Libélula
maria da graça almeida
Se eu fosse a mais miúda das libélulas,
seria fúcsia, azul, amarela,
arco-íris repintado de incertezas,
refluindo tênues sóis da natureza!
Voaria em volteios, frágeis cachos...
a seta, a flecha , a meta, o meigo facho.
Ágil, adornaria os vãos mergulhos,
nas quedas pinceladas de orgulho.
Meu corpo delicado de libélula
pousaria nos abertos das janelas!
Olhando tão-somente para dentro,
se livre me habitasse o pensamento.
Se eu fosse a mais amada das libélulas,
de asas transparentes, imagens nulas,
douraria os matizes da procura,
nas rotas envolvidas em ternura.
Mas, em vida, libélula não fui
e os francos vôos que me permito
-na súbita lucidez que me intui-
ocorrem quando te pressinto aflito .
maria da graça almeida
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