Viva a Ditadura!
Abaixo a Democracia!
Esse deveria ter sido o título do texto escrito pelo professor de sociologia da USP, Emir Sader, ao responder à questão colocada pela Folha de São Paulo, na seção Tendências/Debates: “Cuba deve iniciar uma transição política para outro regime?”
Ao invés disso, ele intitulou seu artigo de “Mudar, dentro do socialismo”, uma anotação inadequada.
Não é a primeira vez que me atrevo a discordar do ilustre professor da USP, que continua a defender regimes ditatoriais, desde que de esquerda, naturalmente.
Quando a gente lê matérias dessa espécie produzidas pelo professor Emir Sader se dá conta de que o sectarismo também escraviza mentes privilegiadas como a dele, e não apenas as de militantes que continuam a repetir os velhos chavões comunistas.
Na resposta à pergunta da Folha, ele disse que NÂO, Cuba não deve iniciar uma transição política para outro regime.
Sua argumentação para defender a manutenção da impiedosa ditadura cubana baseia-se no fato da ilha de Fidel Castro haver erradicado o analfabetismo, de oferecer à população pelo menos nove anos de escolaridade, de “gozar gratuitamente dos serviços da melhor saúde pública do mundo” e de outras benesses garantidas pelo governo.
A síntese de seu pensamento está na frase em que afirma que “Cuba não deve mudar de regime porque é o socialismo que lhe possibilita essas conquistas que permitiram que o país enfrentasse a dura crise da desaparição da URSS e esteja agora no caminho da retomada da consolidação de seu desenvolvimento.” Não sei se sua defesa do regime de Fidel Castro quer dizer que, se a ditadura produzir avanços significativos na área social deve ser aceita e prestigiada.
Não obstante, assim como ele ignora os aspectos trágicos do regime castrista – partido único, falta de eleições, repressão a dissidentes, prisão e execução de oposicionistas, imprensa tutelada pelo Estado, economia em frangalhos, dependência de ajuda externa, atualmente a cargo da Venezuela de Chaves, salários miseráveis, racionamento de alimentos, etc. – parece esquecer que outros países não comunistas também alcançaram níveis excepcionais de qualidade de vida para sua população, a exemplo da Alemanha, de Hitler, e do Chile, de Pinochet, que ainda experimentaram formidável crescimento econômico, diferentemente de Cuba, infelizmente a um custo altíssimo de vidas humanas.
Aliás, com a chegada da democracia a esses países as condições de vida de seus cidadãos ainda melhoraram.
Já ouvi de pessoas responsáveis como o professor Sader que democracia é um luxo desnecessário para certos países, enquanto outros, como os adeptos do partido que seguia o exemplo do monstruoso regime albanês, se declaravam democratas, o que quer que isso significasse para eles.
É evidente que para certos povos africanos submetidos a guerras étnicas, a fomes e doenças endêmicas falar de democracia é inteiramente descabido, assim como tentar impingir ao Iraque o conceito ocidental de democracia é algo fantasioso e despropositado.
Mas, no caso de Cuba, que possui um povo com excelente escolaridade, como bem anota o professor Sader, a democracia deve ser uma aspiração coletiva, desafortunadamente sufocada pela repressão de um regime que, agora, parece querer instalar uma dinastia no poder: Fidel Castro sai de cena mas, em seu lugar, fica o irmão Raul.
08/08/06
|