Usina de Letras
Usina de Letras
149 usuários online

Autor Titulo Nos textos

 

Artigos ( 62266 )

Cartas ( 21334)

Contos (13267)

Cordel (10450)

Cronicas (22539)

Discursos (3239)

Ensaios - (10379)

Erótico (13571)

Frases (50658)

Humor (20039)

Infantil (5450)

Infanto Juvenil (4776)

Letras de Música (5465)

Peça de Teatro (1376)

Poesias (140816)

Redação (3309)

Roteiro de Filme ou Novela (1064)

Teses / Monologos (2435)

Textos Jurídicos (1961)

Textos Religiosos/Sermões (6203)

LEGENDAS

( * )- Texto com Registro de Direito Autoral )

( ! )- Texto com Comentários

 

Nota Legal

Fale Conosco

 



Aguarde carregando ...
cronicas-->OS NOSSOS MORTOS CANDIDATOS -- 22/04/2000 - 20:36 (Rodrigo Teles Calado) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
O pomposo TSE (Tribunal Superior Eleitoral) lançou seus candidatos para 98. Na cívica campanha para ensinar a votar, vemos lá o nome e a cara de nossos mortos ilustres. Mortos para estadual, federal, senador, governador e presidente da República. Candidatos melhores, impossível.

São 33 os candidatos. O mais incrível: apenas dois paulistas. Dina Sfat (morta há 9 anos) e Monteiro Lobato (morto há 50). Como sempre, mais da metade (17) é carioca. Em segundo lugar, os baianos. Oito mulheres, 25 homens. O morto mais velho é o então jovem Castro Alves. Já se foi há 128 anos. José de Alencar consegue quase um empate técnico, pois morreu há 121 anos. O mais jovem morto é o velho Brandão Filho, morto este ano e já concorrendo.

Creio que a candidatura da ucraniana Clarice Lispector para deputada federal venha a ser impugnada pelos concorrentes, pois é inconstitucional. Morta pode, mas estrangeira, não. Temos também uma portuguesa, a Carmem Miranda. Portuguesa pode, diz a Constituição. Uma padaria em cada esquina, diz em campanha.

Para estadual, concorrem quatro músicos, quatro escritores e quatro atores de televisão. Tem morto e morta assassinados (Euclides da Cunha, há 89 anos, e Daniela Perez, há 6), morto tuberculoso (Castro Alves, que prega o fim do tráfico - de escravos). Enquanto Cora Coralina (há 13 anos) promete trigo para a população, Érico Veríssimo (23) olha os lírios do campo. O baiano Raul Seixas (9) promete tirar a mosca da nossa sopa básica, Pixinguinha (morto há 25 anos) fala em carinhosos votos, Noel Rosa (61) garante prótese de queixo e dentadura para a periferia. Ari Barroso, mineiro morto há 35 anos, quer transformar a Aquarela do Brasil em hino nacional e colocar de novo o Fluminense na primeira divisão, só para enfrentar o Flamengo. Lauro Corona está preocupado com doenças infecciosas e a saúde dos brasileiros em geral e o Mussum apenas ri, gargalha, morre de rir.

Para federal, Drummond (11) garante que o Brasil não será mais um mapa na parede, Rui Barbosa (75) parece que desistiu de ser presidente depois de ser derrotado em 1910 e 1911, quando era, insistentemente, o Lula da época, embora falasse menas em latim. Graciliano Ramos (45) promete reforma nos cárceres e Carmem Miranda dizem que voltou americanizada. Taí, eu fiz tudo pra você gostar de mim é o slogan dela. Tom Jobim (4) vai distribuir pianos para os sem-pianos e chope para os sem-uísque. Temos ainda Luís Gonzaga (9), Cazuza (8), que quer a mãe na Comunidade Solidária, Janete Clair (15), que chama o Fernando Henrique de Pai Herói e, se for possível, fará alguns terremotos para acabar com certos brasileiros. Temos ainda o Chacrinha (10), que diz que concorre apenas para confundir e promete revelar, enfim, quem é a Terezinha. Ainda o Armando Bogus (5), que pretende contar o final da novela, interpretando um bêbado.

São três os candidatos a senador. Uma mineira, Clara Nunes (15), que quer construir teatros e conta com o apoio das escolas de samba, o velho cearense José de Alencar, penta-avó do Ciro Gomes e mais um carioca, o Paulo Gracindo (3), que conta com a simpatia dos bicheiros do Rio e coronéis baianos.

Pra governador a briga é boa. Dina Sfat, representando São Paulo, na militància há 9 anos, diz que vai brigar com todo mundo e promete a estréia de Arena conta Brasil, embora afirme ser fundadora do MDB.

Vinícius de Morais (18), muito mais diplomata que tocador de obras, promete cachacinha e feijoadinha pra todo mundo e o mulato Machado de Assis (90), correndo por fora e acusado de racista, dizendo que temos de transformar o Brasil numa imensa Academia Brasileira de Letras.

Pela primeira vez um negro é candidato à Presidência da República: o mineiro Grande Otelo (5), que garante que parou de beber e que de Macunaíma, não tem nada. Concorre com ele a gauchinha Elis Regina (16) e seu arrastão. Seu bordão é "Foi Elis que gravou! Foi Elis que gravou!"

Monteiro Lobato, cujo símbolo na campanha é o Jeca Tatu, vive dizendo que o petróleo é nosso e que os Estados Unidos é que vão ter um presidente negro, alusão à crescente evolução da candidatura de Grande Otelo.

Minha chapa: estadual, Raul Seixas. Federal, Cazuza. Senador, Paulo Gracindo. Governador, Vinícius e presidente da República, Grande Otelo.

Agora falando sério: esses 33 inesquecíveis candidatos são melhores, bem melhores que os atuais, os vivos, muito vivos.

Comentarios
O que você achou deste texto?     Nome:     Mail:    
Comente: 
Renove sua assinatura para ver os contadores de acesso - Clique Aqui