...Residía, naquela época, na Vila Maria, na zona leste de São Paulo. A avenida principal não era calçada, só viria a sê-lo, no governo do velho Ademar de Barros, o célebre e folclórico político de São Paulo, na época em que os comícios se faziam nas praças e a luta pelo voto era corpo a corpo. Havia cheiro e gosto de povo ou, como se diz agora, do povão.
O pobre Ademar até ficou com a fama de corrupto. Se chegasse até nossa época, ficaria deslumbrado com o que ocorre, atualmente. Ficaria rindo à toa.
O novel Jânio Quadros, o homem da vassoura, que pretendia limpar o lixo deixado pelo velho A. de Barros, como o chamavam jocosamente, começou sua carreira política na Vila Maria e terminou-a da forma que iniciara: como alcaide. Sempre fazendo comícios, falando para o povo, assim se tornava conhecido. É claro, havia o rádio.Tinha-me até esquecido.
Tempos heróicos aqueles. Nem se falava nos marqueteiros de agora, que fazem tudo pelo candidato a cargo político, à custa de muito, muito dinheiro Nada é de graça, por amor. Tudo encomendado. De onde vêm os recursos é uma incógnita, em termos. A espontaneidade não existe mais. Que saudade dos velhos tempos, do corre-corre dos políticos: autênticos mascates do voto. Sem "marketing", sem televisão, sem a molecagem atual (excerto do livro de memórias, em preparo).
|