RELIGIÃO COM EDUCAÇÃO
Francisco Miguel de Moura*
É possível humanizar-se o homem? Eu me perguntava e me pergunto novamente. E respondo: creio que sim, primeiramente com a universalização do conhecimento e da educação. Através do filósofo Mário Sérgio Cortella (autor de “Não Nascemos Prontos”, Rio, 2006), que teve a oportunidade de trabalhar com o Prof. Paulo Freire, vejamos algumas opiniões por nós avalizadas: “Podemos pensar tanto em pessoas, sociedades, instituições. São todos projetos em construção. A principal característica humana é a capacidade de reinvenção. Por isto é que costumo dizer que em 2006, sou minha mais nova edição, revisada e um pouco ampliada. (...) E o próprio Paulo Freire já dizia que não será a escola sozinha a trazer a mudança social. Mas, sem ela, essa mudança não será feita. A violência não surge pela ausência de escolaridade, mas é incrementada por ela. Menos escola é mais violência, porque ela compõe a possibilidade de criação de projetos de vida. A falta de perspectivas produz vítimas, e mais adiante vítimas das vítimas.”.
Sim, reformar o mundo, melhorar o homem é possível através da educação pela família e pelas escolas enquanto somos crianças e adolescentes, e, na sociedade, pela religião e pela política (não os partidos, os governos, mas o estado) no mais elevado sentido desses conceitos. Até a política, sim, por mais incrível que nos pareça hoje, neste momento, no Brasil.
As relação entre a cidadania e o exercício dos direitos e deveres humanos – o que há de mais alto politicamente – deixamos para outro ensaio. Mas falemos no que for possível, sobre a religião, não sobre as religiões. Para mim, radicalmente ser religioso é buscar a religação com a força criadora, chame-se-lhe de Deus, Jeová, Infinito, Espírito, Natureza... A fé, a esperança e a caridade se processam lentamente e são construídas e exercidas intimamente por cada pessoa ao longo da existência, tal como assumem feições especiais em cada cultura. A religião (ou credo) a que nos estamos referindo não é a que apóia as guerras, abençoa os guerreantes e/ou guerreados, ou até mesmo faz guerras, não importa quais sejam, mesmo a chamada guerra santa (em benefício da própria), hipocritamente declarada em nome de Deus. Deus não autoriza nem aprova guerra entre homens, nem mortes, nem sofrimentos. Deus é bondade, beleza, sabedoria, amor, o anjo bom que existe dentro de cada criatura. Mesmo assim, ela precisa ser domesticada, desde a selvageria à civilização.
Talvez esta ainda não seja a melhor ocasião e a mais ampla de a gente discutir se existem demônios. Mas eu, pessoalmente, dou muita valia ao pensamento do escritor Roosevelt da Silveira, de Guaçuí, Espírito Santo, cujos argumentos a respeito do ateu ou não-ateu me foram expostos numa carta de 16.9.2001:
“Costumo dizer aos descrentes”. Se eu estiver errado em minha crença e Deus não existir, nada me acontecerá, e eu terei passado por este mundo procurando levar uma vida digna e honesta. Mas se você estiver errado, e eu afirmo que está, no Juízo Final terá uma grande surpresa ao ser julgado justamente por aquele em quem não acreditou. (...) Se parece impossível aos ateus a existência de Deus, muito mais incrível seria o nada ter provocado um grande estouro e formado nosso mundo (e nós próprios) com toda esta perfeição. Alguém já disse que nada existia. Então as partículas de hidrogênio acumuladas estouraram, formando o universo. A minha resposta foi: Se já existissem partículas de qualquer coisa, (isto) deixaria de ser o nada , pois já existiriam pelo menos essas partículas. E
como elas apareceram?”“
Pronto, finalizo colocando com minhas palavras o que foi dito por Paulo Freire a Mário Sérgio Cortella: A religião sozinha não trará a mudança do homem, mas trará, sim, perspectivas de vida com ética, ajudará a criação de projetos de longo alcance, inclusive o da sua própria essência – a vida eterna.
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*Francisco Miguel de Moura, escritor brasileiro, mora em Teresina, Piauí. E-mail: franciscomigueldemoura@superig.com.br
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