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Frases-->Impacto e luta varonil, sem trégua! -- 20/01/2008 - 19:58 (Leon Frejda Szklarowsky) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Talvez você queira saber o impacto causado pela notícia inesperada que alguém sente ao ser informado de que é portador de doença malévola, traiçoeira, satânica e incurável, no caso, o câncer. Pois bem, é como se tivesse sido lançado, ao mar, de uma aeronave em chamas, e o oceano bravio me houvesse tragado, de uma só vez, sem dó nem piedade, nada mais restando de mim, senão parcas lembranças de uma vida cheia de emoções e rasgos de aventura e vontade de viver!
Via-me dominado pela escuridão do firmamento, rasgada por relâmpagos assustadores, envolto pelo silencio macabro, quebrado por trovões ameaçadores. A tormenta de uma tempestade castigava-me o corpo e a alma. As lágrimas rolavam impiedosamente, banhavam meu rosto, agora disforme, tomado pelas incertezas do amanhã, a caminhar pela estrada pedregosa que me conduziria para um mundo desconhecido, num plano superior, para o qual ainda não me achava preparado, nem desejara galgar.
Eis que, quando festejaria um dos momentos mais significativos de minha vida literária, por haver sido agraciado, pelo FAC – Fundo de Assistência à Cultura, da Secretaria da Cultura do Distrito Federal, com a premiação do livro – ORQUESTRA DAS CIGARRAS – CRÔNICAS, como obra meritória e digna de ser editada por ela, às suas expensas, fui também premiado com a trágica notícia de que algumas células tortas, traidoras, distorcidas, vagabundas e ordinárias, dançavam, alegre e furiosamente, em meu ventre, e pretendiam fulminar-me em pouco tempo, sem dar-me qualquer chance de as derrotar, nessa guerra entre as forças do mal e meu ainda forte organismo. Ponha saudável, nisso. Nada sentia. Estava em pleno vigor.
Não obstante, não permitiria que este indigno e demoníaco hóspede me fizesse em pedacinhos e castigasse, me transformasse em seu ninho predileto. Não, não é de meu feitio andar arcado, com o espírito maltrapilho, despido de minha soberba dignidade, acorrentado e prisioneiro de mim mesmo e daquele solerte inimigo. A próstata tornara-se seu pouso.
Que fazer se todos os exames realizados apontavam para o inferno? Que fazer se minha sina já está determinada? Que fazer se o martírio se apoderou de mim? Restava, então, extirpá-lo, juntamente com o órgão danificado, E, assim, ter certeza de que estaria livre para sempre dessa enfermidade amaldiçoada. Parti de Brasília, com o coração despedaçado. Minh’alma em prantos. Até o último segundo, trabalhara, escrevera, sonhara, pisara aquele solo que me acolhera, com carinho, há tantos anos, jovem e cheio de esperanças. Pela última vez? Não, não creio. Não sou daqueles que verga ao primeiro impacto. Continuava sarcástico e gozador.
Na minha velha Faculdade de Direito, os calouros, logo no início do curso, eram brindados pelos veteranos, por meio do centenário Centro Acadêmico XI de Agosto, com o diploma de burro, que trazia inscrito o lema “RIDENDO GASTIGAT MORES” – rindo (gozando) castigam-se os costumes, ou seja, a gozação fazia parte do alegre estudante de Direito, do Largo de São Francisco.
Todavia, devo confessar que sentira medo de não mais retornar, sentar-me junto ao computador, em meu gabinete de trabalho, ouvir o canto gracioso dos pássaros que povoam a janela de meu cantinho encantado, o ruído ensurdecedor de minhas queridas amigas cigarras, o trotar de um ou outro cavalinho puxando a carroça de um catador de lixo, que chama a atenção de meu cachorrinho e o faz latir, sem parar.
Não mais veria os pombinhos, alvos e puros, voando para e da janela, o arvoredo, as flores e as plantas, a paisagem esverdeada, um pedaço da maior avenida que corta Brasília, de norte a sul – o Eixão. O Eixão fazia-me lembrar, não sei por que, a Gran Via, de Madrid, onde passara, solitário, as Grandes Festas (Natal e Ano Novo), em 1980.
Não mais olharia o céu sempre azul; à noite, bordado de estrelas candentes a despejar sua luz terna, sobre a Terra, o movimento de jovens esbeltos, pulando galhardamente, e de esportistas praticando, no seu dia a dia, o bate-bola necessário para um bem-viver.
Onde? No clube da vizinhança, o número 1 de Brasília, bem a meu lado, junto a meu gabinete. Às vezes, o barulho ensurdecedor de um pseudolocutor, com voz metálica e horrenda, anunciava, alto e bom som, as diversas atividades, incomodando toda a vizinhança, noite adentro, e a orquestra ou a banda desafinada desafiava a minha paciência e meu humor.
Lembrava-me, então, de Cícero, ao proclamar, há cerca de dois mil anos, em Roma: “quosque tandiu Catilina, abutere patientia nostra?” (até quando, oh Catilina, abusarás de nossa paciência)?
A música barulhenta (nem era música), de um mau gosto a toda prova, não era nada convidativa. Por que não tocavam a suave música de compositores notáveis, ungidos de Deus, harmônica e celestial, como se proviesse da divina providência? Por que não colocavam no áudio cantores excelentes do cancioneiro popular?
E, no entanto, a luta pela vida era mais forte, maior que que a desgraça que me abatera. E, sem dúvida,venceria, porque a vontade de viver era mais forte que a morte.
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