Usina de Letras
Usina de Letras
60 usuários online

Autor Titulo Nos textos

 

Artigos ( 62197 )

Cartas ( 21334)

Contos (13260)

Cordel (10449)

Cronicas (22534)

Discursos (3238)

Ensaios - (10353)

Erótico (13567)

Frases (50601)

Humor (20029)

Infantil (5428)

Infanto Juvenil (4761)

Letras de Música (5465)

Peça de Teatro (1376)

Poesias (140793)

Redação (3302)

Roteiro de Filme ou Novela (1062)

Teses / Monologos (2435)

Textos Jurídicos (1960)

Textos Religiosos/Sermões (6185)

LEGENDAS

( * )- Texto com Registro de Direito Autoral )

( ! )- Texto com Comentários

 

Nota Legal

Fale Conosco

 



Aguarde carregando ...
Artigos-->Os amigos de Serrinha e Dr. André -- 14/06/2006 - 18:26 (Paulo Maciel) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Os amigos de Serrinha e Dr. André







Quando Waldir Cerqueira telefonou outro dia para dizer que assumiu a Ouvidoria da Prefeitura de Serrinha e que iniciara pesquisa para resgatar a vida de importantes personagens da terra trouxe instantaneamente de volta lembranças de um período maravilhoso.

Fui morar em Serrinha aos nove anos de idade e permaneci até a maioridade, em 1955. Ai nasceram meus dois irmãos, Roberto e José.

Embora a partir dos 11 anos tivesse vindo estudar em Salvador sempre dividia minhas férias entre Juazeiro, de onde sou originário e Serrinha. Aqui construí grandes amizades que resistiram ao tempo.

Praticamente todos os jovens de minha geração vieram estudar na Bahia, pois não havia ginásio na cidade. As viagens eram feitas em trem e às vezes eram tantos os estudantes que a gente conseguia um vagão especial com a direção da Leste Brasileiro.

Durante as férias formávamos um grupo animado de jovens, rapazes e moças, e alterávamos a vida pacata do lugar.

Entre os que mais estiveram ligados a mim recordo o próprio Waldir, filho do respeitado comerciante Durval Cerqueira, os irmãos Cleon, Evoá e Eneida, filhos do também comerciante, o sisudo Emílio Gonçalves, Lídia Hortélio, Zezé e o irmão mais novo Zé, filhos do grande fazendeiro José Cordeiro, Oswaldo Alves Dantas, Raimundo (Sindé) e Zé Paes, Mourinha (Paulo) e o primo Jessé Nogueira Coutinho, Nícia, com o irmão Carlos Augusto Negreiros Falcão, este que veio a ser um de meus grandes amigos na vida, o primo deles, Alberto José e minha irmã Lucinha.

A gente movimentava a cidade, vivíamos na praça ouvindo músicas do alto-falante, às vezes dançando ali mesmo, promovendo as grandes festas no salão do Hotel da Leste, visitando a Sericicultura, catando pirís, excursionando para cidades vizinhas e até para Caldas do Jorro e os homens que gostavam jogando futebol quase todo dia. Entre nós havia pouco namoro, muito mais amizade nos unia.

De todos os que vieram para Salvador, apenas Waldir Cerqueira voltou a morar definitivamente em Serrinha, tornou-se professor e diretor do ginásio local, casou-se com bonita moça da terra e continua lá até hoje, uma sólida referência para todos nós.

Quando ele me telefonou disse que buscava recolher informações sobre André Negreiros Falcão, provavelmente o cidadão mais querido e conhecido do município, médico de renome, político de práticas irrepreensíveis, homem que viveu modestamente e morreu pobre. Casado com Dalva Vilalva, era pai de Carlos Augusto e Nícia, que mencionei linhas atrás e de outros quatro irmãos.

Por causa da amizade com Carlos Augusto, convivi bastante com Dr. André.

Interno nos Maristas, em muitos domingos almoçava em sua casa, no início no Politeama e depois no Garcia. Tratava-se de pessoa cordata, simples, aparentemente severa, de pouca fala e voz mansa, de aparência ascética, o oposto de um concessivo ou demagogo. Recebia todo mundo na sala de visitas, atendia a qualquer chamado de urgência e em geral não cobrava por seus serviços.

Em Serrinha trouxe à vida meus dois irmãos, o mais novo exatamente nos instantes em que o Brasil perdia a Copa do Mundo de 1950 para o Uruguai, circunstância que o deixou aflito.

Eu próprio fui seu paciente em várias situações, mas a que mais recordo foi a vez em que, com uma gilete nova e à frente de seus filhos, cortou fundo meu dedo polegar para extirpar um panarício, um procedimento doloroso.

A vida realmente é cheia de coincidências e surpresas: dois dias antes de falar com Waldir Cerqueira, durante almoço com João Teixeira, cardiologista que dá um plantão em Serrinha uma vez por semana, ele me disse que muitas pessoas que atende no consultório ainda falam com saudades e respeito de Dr. André, e que recentemente ouviu de uma velhinha o seguinte:

- Dr. João, o senhor é bom médico, mas não chega aos pés de Dr. André!

Para quem foi prefeito entre 1930 e 1938 e que morreu há 29 anos não há homenagem maior do que essa declaração de u´a mulher do povo...

14/06/06





Comentarios
O que você achou deste texto?     Nome:     Mail:    
Comente: 
Renove sua assinatura para ver os contadores de acesso - Clique Aqui