Carlinhos era uma pessoa muito extrovertida. Um boa-vida, daqueles, não muito chegado ao trabalho. Esperto, só namorava coroas ricas para levar vantagens.
Era comum ouvi-lo dizer: _ “Eu quero mais, é que o mar pegue fogo, pra eu comer baleia assada!”
À primeira vista, parecia ser normal. Boa-praça, amigo dos seus amigos.
Adorava negociar. Permuta, era com ele mesmo. Fazia rolos, mexia com bugigangas_ “Tudo nos conformes!”_ dizia ele. Mas, se cuidava para não ir parar num xilindró.
Seu visual era esportivo: camiseta, bermuda jeans e tênis. Usava tatuagens e jamais apartava-se de seu chapéu preto. Sempre teve um jeito peculiar de ser... Nunca deu um ponto sem nó! Vivia a aprontar das suas, porém, um dia ele se superou. Carlinhos queria se aposentar, bolou um plano e o executou.
Foi ao consultório de uma psicóloga e começou a narrar a sua história:
_ Doutora, eu quero me aposentar. Ganhar um dinheirinho extra, pra não ter que esquentar a cabeça com esse negócio de trabalho! Tem gente que me acha meio maluco... É que eu tenho esse meu jeito meio assim, né?
A senhora sabe:_ Nem eu sou um “Sujeito Normal”, nem eu sou um “Maluco Total”, me considero, um _ “Maluco Beleza!”_ Que nem o da música do Raul Seixas.
_ (...)
_ Sei_, dizia a psicóloga, enquanto fazia algumas de suas anotações.
Desbragadamente, Carlinhos continuava a tecer seus comentários:
_ Sabe doutora, eu adoro fazer coleções!
_ É mesmo? E o que é que você coleciona Carlinhos?
_ A primeira coleção que fiz foi de tampinhas. A segunda, de latinhas de cervejas e de refrigerantes. A terceira, foi de selos e cartões telefônicos. Agora, doutora, eu estou colecionando baratas.
_ O quê?... Baratas?!_ indagou perplexa, a psicóloga.
_ É, doutora, e a cada uma delas, homenageio, dando-lhes o nome de uma ex-namorada. A senhora quer conhecê-las?
Num átimo, Carlinhos tirou o chapéu da cabeça e ao vir suas baratas se espalharem por toda parte, ajoelhou-se no chão, tentando capturá-las. Implorava-lhes qual um desesperado:
_” Venha cá, Joaninha!... Oh, Simone, não foge não! Cremilda, meu amor, volte pra mim, por favor! Aonde você vai, Conceição? Não seje ingrata, não me mate do coração! Margarida, minha flor, não faz isto comigo... Não me abandone!...”
Em estado de pânico, a psicóloga subiu na sua cadeira. Esperneava e gritava histericamente:
_ “Socorro!... Socorro!... Tirem este maluco daqui!!!”
Após o ocorrido, Carlinhos conseguiu o Atestado de Insanidade Mental e realizou o grande sonho de sua vida. Aposentou-se.
Dois meses mais tarde, podia-se ver Carlinhos num bar, tomando cervejinhas; comemorando o primeiro recebimento de sua aposentadoria, cantando no caraokê:
_ “Controlando a minha maluquês, misturada com sua lucidez, vou ficaaar!... Ficar com certeza, Maluco Beleza, eu vou ficar!...”
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