É bem conhecida a história do escorpião e do elefante, em que o primeiro precisava atravessar um rio, mas não sabia nadar, enquanto o segundo, como nadava bem, faria tranqüilamente a travessia.
O escorpião implorou ao elefante o favor de conduzi-lo em suas costas à outra margem do rio. O elefante, desconfiado, se negou a atender, afirmando que ele, escorpião, lhe daria uma ferroada, já que esta era sua habitual mania. O escorpião, face à necessidade de chegar a seu objetivo, prometeu e fez juras de que não picaria o elefante.
Assim convencido, o elefante deixou o escorpião subir nas suas costas e foi atravessando o rio. Ao chegar, já seguro, à outra margem, o escorpião ferroou e feriu o elefante que, lamentando-se, tachou o favorecido de ingrato e mal-agradecido.
O escorpião, hipocritamente, se justifica:
“É para não perder o hábito”.
Quer dizer: quem nasce escorpião, ferroando morrerá.
E o que Dirceu tem com isso?
Tem, a meu ver, algo parecido.
O dirigente petista tem sua vida formada e ligada à obsessiva luta pelo poder, transformando, para atingir seus anseios, em reação instintiva picar e ferir quem lhe opõe à frente, assemelhando-se ao hábito também instintivo do escorpião.
As circunstâncias políticas, contudo, levaram Dirceu ao topo onde despontam as lideranças nacionais e, por conveniências, o transformaram em negociador sagaz, em busca da tomada do poder e do domínio das idéias de sua facção. Com a personalidade aparentemente moldada para a vivência democrática, o líder petista conquistou a confiança de segmentos conservadores, que já não o viam como o ex-terrorista, combatente do regime militar.
Mas, os acontecimentos de Brasília, com as várias facções do petismo se revelando incoerentes e atoladas na lama, como também pelo que vemos da reação de Dirceu ante o seu julgamento, onde ele aparece, nitidamente, com expressão de ódio, nessas ocasiões, sentimos a impressão de que ele se encontra na situação do escorpião que precisa atravessar o rio e está pedindo ao elefante(ou às forças oposicionistas) uma carona no lombo. Para transpor o verdadeiro mar de acusações, Dirceu pede a seus opositores uma mãozinha. Se a oposição ceder e conduzí-lo ao outro lado do mar, o autoritário ex-Chefe do Gabinete Civil do governo petista dará uma tremenda ferroada em quem lhe ajudou, tal o escorpião da lenda, para não perder o hábito e continuar sua caminhada utópica e ilusória rumo ao modelo socialista de Estado, cujo grupo de “idealistas” é composto de alguns escorpiões. Tem alguns ratos, mas isto é outra história, é uma outra lenda.