Há mais de ano que as denúncias de corrupção assolam o país. A cada semana novos escândalos são expostos na mídia. Há uma crise política. Há uma crise na ética. Há uma crise de cidadania e uma punhalada na esperança.
A eleição presidencial de outubro promete acalorados debates no horário eleitoral gratuito. Políticos desacreditados colocarão sua cara lustrada na TV para reformular promessas que não cumprirão. O povo terá que assistir mais um turbilhão de palavrórios prometendo emprego, saúde, educação e segurança. Haverá candidato dizendo que “em meu governo, corrupto não entra” e político garantindo “um posto de saúde a cada quilômetro”.
Mas antes da eleição teremos uma Copa do Mundo de Futebol. E os brasileiros esquecerão suas mazelas: a crise, o desemprego, a corrupção e as falcatruas federais. O único desejo será o de comemorar os gols dos Ronaldinhos e fazer uma carreata a cada vitória.
E aqui cabe uma pergunta para reflexão: será essa a verdadeira seleção brasileira de futebol? Dos 23 jogadores convocados apenas três jogam nos gramados do Brasil. Então, podemos afirmar que também temos uma crise no futebol. Uma crise de futebol arte no futebol brasileiro. Segundo dados da imprensa desportiva, são aproximadamente três mil atletas atuando no exterior. Ou seja, nossos craques fazem espetáculos para os “gringos”. Quando você viu o Cafu, Roberto Carlos, Ronaldinho Gaúcho e o Ronaldo “Gordito” jogarem pela última vez? No meu caso, há quatro anos, na decisão da copa de 2002.
Na minha modesta concepção, o petróleo é nosso, o gás é boliviano e os craques do Brasil devem jogar em gramados brasileiros. Mas aí vem o mercado e diz não. Como o futebol é “mercadoria” deveríamos seguir os conceitos de Evo Morales e nacionalizar nossos craques, colocar empecilhos para exportação ou, quem sabe, introduzir cotas para jogadores “brasileiros” na convocação da seleção brasileira. São políticas bem conhecidas, apenas aplicadas ao futebol. Uma vã tentativa de coibir a emigração dos atletas.
A formação de jogadores de futebol no país é impressionantemente profícua. Faça um exercício. Excluindo os 23 homens de Parreira, escale uma seleção e verá que a equipe será competitiva.
Em nome do espetáculo, da sustentação financeiras dos clubes e da paixão do torcedor, poderíamos incluir uma cláusula de barreira para os craques saírem do país, por exemplo, 24 anos. Ou, talvez, convocar a seleção brasileira com apenas três “estrangeiros”. Parece loucura?
Assim, quando o Parreira convocar o escrete Canarinho nós ouviremos sobrenomes brasileiros nos atletas convocados: o Fulano do Internacional, o Beltrano do Corinthians, o Cicrano do Flamengo...
Embora essa seleção não me empolgue, desejo uma boa Copa a todos. Afinal, nós merecemos uma alegria. Mesmo que essa alegria seja mais dinheiro no bolso dos milionários e uma feliz borracheira para os pobres.