Que parda tristeza m envolve os sentidos,
Pedacinhos de trigo só prenhes de joio
Remordentes do verbo que eu mesmo remoio
E experimento azedo de dentes vencidos
Entre as maxilas dos sonhos rendidos
Onde quero palavras com gosto de mel,
Dais-me vós a rodos em carradas de fel
A hipocrisia, essa dama e senhora
Que vos alicia e de trampa enamora
De traição à causa do verso em cordel.
Em alexandrinos, vêde o meu papel
Desnudo, aberto e de alma ao sol
A finar-me fora como um caracol
Que parece lesma sem casa e vergel
Em lenta viagem neste carrossel
Aonde vós andais duendes crueis
A fingir actores, a inverter papeis
Para amar a Musa que é a Mulher
Que em fogo do céu vos obriga a arder
E faz de vós pavios e tristes cordeis.
Sereis vós poetas ou meros pinceis
Na mão da palavra que vos subordina
E vos põe a tecla presa na sentina
Explindo excrementos como novas leis?
Espero por vós, quatro, cinco ou seis,
Os tais que escreveis a palavra AMOR
Para roerdes firmes o canto da dor
Aqui a meu lado e em bom português,
Erguendo esta Língua por mais uma vez
Entre todos unidos em novo esplendor.