O mundo capitalista do século XXI vinha se apresentando muito mais voraz e economicamente sensível do que o da época do macarthismo norte-americano. Não havia mais espaço para sonhos e esperanças humanas. No meio deste contexto, Jesus tomava decisões que julgava totalmente confiáveis e benéficas para si e para o seu país, onde estava a matriz de seu império. A última grande transação comercial envolvia países de vulto, como os Estados Unidos, a Alemanha e a França. Precisava compensar os erros do passado e os rios de dinheiro jogados fora pela inépcia de governos anteriores. O contrato foi assinado em meio a divergências entre os países de primeiro mundo envolvidos.
Numa noite, foi dormir e sonhou o que parecia ser um filme com os melhores momentos da humanidade. Viu o homem de Chukutien dominar o fogo, o Homo habilis talhar as primeiras pedras e Jericó erguer as primeiras muralhas do mundo. Viu o Egito inventar a navegação à vela, o início da metalurgia do ferro em Anatólia e Pitágoras estabelecer o seu célebre teorema, inaugurando a Matemática moderna. Num sono cada vez mais agitado, passou pelos romanos ao construírem os seus primeiros aquedutos e pelos chineses quando descobriram a tinta. Adentrou pela era dC e viu Constantino tornar Roma cristã, os chineses descobrirem a pólvora e a colonização luso-hispânica alastrar-se pelo mundo. Queria acordar, mas não conseguia, como se aquele não fosse um sonho espontâneo. Num ritmo cada vez mais alucinante, constatou a Revolução Francesa, a Revolução Industrial e os irmãos Lumière projetando, em Paris, sua primeira película cinematográfica. Subconscientemente enfastiado, fazia uma força brutal para despertar, mas não tinha mais nenhum domínio sobre si próprio. O sonho avançava cronologicamente com a força devastadora de um tornado. Entrou pelo século XX e esbarrou no sangue da Primeira Guerra Mundial, ao tempo em que via Albert Einstein formular a teoria geral da relatividade. Varou a Segunda Grande Guerra e pôde ver o seu próprio nascimento. Assistiu a Guerra do Vietnã, a Guerra dos Sete Dias e a interminável Guerra Fria. Caoticamente, o sonho atravessou as décadas de 80 e 90, entrou pelo século XXI e, subitamente, aterrissou sobre uma ogiva que singrava pela atmosfera terrestre. Não queria mais acordar e sim ver aonde é que iria dar aquilo. Deu no coração de Manhattan. Apavorado, finalmente acordou e saiu correndo no meio da noite rumo ao seu gabinete, mas não conseguiu chegar. Sofreu um infarto agudo do miocárdio.
Não conseguira prever a data de sua própria morte, mas com a pouca vida que ainda lhe restava no corpo, Jesus começou a associar todos os fatos espetaculares que ocorreram durante a sua existência e, no último momento de lucidez, pediu perdão a Deus por tudo; pelo desequilíbrio de objetivos no qual sempre vivera e pelas conseqüências irreversíveis às quais o mundo chegara por causa disto. Não houve resposta. Parece que havia cumprido bem o seu papel.