Se é que poderíamos utilizar determinada expressão ( uma “cultura” teatral na capital ) para designar a situação na qual perpassa as relações de produção e formação de atores e diretores nesta cidade. Embora grandes instituições públicas federais ( Ministério da Cultura, Funarte ) e empresas nacionais ligadas a cultura ( SESC,SESI ) ainda não perceberam que o Tocantins geograficamente pertence a Região Norte, de eixo com boas produções que circulam em outros pontos do país ( São Paulo, Rio de Janeiro, Curitiba e Brasília ) abastece uma quantidade considerável de profissionais resistentes aos espólios da economia cultural, mantendo um certo vínculo com as referências do Centro-Oeste em termos de circulação ( vide os projetos Pixinguinha – este, mantido com recursos da Petrobrás – Carava Funarte de Artes Cênicas, Palco Giratório e Sonora Brasil do SESC, entre outros ), ampliando intercâmbio de relevância artística no Estado. Apesar de sermos otimistas, este fato não muda a situação: ainda não desenvolvemos a proximidade com a pesquisa estética, teórica, capaz de orientar com maturidade a cena teatral tocantinense, ainda especificamente reduzida a Palmas. Muitos poderiam ( e podem! ) contradizer-me com a bela experiência de espaço, ainda por se construir, onde a concorrência e os meios de subsistência são mais acessíveis à convivência e formação de técnicos locais, capazes de resolver o grande problema do teatro brasileiro: a morte da criação contemporânea através da onda descartável, apoiada sobretudo, pelos modelos da mídia estereotipada e artificial.
O problema da micro-física relação da teatralidade palmense também está submetida aos espaços físicos ( indisponibilidade do Theatro Fernanda Montenegro ) e novas propostas de re-adequação destes locais para os espetáculos existentes. O que percebo é que, de fato há uma resistência de idéias, uma vez que já discuti com colegas de trabalho sobre o tema. Ou seja, é preferível não trilhar outros caminhos de experimentação, tendo uma base de pesquisa sobre os principais estudiosos do teatro em nível de mundo ( como Stanislavski, Grotowski, Artaud e Ziembinski ) num caráter mais formacional de pesquisa, que possa direcionar conceitos científicos à linguagem decodificada, sendo possível formar uma escola de teatro nesta cidade, inclusive em comunidades mais afastadas. Não trata-se de vislumbramento ou utopia, Paulo Freire priorizou a alfabetização nos moldes da realidade em que se vive. Não podemos, obviamente, pegar um punhado de professores bem dispostos com novas metodologias. É preciso, antes de mais nada, contextualizar a produção local, avaliando suas potencialidades e necessidades reais. Dessa forma, teremos resultados mais sólidos. Só então poderemos falar em surgimento de atores/platéia e profissionalização de ofício teatral em Palmas. Não desconsidero o que já foi feito – e ainda se faz – , mas estamos longe do irrisório. Ou, quase nada.
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