O Jorro merece uma chance
Muitos anos atrás, em artigo que publicou sobre o Jorro, Raquel de Queiroz dizia que se tratava de “uma estação d´águas para gente pobre” e destacava a “promiscuidade do banheiro público”.
Naquela época havia poucos hotéis, que ela dizia serem modestos, o lugar era muito pequeno e poeirento. Mas a água era medicinal. Segundo ela, “não só pela composição química, mas pelo calor mágico”.
A cidadesinha mudou bastante de lá para cá. Hoje, a rede hoteleira é relativamente grande, embora não haja equipamentos luxuosos, as ruas e praças estão calçadas e muitas pessoas de fora, principalmente aposentados e portadores de doenças sensíveis àquelas águas construíram boas casas no distrito.
Mas, o Jorro continua sendo basicamente uma estação de águas para pobres, no máximo para o pessoal da classe média.
Eu fico me perguntando: e se aquelas águas miraculosas tivessem surgido em São Paulo, por exemplo?
A se julgar pelo que aconteceu com Águas de Lindóia, cidade que fica a 165 km. de São Paulo, cujas fontes também medicinais não atingem os 30 graus, a gente conclui que Caldas do Jorro, com águas de 48 graus, apropriadas para o tratamento de doenças alérgicas, dermatites reumáticas, doenças do fígado e dos rins, manifestações úricas, eczemas e outras e que “se diz ser a melhor fonte de água do Brasil e comparável às melhores do mundo, tal como Vichy, na França (cuja temperatura é de apenas 36 graus)”, repito, a gente conclui que o local poderia ser transformado numa estação para todas as classes sociais brasileiras e ainda para visitantes de outros países, como se verifica também nas belas cidades mineiras do Circuito das Águas – Caxambu, Cambuquira, São Lourenço e Lambari, ou ainda em Caldas Nova, com a sua Pousada do Rio Quente.
No caso de Águas de Lindóia, que abriga mais de vinte e cinco grandes hotéis, além de muitos hotéis fazenda e dezenas de pousadas e hospedarias, três estradas de primeiro mundo – a Fernão Dias, a Anhanguera e a Bandeirantes – a ligam a São Paulo, enquanto os cariocas podem alcançá-la pela Via Dutra.
Mais do que a procura por suas águas terapêuticas, muitas pessoas fazem ali turismo rural e grupos e grupos de outros visitantes simplesmente vão passear na cidade, que dispõe de excelente infra-estrutura.
No circuito das águas de Minas Gerais as coisas não são diferentes: há bons hotéis, equipamentos de lazer de toda ordem, teleférico e águas com propriedades medicinais.
Em Caldas do Jorro você não encontra nem cavalos ou charretes para passeio, não há lagos e a estrada (federal) vive em petição de miséria (os 3 km. de acesso ao distrito estão permanentemente esburacados). Muitos “farofeiros” aparecem aos domingos e às vezes grupos de professores participam de cursos nos hotéis sempre vazios.
Aparentemente o governo do Estado não se interessa pelo desenvolvimento turístico da estância hidromineral, não faz ali investimentos de qualquer espécie, não mobiliza sua Secretaria de Turismo para avaliar o potencial da região e nem se preocupa em atrair investidores privados.
A Prefeitura local é pobre de recursos e de idéias, a população não se organiza para lutar por mudanças e pela melhoria da cidade e as coisas vão ficando do mesmo jeito.
Aparentemente, o Jorro já experimentou dias melhores: hoje os hotéis vivem às moscas, muitas casas construídas nos bons tempos estão fechadas e à venda, e o aeroporto é o local preferido para caminhadas.
O lugar talvez fosse ideal para a construção de um SPA, mas ninguém acredita seriamente nisso. Os capitalizados grupos portugueses e espanhóis estão mais interessados em plantar suas redes de hotéis e resortes em cidades litorâneas do que arriscar-se numa aventura em que nem os brasileiros investem.
E tudo fica na mesma. Nem sonhar os pobres moradores do Jorro podem!
13/06/06
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