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Contos-->ELA TINHA UM SINAL -- 14/04/2002 - 12:11 (Daniel Cristal) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos


ELA TINHA UM SINAL
Daniel Cristal


Ela tinha um sinal mutante e catastrófico. Um sinal que se deslocava na cabeça conforme os seus sonhos de mulher inacabada e mudava de forma conforme a sua propensão libidinosa.
Uma vezes o sinal apresentava-se no queixo, outras vezes numa das faces, outras ainda na testa. A forma variava – ou era uma simples verruga semelhante a uma flor de miosótis, ou uma caganita de rata, ou um cornito igual à haste duma cigarra.
A maior parte das vezes, ela sentia-se desconfortável e revoltada com estes sinais, uma ou outra vez sentia-se resignada. O primeiro estado emocional era notado quando o sinal apresentava o aspecto da caganita, mas o máximo da sua revolta dava-se com o surgimento do cornito; o segundo estado revelava-se quando este se assemelhava a uma pequenina flor.
Nos dias em que o sinal apresentava o aspecto de cornito, e esse só aparecia na testa para sua desgraça e humilhação, ela conseguia disfarçá-lo mal com chapéus de aba larga, ou lenços avantajados, ou bonés sobre as sobrancelhas. Muita falta lhe fazia uma dessas burcas fantasmagóricas que se tornaram célebres depois da violenta invasão ianque ao Afeganistão, com todas aquelas cenas patéticas e apocalípticas de gente a fugir dos bombardeamentos, e com talibans a esconder-se nos últimos buracos do mundo-cão como toupeiras acossadas.
A caganita é que era mais difícil de disfarçar. E era a que a derrotava mais, a deprimia de morte, embora tentasse escondê-la debaixo de espatuladas de base facial. Se chovia ou se suava, lá ficava ela com a cagadela à mostra, com uma neura que ninguém a podia aturar, com uma raiva capaz de morder qualquer bicho mais distraído, que se aproximasse do seu raio de acção. Ficava terrivelmente implicativa, enojava-se com tudo o que fosse perfeito, insultava numa atitude de desprezo inaudito qualquer pessoa que com ela tivesse o azar de se cruzar, e fazia-o com uma incrível facilidade espontânea.

Inexplicavelmente, a forma da sinalização tinha a ver com os sonhos que lhe adocicavam, ou atormentavam o sono e o sonho. Quando sonhava com príncipes era a flor que no outro dia de manhã lhe ornamentava o rosto, quando sonhava com animais, era a caganita que lhe aparecia despudoradamente, quando sonhava com impulsos eróticos, era o cornito que lhe advinha na testa lisa. Bem a coloria com as mais sofisticadas bases de maquilhagem, mas o trabalho final nunca ficava perfeito, e, quem estava por perto, fartava-se de rir e escarnecer.

Foi consultar as mestras da experiência da vida, e elas disseram-lhe que nascer com este defeito psicossomático de nascença, era prelúdio para uma vida cheia de amarguras, contrariedades e vicissitudes. Mas, além disso, mais acrescentaram que a vida é mesmo assim, é preciso amar as nossas qualidades e os nossos defeitos, e deles tirar o maior e o melhor partido, porque nascer-se bela acarreta um grande risco, o qual é ser cobiçada pelos mais atrevidos e pelos maiores tratantes que infernizam uma existência, e nascer feia é sujeitar-se a levar para o matrimónio os badamecos mais insossos e mal cheirosos, os tais perdedores que vegetam à face da terra! Esta era a voz da sabedoria armazenada durante milénios, que nem todos aceitam, mas que no fundo vão marcando e orientando a vida das pessoas. Os equilíbrios, entre todos estes desníveis, viriam depois de cada um encontrar a tampa para a sua panela distinta, que é a que encaixa em cada um ou em cada uma, tampas estas que por certo ou por erro de cálculo não se ajustam hermeticamente aos formatos correspondentes… mas fica tudo mais ou menos ajustado nos equilíbrios possíveis; e, por causa destes factos acontecerem nesta vida de imprevistos irracionais, que têm a ver com pulsões congénitas, na sequência de umas experiências que só trazem enriquecimento à multifacetada história de amores desencontrados, os jogos de equilibrismo são mesmo uma terminologia para levar a sério, muito embora os cornos não nasçam para serem expostos à vista do cônjuge ou da multidão; todos os conhecedores sabem que, quem os exibe, é só na mente dos outros, sem saber que os exibem, quantas vezes sabendo mesmo, mas dando sempre uma margem de dúvida (há sempre que ter em consideração o benefício da dúvida!), a qual é sempre uma consolação para o desleixo dos enganados; outros há que não se importam mesmo, porque nestas coisas de relações humanas a verdade é como o azeite, vem sempre à tona da água, quer se queira quer não, quer se ande escondido numa clandestinidade atabalhoada (como uma avestruz com a cabeça enterrada e o corpo visível - até mais não! - de fora), quer se aparente ser a coisa mais natural do mundo, essa de ter amigos do sexo oposto, sem qualquer interesse sexual, a rebentar pelas costuras de permeio!

Um dia encontrou um homem que também tinha um sinal, e julgou assim que tinha encontrado o testo para a sua panela, ou dito de outra maneira costumeira - a sua cara metade. Uma pessoa tem que se relacionar com aquela que mais afinidades demonstrar possuir (há quem diga o contrário, mas enfim não vamos chamar Platão para teorizar factos reais e controversos!). É mesmo assim, a vida está cheia de sabedoria, não há mesmo que enganar… E o que aconteceu com a narradora protagonista, aconteceu de igual modo com ele que, de figurante secundário, começou também a protagonizar. Sucedeu, porém, que por mais que se esforçassem em aprender a praticar o contrário, não conseguiam entender-se lá muito bem um com o outro, porque quando ele estampava pomposamente uma flor de miosótis, ela apresentava um cornito demoníaco. E o contrário também era verdadeiro: quando ele exibia um cornito comprometedor da sua diabólica libido, ela ostentava uma flor; era, como se vê, uma flagrante e inevitável falta de simultaneidade e coordenação entre ambos, acasos absurdos impossíveis de disfarçar. De modo que também eles nunca se conjugaram bem por causa das emoções recíprocas, que neles irrompiam a toda a hora, ainda que fossem aspirantes a cônjuges esforçados pela conjunção. Ele, coitado, pois que era homem, estava impossibilitado de usar a burca fundamentalista, tão pouco o lenço marroquino, senão mais marginalizado seria do que era, e deste modo remediava-se, à falta de melhor, com o chapéu saloio ou a mitra revolucionária, e assim lá conseguia resolver o problema do cornito. Aliás o cornito para ambos até nem era o mais difícil de esconder, os cornos, como se sabe, e já se disse, andam na maior parte das vezes escondidos ou disfarçados, e o mais curioso é que quem os tem, desconhece a realidade da evidência, mas em dias de muito vento era um autêntico desafio de desalento e irritação, que os tornava furiosos, incapazes de se tornarem dignos dos demais seres humanos, que ao mínimo temporal ou frio de rachar enterravam nas cabeça capuzes fradescos, adstritos às gabardinas e às canadianas, roupagens feitas à conveniência e à medida dos que disfarçam o que há para disfarçar contra ventos ou vergonhas, torrentes de chuva ou frios de congelar, e não disfarçam nada a quem não precisa de andar disfarçado, assumindo toda a sua condição sem hipocrisia, nem tão pouco qualquer ponta de cinismo.

Com esta igualdade mórfica, não tiveram outra solução que não fosse, num último esforço de risco calculado, a de juntar os trapinhos a ver se conseguiam adaptar-se bem um ao outro, não só porque carne experimentada traz ímans desconhecidos, alguns até milagrosos de quimioterapia mágica e de magia libertadora, mas também porque entre todos os seus conhecidos (dela e dele), ninguém os queria adoptar como cônjuges pela sua frequente má disposição e mau humor, além da sua repugnante irritabilidade; e, mais ainda, por causa da desgraça de terem assim nascido estigmatizados. Contudo, quis o malfadado acaso que apesar de todas as tentativas, bem não se entendiam, porque quando o cornito crescia nele, ela ria-se e gozava com a sua aflição, e, vice-versa, se ela aparecia encornada, ele gozava que se fartava. Mas este gozo só aconteceu antes de saberem as razões da sua aparição, porque, quando souberam, passaram à agressão.
Neste novelo de contrariedades, que só se expressam nas antíteses eruditas e nos trocadilhos populares, mais fulos e danados ficaram um com o outro, quando souberam que os sonhos eram os geradores da mudança dos sinais. Deste modo, quando ela sonhava com príncipes, nascia-lhe um flor, porém logo acontecia o inverso nele, na mesma noite ele sonhava com animais corníferos, touros abrutalhados, carneiros desconfiados ou chibos soberbos, aplacando-se-lhe logo a caganita na sua cara ao acordar, e, vice-versa, quando ele sonhava com odaliscas meneando a dança do ventre e tudo o mais que se muscula por ali à volta, nele pontuava a flor, e nela renascia o dejecto vergonhoso da rata ao acordar, depois de sonhar simultaneamente com cabras ariscas propensas à má vida, gatas assanhadas da impenitência ociosamente doentias ou cadelas vadias, mas especialmente as fartas de tudo o que os homens lhes dão, sempre arreigadas ao cio dos êxtases delirantes (e, naturalmente, ninguém lhes pode levar a mal, que estas coisas da terra são para serem usufruídas com o gozo das guloseimas, senão morre-se ignorante e insatisfeita!). De modo que, quando ele se apercebeu que, com toda a evidência, estava a ser enganado pelos sonhos, que, para ele, eram como se fossem realidade indesmentível, começou então a chamar-lhe puta e ela passou a chamar-lhe cabrão. Não há lar onde isto não tenha acontecido, pensaram e concluíram! Era uma infidelidade putativa e percutida e recíproca, mais do que óbvia, animosidade que mais tarde se traduziria no caso dela pela vingança, tendo em conta que se havia fama, também haveria de existir proveito… e assim decidiu-se por umas escapadelas com o primeiro desvairado que se lançasse ao piso sem escrúpulos… e nele deu-se o mesmo, também se habituou a dar as facadinhas no matrimónio, quando uma qualquer desavergonhada se mostrava disponível e atiradiça.

Tudo parecia correr nos carris próprios dos malfadados desígnios matrimoniais resignados e lançados em direcções opostas, como saga sequencial, quando ela teve de dar à luz um par de gémeos, bonitos, mas desgraçadamente ambos tinham herdado os sinais dos pais, contradizendo pelas aparências reveladas os rumores de que não saberiam dizer com verdade quem seria o pai da prole que iria ser gerada num ambiente de tão farta promiscuidade!

Nada mais triste e repulsivo do que passar os defeitos aos descendentes, pois os filhos nunca perdoam receberem dos pais as suas dívidas e pagar pelos seus defeitos! Uma enorme depressão, uma demonstrada raiva os impeliu para a violência doméstica, para a censura, a crítica, a agressão e a vingança descontrolada. Porém, quanto mais violentos ficavam, tanto mais agressividade perpetravam uns para com os outros, e, nesta diabólica série de sequências e consequências, mais arruinados ficaram emocional e materialmente, não conseguindo singrar na escala social, ou seja, no estatuto comunitário civilizado. Pai com corno, mãe com flor, filho com caganita, filha com verruga (a verruga fora introduzida por artes amaldiçoadas depois do parto para distinguir nos seus semblantes a aparência da caganita)... mãe com corno, pai com flor, filho com verruga, filha com caganita, uns aos outros se escarneciam, se agrediam e não havia solução para tão complicada situação existencial, que lhes definhava a vida, e os empurrava para a marginalidade, subtraindo ao lar a normalidade duma existência resignada à prossecução de objectivos construtivos, permanecendo tudo assim em completo desacordo com os preceitos em vigor no tempo actualizado e no comum e mútuo espaço geográfico.

É então, nessa altura, que os visados têm uma ideia daquelas que parecem milagrosas por causa de tanta ousadia fenomenal, provinda da bruxaria, não só a mais científica, como também a mais supranatural, levando também em conta que estes termos nunca se excluem na crendice popular… uma ideia das mais sérias e marcantes que possa existir na vida de um indígena. Sequencialmente, e dando largas à sua execução, começaram a vituperar o Criador, porque não havia direito, nem dever, para o facto de terem nascido com defeito de fabrico... era uma maldição o que lhes estava a suceder, por isso, tinham que exorcizar as causas de todo o mal !; e se deste modo o pensaram, melhor o disseram, e ainda melhor o executaram… O ideal foi mesmo blasfemar atentoriamente contra Deus, e mostrar-lhe toda a repulsa pela sua ingrata tutela ruinosa, já que não pediram, nem foram consultados para vir a este mundo com estes sinais de exibição e de rejeição pública e notória.

E Deus muito sabiamente lhes disse, Resignai-vos ao vosso destino para vossa salvação, e eles contestaram, Não é justo sermos amaldiçoados, e Ele replicou, Nada podeis fazer contra a minha vontade, e a revolta só vos prejudica, e ela triplicou, Ou nos tornas perfeitos ou vendemos a nossa alma ao Diabo! Quando isto disse, Deus ficou escandalizado pela rebeldia demonstrada, e desapareceu repulsivamente no horizonte.

O Diabo, no inicio, esfregou as mãos de contente, mas congeminando melhor depois, pausadamente pensou, Não há Diabo que aguente com tanta adesão à minha esfera de influência, isto dá para desconfiar, há aqui matéria astuciosa para descortinar, o meu maior inimigo está sendo o meu melhor amigo, mandando-me este género de clientela que me dá um trabalho infernal para os aturar, porque são estúpidos, malcriados, desordeiros, violentos e mais diabólicos do que eu! Se não os expulso do inferno ficam uns autênticos assassinos, uns canibais, capazes de se amotinarem e me devorarem num ápice, e perde-se a minha razão de ser neste Universo. O melhor é curá-los das maleitas da alma de que sofrem, e devolvê-los ao seu Deus para que os ature ele, que tem mais compaixão do que eu, e eles estão feitos à sua imagem e semelhança, e não à minha!

E assim foi, como, com toda a verdade, vos digo. O Diabo curou-os de todas estas enfermidades, que já estava farto de coleccionar os repudiados por deficiências congénitas deste Paraíso - ele queria era exercer a sua arte da tentação aos que só muito dificilmente submergem em relação aos pecados venais e mortais desta sociedade civilizada, aí é que ele obtinha um gozo enorme por exercer a sua habilidade e sabedoria soberanas de modo a mergulhá-los nas maldades que perdem as criaturas e as condenam ao inferno… nesta área é que ele ficava empolgado e excitado, esta era e é a sua verdadeira missão na luta entre o Bem e o Mal… não gostava, isso é que não, que lhe fosse oferecido, fosse quem fosse, nem como fosse, de bandeja, especialmente alguém que apresentasse defeito de fabrico, contraditoriamente reduzido a lixo, sobrado pelas imperfeições da Criação.

Curada esta família desta enfermidade endémica que os iria perpetuar no caminho da perdição (se não houvesse quem lhes travasse humanitariamente o evoluir da situação), eis senão quando, contra toda a lógica dos grandes acontecimentos, que maravilham muitas vezes a raça humana, o novo estado de purificação forçada não resultou, porque a mãe começou logo a perder a rigidez dos seus seios, a planura do seu ventre e as formas modelares das suas ancas, e então entrou novamente em grande depressão e revolta, acompanhada pelo marido, que começou a ficar com mechas de brancura no seu cabelo, dentes cariados, vincos no rosto, uma montanha de gordura na barriga, pneus na cintura, varizes nas pernas e calos nos pés – e na cabeça muitos mais! Os filhos por outro lado também viriam a ser afectados pelas imperfeições da natureza, ainda enferma, e ficaram cheios de impigens vermelhas, mais feias que as excrescências da rata.

Como estavam habituados a sofrer todos os horrores, e a deles fazerem um exercício de perícia para a indignação, protesto veemente e revolta, não foi difícil ver que naquela casa não havia normalidade nenhuma, havia só, outrossim, discussão quanta bastasse, havia insultos e logo a seguir bofetadas de criar bicho, má-criação, seguida de violência, até que todos começaram a beber para viver num estado mais eufórico, aquele com que se remedeia os males da existência, quando nada parece endireitá-la. Como não é difícil de prever, foram descendo de estatuto, perdendo privilégios, que só se concedem aos ajuizados, o dinheiro faltava, e como se cumprisse uma espiral de infortúnios, acabaram por ir habitar nos bairros mais degradados, com rendas degradadas, porque já eles mesmos estavam também degradados de corpo e alma, condenados sem remissão pela leis da causa e do efeito. De emprego em emprego foram sendo despedidos, despejados da casa onde habitavam por falta de pagamento de rendas, e para sobreviver começaram a roubar; habituaram-se depois às grades das prisões que mais os diminuíram psicofisiologicamente por se terem viciado nas drogas, e aí aprenderam a pilhar em grupo, elas prostituíram-se, e eles corromperam-se sem volta a dar à situação gerada, e quando começaram a morrer, primeiro o pai, depois a mãe, à entrada do inferno o diabo – este com medo de ser subalternizado -, acorrentou-os um a um de tal forma que mal se podem agora mexer. Mas antes de os acorrentar um a um, e os filhos igualmente, eles por cá fizeram as maiores diatribes, as que só o diabo é capaz de fazer.

Frequentemente passamos por eles e eles ainda andam por aí bêbados, drogados, todavia, o mais corrente, é vê-los em correrias loucas sem parar para pensar, discutindo com toda a gente; vivem, especialmente, no meio dos que tudo fazem pela calada da noite, ou se aproveitam da confusão para roubar uma carteira, cartões de crédito ou débito, um automóvel, uma casa, um estabelecimento, um banco. Andam armados, agridem, esfaqueiam, violam crianças, jovens, adultos e idosos, assassinam a sangue frio. São terroristas, párias e os mais danados. Não há quem os queira, já não há reinserção possível – diz-se correntemente; os políticos precisam deles, que é para todos os receosos cidadãos lhes darem força democrática ou outra, e, para assim combaterem o vandalismo; contudo, no fundo aqueles estão é aproveitando o poder para fazerem aos maiores diatribes possíveis e habilidosas, de maneira a enriquecerem depressa e usufruírem de privilégios – não se sujeitando, pelo seu estatuto, ao que cidadão comum tem de passar sem defesa no seu quotidiano. E não passam por estas barbaridades, porque andam também armados, contratam guarda-costas, e cercam-se de polícias, adquirem carros à prova de bala, constróem muros altos à sua volta e refúgios inexpugnáveis. Batem-se ardilosamente pelo reforço da autoridade do Estado… Defendem-se com esta trapaça cheia de esperteza, da qual a turba mansa nunca imaginou a razão da sua existência.
E nem os polícias os desejam por perto, pois não querem morrer ingloriamente. Quando aqueles se abeiram, estes escapam-se pela viela mais próxima. Para isso é que são pagos!
E ainda, e finalmente, nem o diabo os quer – quando chegam ao inferno, ele paralisa-os com grossos cadeados de ferro do pescoço até aos pés.

Sinais dos tempos!

Daniel Cristal

(O Autor tem outras prosas editadas em websites na Net, nos dois sites pessoais - www.danielcristal.8m.com - e -www.daniel.cristal.planetaclix.pt/index.html - , na Usina de Letras, crónicas de viagem no Blocos On Line, e, variada prosa na Távola Literária Daniel Cristal).
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