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Artigos-->FOLCLORE POLÍTICO -- 03/08/2006 - 19:08 (Francisco Miguel de Moura) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
FOLCLORE POLÍTICO



Francisco Miguel de Moura*



Contam que quando Pedro Freitas, conhecido pelo cognome de “Pedro Maxixe”, foi governador do Piauí, período de 31 de janeiro de 1951 a 31 de janeiro de 1955, os problemas administrativos e políticos se avolumavam tanto para a capacidade do ruralista e comerciante do interior (município de José de Freitas), que muitas vezes ele ficava paralisado sem saber o que fazer, sem ter com quem se aconselhar.

Em 25 de agosto de 1954, já no ocaso do seu mandato, morreu inesperadamente o presidente Vargas, o rádio berrava a notícia e em toda altura, nos bares, nas casas de residências, onde quer que houvesse um aparelho, notícia que era seguida da carta-testamento, que deixou muita gente emocionada e triste. A voz do locutor bem retratava um sentimento geral de luto e de dor. Uma comoção geral.

A alguns amigos que privavam da convivência com o governador no Karnak, em determinado momento sentiram um choque. Foi quando o governador, contando suas angústias, os problemas do governo e da política, desesperou-se e foi logo declarando:

- Meus amigos, eu também vou me suicidar.

Depois do susto pelo inusitado, passaram a pensar que se tratasse de uma brincadeira. Aquele despropósito não podia ser. Um homem feliz e realizado, de origem interiorana e agora comandando por eleição o governo do Estado tinha que ser normal.

“Meu Deus, que deu nele agora, se nunca foi humorista? Se suas brincadeiras sempre foram muito sérias? Ou então nós, sendo seus amigos chegados, não sabemos o que se passa dentro das paredes do Palácio?” – pensavam os palacianos. E todos o olhavam, olhavam-no e só viam uma cara de tristeza, desgosto, espanto.

O secretário de Estado ainda entrou com um chiste:

- Mas, governador, o senhor ainda nem é presidente?!

Outro se veio com esta:

- O senhor precisa deixar o testamento, escrever uma carta bonita como a de Vargas, não acha?

- É, tem razão, mas eu não sei escrever bonito, assim tão bonita quanto a dele.

Daquele jeito ninguém daqui sabe.

- Verdade!

O silêncio foi maior que o dos mortos antigos. Porém, o secretário de Estado, ressentido ou não por não ter sido lembrado, alto e bom som falou para todos:

- Não acham que o Dr. Santos Rocha faria?

Num movimento único concordaram que sim.

O nome do Dr. Santos Rocha, advogado famoso, orador de muitos dotes, jornalista de brilhantes trabalhos nos jornais, homem prático e eficiente, de muita sabedoria, deputado estadual do partido do governo, foi providencial. Um alívio. Agora, sim, o governador podia ficar descansado...

Mas o desalento já tomava conta do governador. Finalmente e com urgência mandaram chamar o Santos Rocha, que foi procurado como se procura uma agulha em palheiro. Toda Teresina foi esquadrinhada, do Poti ao Parnaíba, do Poti Velho à Vermelha e Piçarra, No seu escritório nem na Assembléia não estava. Dos cabarés aos botecos de ponta de rua ninguém soube dar notícia.

Até que um dos seus fiéis seguidores encontrou um outro advogado que havia trabalhado com ele como aprendiz e disse:

- Dr. Santos Rocha viajou para Altos, talvez vá até Fortaleza. Pela hora que saiu já vai pra lá de Campo Maior.

Desalentado, o governador deixou cair a arma...

- Ah meu Deus! Sendo assim, eu não posso me suicidar. Sem carta, de jeito nenhum.

Foi assim que, no Piauí, não se repetiu no mesmo dia a tragédia do 24 de agosto, livrando os piauiense de mais comoção, mais tristeza.



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Francisco Miguel de Moura, escritor brasileiro, mora em Teresina, e-mail: fanciscomigueldemoura@superig.com.br







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