dos Poetas", segundo exortou Silva Jardim, registrado no seu hino. Por isso o poeta Juarez Correia diz: "Palmares tem mais poeta que poste para cachorro mijar!". Tanto que ele fica fulo-da-vida porque todo dia aumenta o número dos vates, desatualizando as duas edições de sua antologia. O que tem de poeta e de doido varrido num dá nem para contar. Todo dia aparece um com a cara mais lisa e dizendo miolo de pote que só.
Também já foi o "moscouzinho" de Pernambuco, onde a delação fez a maior feira nos tempos da ditadura militar. Nego ficou rico da noite pro dia só entregando os comunistas, além de ser agraciado por privilégios da segurança nacional. Outros deram um carreirão que inda hoje num param em lugar nenhum. Isso de ouvir dizer, vez que, à época, eu era menino mesmo e já não era nenhuma flor que se pudesse cheirar.
Outro símbolo inconteste que poderia ser aproveitado é a da prostituta. Já pensou uma bandeira com uma mulher nua como estandarte! Identificava bem o ditado que se vocifera em qualquer esquina local: Palmares só tem fábrica de puta! Ouço isso sempre. E você num chega em cidade qualquer da região ou de outros estados, para não encontrar uma piniqueira biscaia que num diga que é de lá. E tem até local certo de encontro: - Vamos ali no cabaré das quengas de Palmares! -, eu mesmo não tenho nada contra, vez que já contribuí substancialmente para o aumento do índice da prostituição local. E para mim tudo é mulher, e merece todo respeito e essa justíssima homenagem!
E uma bandeira arrombada? Verdade, eu mesmo já vi o pavilhão local e nacional cheio de buraco de bala, onde uns embeiçados-de-bico-virado-e-cachola-inchada fazem mira de tiro ao alvo. Nela só não, nas estátuas, nas paredes, nos postes, nas placas, nas pessoas, nos bichos, gostando mesmo de exercitar o dedo no gatilho.
Tantos outros símbolos poderiam ser eleitos ou elencados para representarem a cidade, catados na volumosa Enciclopédia Griz, compilada em apenas um tomo pelo eminente Artur Griz. Mas não, a subserviência escolheu a cana-de-açúcar, a sua maior fonte de riqueza. Prova disso é que a maioria católica das ruas da cidade quando não possui nome de santo, tem nome de coronel: coronel fulano de tal, coronel beltrano dos grudes, coronel sicrano das brenhas. Não sei se tem mais rua de santo ou de coronel. Devem estar empatados na maior lenga-lenga: o coronel cagando raio e o santo tapiando tudo. Igreja, bar e fuleragem são as coisas mais comuns dali. O cara reza, pede perdão, depois se perde na bebedeira e fabrica loas despropositais. Exemplo disso, foi nessa cidade inclusive, segundo relato do escritor Luiz Berto, onde São Benedito foi preso e outros tantos despautérios aconteceram para figurarem nos anais do risível, criando motivo para as mangações dos peteiros desavergonhados.
Não estou querendo aqui negar minha origem, forma alguma. Avalizo Hermilo: "Palmares é a minha marca para toda vida". E reitero Juarez que vaticina: "Melhor que Palmares só Paris, e de noite!" Por isso canto o blues que ele fez com Marco Ripe: "Preciso urgentemente voltar prá Palmares City, deradunderadunderadundá, preciso dessa urgência como de uma bronquite!". Ascenso mesmo que foi vítima de uma tuia de tramóia local, quando descia de Recife rumando para Canhotinho pela BR 101, que se aproximava dela, requisitava um avião e uma venda: num queria vê-la jeito maneira. Héhéhé! Bié, bié, glup! Glup!

Comentarios
O que você achou deste texto?     Nome:     Mail:    
Comente: 
Renove sua assinatura para ver os contadores de acesso - Clique Aqui