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Artigos-->AS VIRTUDES PRIMEIRAS -- 25/08/2006 - 15:53 (Francisco Miguel de Moura) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
LITERATURA E TRADIÇÃO



Francisco Miguel de Moura*



Historiadores têm afirmado que só se pode começa a escrever a história cinqüenta anos após os acontecimentos. Shopenhauer diz praticamente isto em seu livro “A Arte de Escrever” (L&PM Pocket, Porto Alegre, 2005): “Na história universal, meio século é sempre um período de tempo considerável, porque sua matéria passa sem cessar; contudo há sempre algo que se destaca. Na história da literatura, no entanto, o mesmo período de tempo não costuma significar nada, porque coisa alguma aconteceu: as tentativas canhestras pouco importam. Portanto, continua-se na mesma situação em que se estava há cinqüenta anos.”.

A tradição, com ênfase na literatura, vem primeiramente dos clássicos, desde os gregos, percorrendo o século das luzes da França até chegar a nós. Só que o século passado, para este estudo, continua sendo o XIX e não o XX. Ainda vivemos literária e historicamente, o século XX, não obstante os tambores da globalização e da informática.

Aqui começa a pergunta feita pelo título de um livro do escritor Ítalo Calvino (1923-1985): “Por que ler os clássicos?” (Editora Cia. das Letras, São Paulo, 1993). Dos diversos capítulos em que Calvino discute a literatura clássica, escolhemos “Pasternak e a Revolução” pela relação estreita com o presente e, para, através de citação, evidenciar, embora que de relance, o que vem a ser uma obra clássica: “Na metade do séc. XX, o grande romance do Oitocentos russo retorna, como o espectro do rei Hamlet, para visitar-nos. A emoção que “O doutor Jivago” de Boris Pasternak (Feltrinelli, Milão, 1956) suscita em nós, seus primeiros leitores, é esta. Em primeiro lugar, uma emoção de ordem literária, portanto não política; mas o termo literário ainda diz muito pouco; é na relação entre leitor e livro que sucede alguma coisa: lançamo-nos à leitura com uma ânsia de interrogação das leituras juvenis, de quando – precisamente – líamos pela primeira vez os grandes russos e não buscávamos esse ou aquele tipo de “literatura”, mas um discurso direto e geral sobre a vida capaz de colocar o particular em relação direta com o universal, de conter o futuro na representação do passado.”.

Até aí ele nos diz claramente o que é literatura de ficção e lembra Shakespeare, o maior dramaturgo da história moderna, concluindo, depois de um longo passeio crítico-especulativo sobre a nova literatura russa, que “talvez a importância de Pasternak esteja em advertir-nos disso: a história – no mundo capitalista como no mundo socialista – não é ainda bastante história, não é ainda construção consciente da razão humana, é ainda excessivamente um desenvolvimento de fenômenos biológicos, estado de natureza bruta, não reino das liberdades”.

Literatura e história política se entrecruzam, não como dependentes uma da outra. Mas ao passo que a renovação das artes não se faz muito facilmente, a política, a todo preço, quer mudar e mudar-se. Estudando a filosofia e a história do homem, Shopenhauer cindiu esta em duas: a história política e a história literária, uma representando a vontade e outra o intelecto. Não obstante a rapidez da história política com sua angústia de chegar logo, fazer logo, daí as guerras, os assassinatos, as hecatombes, os holocaustos, etc. aquela que mais devagar anda – a história literária – sendo mais agradável, mesmo quando relata os erros e descaminhos do homem no seu evolver, tanto por testemunhar – e testemunho tem que ir buscar a tradição, o que parecia ter ficado, mas não – como se vê, ambas se repetem como os ciclos do conhecimento humano. São as modernidades, as revoluções formais, as vanguardas aqui; são as destruições, as guerras de conquistas e ideológicas ou religiosas ali. Pois estes grupos sempre se revoltam não somente com o imediato, com o anterior, mas com outros movimentos bem anteriores, o que de resto é a tendência para a tradição. É que o lastro do tempo passado como espelho do futuro é a melhor forma do encontro e desencontro. Certamente sem tradição não há modernidade, nem literatura, nem o homem.

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*Francisco Miguel de Moura, escritor brasileiro, mora no Piauí.

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