A R R U D A N D O*
Na rua das Moças,
a derradeira moça
se fez mulher.
Arrudou,
arranjou um homem
para trepar com ela,
nela e para ela.
“...arrependei-vos e crede
no evangelho”,
vaticinava
a moça no vidro traseiro
do carro vermelho,
mordendo a língua
na rua das Moças.
Arrudou,
tal que,
inadvertida
revertida
invertida,
se faz mulher.
Todas as possíveis
imagináveis vaginas,
bocetas em flor.
“abaixo o encontro de casais com Cristo!”
pois Cristo perdeu as botas
na última curra com
a prima entendida
de Madalena,
que, arrudando,
se fez mulher
sobre o calçamento rude
e irregular,
cheio de lama
nada viscosa
e sebosa
da rua das Moças
onde a derradeira moça,
peremptoriamente
arrudou...
Walter Silva
Recife, 08.11.1996.
* Arruda – bairro do Recife.
|