Usina de Letras
Usina de Letras
159 usuários online

Autor Titulo Nos textos

 

Artigos ( 62187 )

Cartas ( 21334)

Contos (13260)

Cordel (10449)

Cronicas (22534)

Discursos (3238)

Ensaios - (10351)

Erótico (13567)

Frases (50587)

Humor (20028)

Infantil (5426)

Infanto Juvenil (4759)

Letras de Música (5465)

Peça de Teatro (1376)

Poesias (140793)

Redação (3302)

Roteiro de Filme ou Novela (1062)

Teses / Monologos (2435)

Textos Jurídicos (1959)

Textos Religiosos/Sermões (6184)

LEGENDAS

( * )- Texto com Registro de Direito Autoral )

( ! )- Texto com Comentários

 

Nota Legal

Fale Conosco

 



Aguarde carregando ...
Cronicas-->DO CARNAVAL PRO PONTAPÉ INICIAL -- 02/02/2002 - 03:43 (LUIZ ALBERTO MACHADO) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
DO CARNAVAL PRO PONTAPÉ INICIAL

Luiz Alberto Machado

O Brasil só começa a funcionar depois da quarta-feira de cinzas. Claro, é fevereiro, mês dado a Juno no tempo de purificação e do desagravo.
Para quem ainda não sabe, fevereiro foi introduzido no calendário bárbaro do Lácio por Numa Pompilio, que bocejando suas bestialidades, desejava igualar o seu sistema de contar o tempo ao dos povos mais cultos, como os gregos e fenícios. Por isso, trata-se do segundo mês do ano gregoriano. E também o mais desafortunado por causa dos mais fuleiros lambe-cus romanos, já que esses puxadores-de-sacos desejavam que o ignóbil Augusto superasse o desajustado Júlio Cesar, dando a um dos meses o nome desse... desse... "grande" imperador.
É que o tal do Júlio havia ganho o sétimo mês e, Augusto, o oitavo. Todavia, os bajuladores perceberam que, enquanto julho tinha 31 dias, agosto contava apenas 30. Isto seria uma puta de uma sacanagem, num é não, gente? Providentes, surrupiaram um dia de um mês: fevereiro que eles dedicavam a Netuno, deus do mar, se não me engano. Até nisso tem roubalheira, tão vendo? E desde quando essa praga assola a gente? Desde... deixa prá lá....
Pois bem, foi daí que começou a zona, tornando-se também o mês do carnaval, onde qualquer sujeito ordinário desbocado pode se enterrar na cachaça, vestir-se de mulher, subir nas tamancas ou tirar onda do que nunca teve coragem de se maquear, camuflar ou lambuzar. Vale qualquer gozação, pulha, contestação, negaça, xeta, galhofaria, saculejada ou atitude escusa, vez que nessa hora, tudo é feito em nome da alegria que brilha no Brasil desde a marchinha da Chiquinha Gonzaga, "Ó abre alas", lançada em 1900: eu também quero passar. É certo que vem de tempos mais remotos, desde que honravam o deus Pã, depois veio o entrudo, quando jogavam uns aos outros água, bisnagas, limões de cera, cal, merda - não sei porque os caras num jogavam a sogra! O Zé-pereira folgadão, animando a folia carnavalesca ao som de zabumbas e tambores, percutidos em passeata pelas ruas. Era festa para máscaras, bailes, corsos, tudo em honra da corte carnavalesca, formada pelo Rei Momo, uma figura mitológica, filho do Sono e da Noite, e considerado pelos antigos, com "alçada no campo das burlas e censuras". Em sua representação simbólica sempre se apresentava com uma das mãos levantadas segurando a máscara e, com a outra, uma espécie de cetro que termina por uma cabeça grotesca: a da loucura. Espia só. Por isso que o carnaval é a maior doideira, liberação geral. Mas se organizou mesmo por aqui a partir de 1900. E todo tempo serviu ou para esbaldação ou para bazófia. Verdade! Olhem: já gozaram até Oswaldo Cruz: "rato, rato, rato, audacioso e malfazejo gabiru". Desafiaram a polícia: "eu vou beber, eu vou me embriagar, eu vou fazer barulho prá polícia me pegar". No carnaval de 1909, criaram a expressão chaleira, para mangar do puxa-saquismo nas altas esferas governamentais, com "No bico da chaleira". Em 1912, o carnaval foi probido sabe por que?: "com a morte do barão tivemos dois carnavá. Ai que bom. Ai que gosto. Se morresse o marechá". Em 1921, o povo foi proibido de cantar "Ai, seu Mé", uma marchinha de Freire Júnior contra Arthur Bernardes: "ai seu Mé, lá no palácio das Águias, olé, não hás de pór o pé". Em 1945, Grande Otelo e Herivelto Martins, bradaram a esperança: "canta, samba, canta, muita alegria nós precisamos. Está terminando a tirania alemã a guerra acaba amanhã". Em 1946, outra mangação contra os baba-ovos: "O cordão dos puxa-sacos", de Roberto Martins e Trajat. Em 1954, nasce a legendária "Saca-rolha" de Zé de Zilda e Zilda do Zé. Em 1963, adivinhando a bronca, Antonio Almeida canta: "Mulata latifundiária prá que tanta ambição, faz logo a reforma agrária reparte o teu coração". E Zé Keti, em 65: "marcou com deus pela democracia, agora chia, agora chia". Eu mesmo já vi nego se esbanjar com fantasia de tudo: de Id Amim Dadá, de Golbery, de Napoleão, de Hitler, de FMI, de OPEP, de Delfim Neto e das maiores calamidades que a humanidade já póde testemunhar. Isso sem contar com camuflados nas fantasias de Lucrécia Bórgia, Dalila, Madalena, espiãs, princesas, meretrizes baratas, drags, na maior assumição. Só falta mesmo alguém se fantasiar de Osama Abrelata ou Bugio Bucho Júnior, os dois últimos ícones da desgraça humana que já foram amigos íntimos e solidários, hoje inimigos figadais. Coisas da política e do dinheiro! Segura a onda!
Mas encurtando a história que o tempo num tá prá prosa, a gente já conseguiu atravessar a apertura de janeiro, com assassinatos esborrando na vida, aguaceiro alagando sertão, Justiça privilegiando bancos e afrontando com o Código de Defesa do Consumidor - ai, meu calo! Tanto que a gente sofreu para conseguir cidadania, ué! -, juiz liberando ladrão e assassino rico - são os alvarás de soltura mais diligentes que já vi de se acatar! Depois são revogados quando os cara já pinotaram proutas bandas longínquas de ninguém mais achar! -, blecaute no sul, aumento das tarifas de energia em pleno apagão, miséria no norte, a megera da troça do Congo brasileiro se amostrando na Globo e o careca hipocondríaco distribuindo verba do ministério prá tudo quanto é buraco da saúde desdentada do país - vixi, que nunca vi tanta facilidade! Quanta dinheirama mole! -, Romário preterido na seleção e a coisa pegando mais que fogaréu aceso na Amazónia! Ufa! Inda bem que já é fevereiro, quase que num escapo dessa! Vamos s imbora que o Brasil bate o centro do desenvolvimento, só depois da festança carnavalesca! "Viva Zé-Pereira, que a ninguém faz mal. E viva a bebedeira que hoje é carnaval" Vamos nessa, que o negócio tá pior e vai piorar. Continuo desejando: feliz 2003 pr ocês! Bié, bié, glup! Glup!

Comentarios
O que você achou deste texto?     Nome:     Mail:    
Comente: 
Renove sua assinatura para ver os contadores de acesso - Clique Aqui