Talvez não seja apropriado o título de “breganejos”, dado aos cantores e músicos vinculados à música que se diz “sertaneja moderna”. É preciso ponderar que estamos tratando de um movimento musical bastante abrangente e que merece reflexões mais apuradas dos estudiosos da cultura musical. Que esse movimento se trata de música caipira é inconcebível, pois a principal característica da música caipira, e sertaneja, por extensão, são as presenças da viola, do violão e da sanfona, juntos ou não, dando vida às melodias, instrumentos tais que vêm sendo abolidos pelos novos sertanejos.
No início da década de 1970, a dupla sertaneja Léo Canhoto e Robertinho introduziram a guitarra em suas apresentações, o que provocou uma chiadeira danada no meio caipira. As músicas da dupla já seguiam a tendência para temas urbanos, como “Apartamento 37”, e a dupla emplacou no gosto popular cantando música também de humor e malícia.
Por outro lado, na contramão da tendência modernosa, Sérgio Reis, o “menino da gaita de coração de papel”, redescobre os clássicos sertanejos, tira-lhes a poeira e, em plena americanização cultural da época, consegue devolver ao povo o sabor da música cabocla, e figura ainda hoje como alta expressão da música sertaneja. Mas isso é só para ilustrar, pois a evolução da música sertaneja nos últimos 40 anos foi muito mais complexa.
É preciso compreender que os pós-sertanejos vieram para ficar. Essa jovem-guarda sertaneja, meio urbana, meio country arrasta multidões com megaeventos, a exemplo dos rodeios, graças ao eficiente uso da mídia e da tecnologia. A propósito, falando ainda em rodeios, eventos em que os caipiras são pouco ou nada lembrados, o público por sua vez está pouco se lixando para touros, cavalos e peões, preferindo curtir o som dos ídolos, enquanto desfruta da companhia de amigos.
Mesmo sem uma identidade definida (os teóricos que a inventem), tal movimento ocupa um espaço nitidamente de convergência e de mistura de características, e tentar desqualificá-lo não é a melhor saída. Além do mais, há gosto para tudo, e sempre haverá mercado para os mais competentes.
Como toda arte, a música não tem fronteiras, mas tem berço. Sendo brasileira, caipira, sertaneja ou não, é de casa e merece consideração. Para os mais exigentes, para aqueles que não compreendem a música sertaneja desvinculada de suas raízes caipiras, e este é meu caso, sempre haverá uma Inezita Barroso, um Viola Minha Viola, para mostrar para o Brasil que a música sertaneja está mais viva do que nunca.
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COMENTÁRIOS DOS LEITORES
* A vida não teria tanta beleza se não houvessem tais estilos de músicas. Adorei, nota DEZ.
Zélia – Rio de Janeiro RJ
* Caro Orlando; muito interessante seu artigo sobre a música sertaneja (ou seja lá como queiram chamá-la), porém, na minha opinião, para se ter a idéia precisa sobre o que estamos falando, é necessário sem dúvida alguma dissociar o artista daquilo que ele canta naquele momento. Um exemplo: o cantor Daniel. Sendo do interior, resgatou pérolas da música sertaneja e as interpretou com uma autoridade e desenvoltura da qual poucos artistas seriam capazes e sabidamente, ele também é um grande intérprete da dita música romântica/brega. Portanto, tirando aquelas duplas tradicionais, que todo sertanejo conhece, os "Breganejos" de hoje, merecem mais o rótulo de bregas do que de sertanejos.
Riva – Santos SP
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