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Contos-->9. CONTO DE NATAL -- 13/04/2002 - 07:04 (wladimir olivier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

Jovial, o rapazinho queria conhecer Papai Noel. Tinha idade suficiente para saber que era o pai quem lhe trazia os presentes, mas recusava-se a admiti-lo. A mamãe chamou-o, certa vez, e lhe disse:

— Aquele homem vestido de vermelho que você vê nas lojas é uma pessoa de carne e osso, como eu e você. Papai Noel não existe.

— Existe, sim — respondeu de pronto o menininho. — Eu sei que o homem fantasiado da loja não é o Papai Noel. Eu sei que é o papai quem compra os brinquedos. Mas quem dá o dinheiro a ele é o Papai Noel.

A explicação aturdiu a pobre mãezinha, que, à vista da argumentação, se calou.

A criança cresceu com a idéia de que havia Papai Noel. Dois anos mais tarde, taludinho, o rapaz, em certo Natal, deixou de receber o presente desejado. Ganhou outro de preço inferior, mas não se incomodou. Achou que algo havia por detrás dessa dádiva menor. De pronto, não foi capaz de imaginar o que poderia constituir-se em suficiente razão para o gesto, mas guardou na lembrança o acontecimento.

Mais tarde, homem feito, o nosso Juvenal viu-se na contingência de arrumar emprego em grande loja de departamentos, à época natalina, para ajudar o orçamento doméstico com mais algum dinheiro. Ao colocar a roupa da figura mitológica, lembrou-se dos fatos da infância, principalmente da crença nunca negada da existência do Papai Noel. Pôs-se a meditar, enquanto aguardava a abertura das atividades:

“Que valente rapazinho eu fui! Como gostaria de trazer ainda agora em mim, imaculada, aquela pureza de caráter e aquela fé na potencialidade da espiritualidade! Hoje, a minha mente se debate entre um emprego e outro, adejando as idéias em torno das figuras humanas, tentando captar esta ou aquela simpatia, procurando atender a este ou àquele pedido. Pareço verdadeiro Papai Noel no cumprimento das obrigações sociais e profissionais, mas não creio mais na bondade e desinteresse das pessoas. Sei que aquela figura bondosa do Papai Noel de minha infância deve ser o espírito protetor da família. Penso que a lição do brinquedo mais barato certamente serviria para fazer-me acreditar em que nem tudo nesta existência transcorre segundo os interesses mais imediatos. Vejo, no cerceamento de meu desejo infantil, a demonstração de que haveria de lutar e, no meu conformismo com a sorte, a resignação necessária para que possa vir a compreender em profundidade os desígnios do Pai. Graças a Deus!”

E pôs-se a orar a prece dominical, com o coração confrangido e agradecido.

Ao abrir-se a loja, várias crianças se acercaram do bom homem. Decorara as palavras básicas da propaganda que deveria proceder de vários produtos, após sondar os desejos dos petizes e suas possibilidades econômicas. A uns oferecia sorriso largo e alegre, a outros carinhoso afago e úteis recomendações. Aos chorosos, dava logo um doce para cativar-lhes a simpatia. A todos, a mais incondicional vibração de amor.

Certa criança, contudo, observava o velhinho a distância, sem atrever-se a aproximar-se. De início, Juvenal, atarefado em atender aos da extensa fila, não pôde perceber o que jazia escondido atrás da pilastra. Com o esvaziamento da loja, contudo, foi-lhe possível divisar a infeliz criatura. Desceu, então, de seu trono e, trazendo consigo o saco de guloseimas, encaminhou-se para o local em que se escondia o pequeno. Este, ao perceber o movimento do venerando senhor, escafedeu-se, saindo em desabalada carreira, tornando impossível segui-lo.

Juvenal pôs-se a matutar em como iria conseguir aproximar-se da criança, uma vez que supunha que voltaria. Pensa que pensa, bolou engenhoso plano. Deixaria de exercer o papel de Papai Noel por um dia, à custa mesmo do sacrifício do salário, pediria para a firma que lhe arranjara o emprego um substituto e, em roupas civis, vigiaria o pequeno até configurar com exatidão quem era e por que não se atrevia a aproximar-se.

Dito e feito, após observar a assiduidade do pequeno, quase às vésperas das festividades, deixou outro em seu lugar e ficou a avaliar as atitudes do fujão. Notou, desde logo, que os trajes eram pobres e sujos e estranhou deveras que os guardas da segurança não o tivessem afastado do local. Procurou saber deles a razão e foi informado que o petiz conhecia todas as entradas e saídas do prédio e que sempre conseguia maneira de entrar; uma vez lá dentro, impedidos estavam de retirá-lo à força, para evitar escândalo. Por outro lado, já se havia percebido que sua única ocupação era ficar contemplando a fila dos pretendentes à atenção da gorda figura, não causando às pessoas mais que certo mal-estar. Como o público da loja era profuso e heterogêneo, conseguia a maior parte do tempo passar despercebido.

Com essas anotações, aguardou o fechamento da loja, tarde da noite e, disfarçadamente, seguiu a criança pelas úmidas vielas da cidade até perceber que se resguardava debaixo de determinado viaduto, longe dos olhos perspicazes da guarda noturna. No local, nada havia além de um caixote e de alguns trapos velhos.

Juvenal julgou que estivesse ali a oportunidade de executar a aparição real do Papai Noel.

Na noite de Natal, após convencer-se de que a criança tinha voltado à guarita, vestiu-se de vermelho, colocou enorme quantidade de agasalhos e de guloseimas no grande saco da loja, acrescentou dois ou três brinquedos baratos e aproximou-se do viaduto. Ali encontrou o pequeno largado em pesado sono. Não querendo sair sem se fazer notar, pôs-se a rir, caracterizando a personagem, para acordar o assistido.

De repente, levou tremendo susto. Por detrás, deram-lhe safanão vigoroso que o arremessou de encontro ao caixote. Aí sim, o menino acordou com o trambolhão que levou. O pobre Juvenal, acreditando em sua quimera, realmente se transformara no benfeitor da infância, esquecendo-se da rude realidade da cidade grande. O bandido que o derrubara apontou-lhe arma de fogo e exigiu tudo de valor que carregava, inclusive a indumentária e o saco com os presentes. Quase desnudo, viu-se sozinho com o pequeno, assustado, tremendo e suando frio.

Com o estardalhaço da queda, vários mendigos despertaram e puseram-se de guarda. Como o meliante fora rápido, não houve o que fazer para alertar a polícia. Em todo caso, reuniu a pouca coragem que lhe sobrara, juntou ao muito de amor pela criança e, recomendando muita prudência a todos, retirou-se abatido, levando consigo a sua desilusão. O frustrado Papai Noel perdera a oportunidade de ouro. De qualquer modo, ao chegar em casa, encontrou a família reunida, aguardando a sua parte dos presentes. Em vão. O assaltante tinha levado tudo.

Na manhã seguinte, reanimado por sono reconfortante e pelas palavras de incentivo da esposa, pôs-se a meditar em como poderia reaver a confiança do filho na figura do Papai Noel, tão prometido e tão enaltecido. A criança era pequena demais para saber a verdade. Correu à casa do irmão e obteve empréstimo para comprar algo para o filhinho. Qual não foi sua surpresa, entretanto, ao topar com o menino da loja, que recuperara grande parte dos objetos roubados.

Quis saber dele como conseguira realizar a façanha.

— Foi fácil. Eu conhecia o gatuno e sabia onde se escondia. Fui até lá, quando não estava, e recuperei o saco com tudo dentro. Acho que ele não gostou do que encontrou.

Juvenal quis saber também como é que descobrira o caminho de sua casa.

— Faz tempo que eu venho querendo saber onde mora o homem que se veste de Papai Noel. Sempre achei que as pessoas enganam as crianças. Eu segui você várias vezes e fiquei sabendo quem era o homem da fantasia. Agora eu vou embora, mas nós ainda nos encontraremos. Adeus!

Juvenal nunca mais se esqueceu da aventura natalina e aguarda até hoje o reencontro prometido.

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