Como diria nosso saudoso Monteiro Lobato: “Uma sociedade se faz de homens e livros”. Embora este pensador tenha tido um posicionamento abjeto ao criticar friamente Tarsila do Amaral e atacar impiedosamente a Semana da Arte Moderna de 1922, juntamente com seus brilhantes idealizadores, não podemos renegar sua sabedoria nesta frase. A única forma de descontruir exatamente aquilo que nos aprisiona – como a globalização que integra e exclui – é ter uma consciência lúcida, capaz de compreender o mundo em que vivemos. Talvez por isso, a História Cultural seja tão sedutora, se levarmos em conta idéias de cientistas tão brilhantes que escrevem sobre o tema, como o historiador francês Roger Chartier. Com vários livros publicados sobre a história da leitura nas sociedades através de campos diferentes de estudo, o pesquisador provavelmente deve ter conhecimento de Narizinho e a turma do Sítio do Pica-Pau Amarelo. O “2º Salão do Livro do Tocantins” – consideravelmente o evento de maior porte no gênero realizado nesta região – está com uma cara de “bienal tocantinense”. Com uma vasta programação, envolvendo outros elementos artísticos que se apropriam do tema ( livros ) para mostrar suas atividades ( teatro, música, artes plásticas, palestras e mostras de cinema ), o evento é um reflexo do que não só os profissionais da educação necessitam, mas que leitura, desde que devidamente estimulada entre os cidadãos de um país, é capaz de render seus frutos. Não se trata de mostra acadêmica qualquer, circundada por aquelas discussões fatigadas sobre obras literárias – gente que gosta de literatice. Tampouco desfile de moda com ares de encantamento e cultismo barato.
É um avanço institucional e empresarial ter a diversidade cultural – no aparato geral de produções locais – acessível ao compromisso artístico de mostrar à população cultura de modos bem distintos. Portanto, para quem achou que o evento fosse apenas uma grande feira para venda de títulos, enganou-se redondamente. Bem, discussão e leitura – cousa que virou moda com pessoas arrotando conhecimento – , não desmerecendo, claro, sua importância na discussão poética ( no caso do botequim e outros meios de socialização intelectual ) pode ser um processo de intervenção do pensar enquanto ser, quando temos a necessidade de estimular a criticidade individual. Talvez essa experiência seja estopim para coisas mais ousadas, no sentido de levar informação para comunidades em nosso estado.