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cronicas-->O Presente -- 31/01/2002 - 01:44 (Fábio Rabello) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

Chega um dia em que você descobre: "Está ficando velho". Não adianta disfarçar usando gírias quando fala, nem sair por aí vestindo uma bermuda florida. É difícil acreditar, mas você está ficando velho e recebeu uma prova disso que não deixa dúvida: ganhou meias de natal. Um par de meias escuras. Talvez você fosse o único da família que não havia percebido e o pessoal achou melhor avisar, discretamente, lógico.
Com o par de meias nas mãos, você não sabe o que falar. Fica atónito, com a fisionomia perdida e pode até mesmo sentir novas rugas nascendo em seu rosto.
A distribuição de presentes continua, mas você não aguenta e corre para o banheiro e tenta se encarar no espelho. Com o olhar fixo, você se encara, depois, encara o par de meias escuras. Ainda falta o presente da Vilminha. Uma esperança remota de ganhar algo que não seja para um velho. Um par de óculos escuros talvez. Até que isso poderia faze-lo se esquecer das meias escuras. Mas e se for um par de chinelos ? Seria o fim. Um par de chinelos para usar com as meias escuras. Um pijama ? Não, meu Deus, qualquer coisa menos isso, você pensa. Um verdadeiro kit de velhice. Meias escuras, chinelos e um pijama. Isso não pode estar acontecendo. A última vez que você sentiu tamanha humilhação fora quando passou pelo exame de próstata. Mas aquilo estava sendo pior.
Depois de respirar fundo e deslizar as mãos pelo rosto, você se lembra que tem de voltar para sala. Podem estar sentindo sua falta. Já que está no banheiro, aproveita para fazer um "xixizinho". Mas uma gota, a última gota, erra o alvo e vai parar direto no chão. O desespero toma conta de você. É só mais uma prova. Está ficando velho mesmo.
De volta à sala, a Vilminha lhe dirige um olhar que você julga malicioso. Ela está com um pacote nas mãos e você sente seu corpo gelar. Assim que abrir estará divulgando para todo mundo que é um velho que já não consegue enxergar o buraco da privada. O pacote é grande, só pode ser um pijama, é isso...Ela lhe entrega o presente dizendo: "esse aqui é o do Seu Algemiro". No ano passado você era "Algemiro" apenas. Sem o "Seu".
Com o embrulho nas mãos, você pode sentir que está trêmulo. Não sabe ao certo se é o nervoso ou mal de parkinson. Não há nada para fazer ali, naquela situação. O negócio é espremer o olhos e abrir o pacote, como um herói que cumpriu sua missão, como alguém que recebe sua medalha de honra ao mérito. É a única coisa que pode lhe confortar: se sentir como um velho, mas um velho vencedor que recebe sua recompensa.
Depois de desembrulhar, você respira fundo mais uma vez para tomar coragem para abrir a caixa. Você abre e fica com medo de ver o que há lá dentro. Não é um par de óculos escuros, nem um pijama de listras, como você pensara. É um livro do Arthur Conan Doyle. Sherlock Holmes. Aliviado, você deixa escapar um sorriso pueril.
Mesmo assim fica difícil conseguir dormir naquela noite. Talvez aquelas letras enormes do livro queiram dizer alguma coisa...


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