Usina de Letras
Usina de Letras
77 usuários online

Autor Titulo Nos textos

 

Artigos ( 62206 )

Cartas ( 21334)

Contos (13260)

Cordel (10449)

Cronicas (22534)

Discursos (3238)

Ensaios - (10354)

Erótico (13567)

Frases (50603)

Humor (20029)

Infantil (5428)

Infanto Juvenil (4763)

Letras de Música (5465)

Peça de Teatro (1376)

Poesias (140793)

Redação (3302)

Roteiro de Filme ou Novela (1062)

Teses / Monologos (2435)

Textos Jurídicos (1960)

Textos Religiosos/Sermões (6185)

LEGENDAS

( * )- Texto com Registro de Direito Autoral )

( ! )- Texto com Comentários

 

Nota Legal

Fale Conosco

 



Aguarde carregando ...
Artigos-->Técnicos e assessores do banco -- 29/04/2006 - 19:56 (Paulo Maciel) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Técnicos e assessores do banco





Já disse alhures que Dr. Miguel Calmon não dispensava o apoio de um assessor pessoal, em geral um técnico generalista, versátil, capaz de estudar questões que interessavam a vários campos de conhecimento, desde os assuntos econômico-financeiros aos de pessoal, de organização e métodos e de administração de materiais.

E embora fosse adepto do sistema de carreira fechada, que o banco adotava, em que todos os funcionários destinados às atividades fins eram admitidos nos cargos iniciais, através de seleção sistemática, ele também recrutava técnicos e especialistas para as áreas em que a formação desse pessoal dentro da empresa levava muito tempo.

É assim que, ao longo dos mais de vinte e cinco anos em que presidiu o Banco Econômico, sempre utilizou os serviços de um assistente pessoal, a quem cabia municiá-lo de boas idéias e desenvolver os projetos e planos que ele próprio concebia.

Quero hoje tratar de algumas dessas pessoas que não foram incluídas no livro “Gente do Econômico” que acabo de publicar.

Quando entrei no banco, em 1953, Dr. Miguel possuía um assessor de nome Arlindo Augusto Alves, acredito que carioca. Ele estava aqui na Bahia coordenando um projeto que o Escritório Técnico João Carlos Vital, do Rio de Janeiro, realizara no banco, que abrangia a organização dos serviços bancários, a criação de novas rotinas, fluxos de trabalho e formulários.

Com a conclusão do contrato, Dr. Miguel convidou Arlindo Alves a permanecer no banco e assim ele se tornou seu assistente pessoal. Antes dele, pelo que ouvi dizer, o assessor era um alemão de nome Mr. Mayer, mas eu não o alcancei.

Por sua vez, Dr. Arlindo trouxe do Rio de Janeiro um técnico de nome Laerte Silva, para implantar e organizar o Serviço Mecanizado do banco, que usava o sistema “hollerit” da IBM, à base de cartões perfurados.

Conheci bem Dr. Arlindo porque ele foi um dos primeiros a me notar e a me ajudar. Era um homem afável, inteligente, que além de desenvolver estudos para Dr. Miguel ainda se envolvia com problemas de natureza contábil e administrativa. Por isso terminou se incompatibilizando com alguns chefes de serviço, sobretudo Vivaldo Bonfim dos Reis, que “bolava” a contabilidade do banco.

Foi ele quem me emprestou exemplares de publicações da Fundação Getúlio Vargas, a exemplo da Revista de Administração de Empresas, editada pela Escola de Administração de Empresas de São Paulo e os Cadernos de Psicotécnica, da Escola de Administração Pública do Rio de Janeiro.

Foi dele que recebi um dos melhores conselhos de minha vida. Certa feita, após assistir a uma discussão que mantive com Dr. Miguel, eu um bancário de vinte anos de idade que trabalhava no Pessoal, ele me chamou ao gabinete e me disse:

- Quando você discutir com uma pessoa poderosa sempre deixe uma saída para ela, nunca o emparede como você fez com Miguel. Ele ficou exasperado e não sei porque não lhe mandou embora depois que você o deixou sem argumentos.

Aprendi essa lição para o resto da vida e vi como a atitude de levar em conta a posição do adversário é importante na política e nos meios diplomáticos. A crise de Cuba que colocou em campos antagônicos a Rússia e os Estados Unidos é um exemplo do uso do conselho de Dr. Arlindo Augusto Alves.

Não sei se todos sabem que Dr. Miguel Calmon administrava o Banco Econômico baseado em dados estatísticos. Dados do mercado e de referências técnicas mas, sobretudo, informações levantadas da realidade do próprio banco.

Por causa disso, ele que sempre foi muito parcimonioso com as despesas, que controlava de perto os quadros de pessoal das agências e dos serviços administrativos, tinha mão larga com o seu “Serviço de Estudos Econômicos e Financeiros”, conhecido internamente como Departamento de Estatística.

Nos anos cinqüenta um sobrinho seu, Frank Sá, que estudava Direito, dirigiu esse Serviço mas, tão logo se formou, foi se especializar em Câmbio, nos Estados Unidos.

Dr. Miguel, então, procurou um técnico e o encontrou na figura de Hilberto Mascarenhas Alves da Silva, economista, colega de Rubens Costa e Victor Gradin. Imediatamente trouxe-o para o banco e permitiu que ele constituísse uma boa equipe, todos funcionários de carreira, mas com vocação para números. O Departamento de Estatística chegou a ter uma dez pessoas mas eu me lembro particularmente de Luiz Vaqueiro Maturino, que veio a diplomar-se em economia e, muito mais tarde, assumiu a chefia, no lugar de Hilberto, de Milton Garrido Ventim, estudante de engenharia, de Hamilton, grande jogador de voleibol, que nessa condição se transferiu para o Rio de Janeiro, de Carlos Gonçalves Pereira e Hélio Aguiar, desenhista técnico e artístico também.

Hilberto foi um dos grandes amigos que tive, partilhei com ele uma fazenda em Ipirá, terra de sua mulher, passei dias de férias em sua ilha de Santo Antônio, defronte de Bom Jesus e sempre nos demos muito bem.

Sério, estudioso, determinado, homem que gostava de tomar decisões, esses traços de personalidade levaram-no a importantes cargos no setor público. Foi chefe de Gabinete do Superintendente, na SUDENE, diretor e presidente do Banco do Nordeste, morando em Fortaleza, presidente do Banco do Estado da Bahia, diretor do Banco de Desenvolvimento do Estado de São Paulo e, afinal, ministro de Irrigação.

Quando Arlindo Augusto Alves deixou o banco, Dr. Miguel Calmon logo tratou se escolher um substituto. Sua escolha recaiu em Victor Gradin, economista, que lhe fora recomendado pelo então delegado da Receita Federal na Bahia, Militino Martines Rodrigues.

Convidado para a função, Victor não pôde aceitar: estava seguindo para os Estados Unidos a fim de realizar curso de mestrado.

No seu retorno, contudo, o cargo ainda estava vago e o convite foi renovado. Dessa forma, em meados dos anos cinqüenta Victor Gradin foi trabalhar no Banco Econômico, como assessor do presidente, Dr. Miguel Calmon.

Eu o conheci poucos dias depois de sua admissão e apesar de seu jeito reservado, de pouca fala, bem diferente de mim, tornei-me logo seu amigo. Amigo para a vida toda.

Um fato curioso marca o início de nossa amizade. Logo nos primeiros meses de trabalho, ele contraiu uma enfermidade e teve que ficar em casa alguns dias. Pediu-me que lhe levasse uns papéis, o que fiz depois do expediente. Conduzido ao seu quarto, tive que esperar alguns minutos porque ele ouvia um concerto para violino de Vivaldi em seu pequeno toca-discos. Aquilo me impressionou, pois era muito raro ver os rapazes de meu tempo apreciando músicas clássicas!

Do meu ponto de vista, Victor Gradin teve significativa importância na vida do banco. Ele conseguiu influenciar Dr. Miguel em muitas questões, principalmente quanto à formação de quadros para o futuro da empresa, aspecto em que o presidente tinha grande sensibilidade.

Foi graças a ele, por exemplo, que eu e tantos outros colegas, depois de mim, fomos mandados para fora da Bahia para freqüentar a Escola de Administração de Empresas de São Paulo e a Escola Brasileira de Administração Pública, no Rio de Janeiro, entidades mantidas pela Fundação Getúlio Vargas, até hoje reconhecidas como de excelência acadêmica.

Discreto, impessoal, eficiente ele se tornou precioso auxiliar de Dr. Miguel, que terminou por nomeá-lo chefe de gabinete e vice-ministro da Fazenda, no período parlamentarista, quando Dr. Miguel Calmon esteve à frente do Ministério.

Victor poderia ter permanecido no banco e alcançado seus mais altos cargos, mas preferiu dar outro rumo à sua vida: além da carreira no magistério, como professor da Escola de Economia da Universidade Federal da Bahia, foi secretário de Estado, no governo Lomanto Junior.

Mais tarde, ingressou no Grupo Odebrecht, onde chegou a vice-presidente executivo. Atualmente, exerce a mesma função no Conselho Diretor da organização.

O que constava no banco é que Dr. Renan Baleeiro fora contratado como advogado por indicação do sogro, sr. Oscar Marinho Falcão, de Itabuna, grande cliente e o maior cacauicultor do estado.

A forma como Renan veio para a empresa não importa muito. O que conta é que ele, em pouco tempo, graças à inteligência fulgurante e à conduta exemplar foi conquistando o respeito dos diretores e colegas.

Em algum momento ele deixou de ser advogado e foi ocupar o cargo executivo mais importante do banco, naquela época, que era o de gerente-geral de Sucursal, a autoridade responsável pelo gerenciamento da rede de agências nos estados de Bahia e Sergipe, pela administração do crédito e pelos correspondentes serviços de apoio.

Dr. Renan teve um desempenho excepcional nessa função, obteve resultados muito acima dos esperados e conseguiu motivar todos os gerentes sob sua direção.

Missões de mais elevada responsabilidade, como a sub-chefia da Casa Civil da presidência da República, o cargo de prefeito de nossa cidade e um assento na Assembléia Legislativa da Bahia, de onde foi presidente, fizeram-no deixar o banco onde, certamente, também teria alcançado os mais altos postos de direção.

Membro e presidente do Tribunal de Contas do Estado, atualmente aposentado, presentemente Dr. Renan Baleeiro é professor de Direito da Universidade Católica do Salvador e vice-provedor da Santa Casa de Misericórdia da Bahia.

Outra figura interessantíssima que esteve no banco durante muitos anos e com quem tive o prazer de trabalhar foi dona Maria do Carmo Pondé, que Victor Gradin trouxe do Rio de Janeiro para implantar o Serviço de Documentação do banco (biblioteca, mapoteca, fototeca, etc.).

A informação que possuo é que Dona Maria do Carmo Pondé trabalhara no Itamaratí como documentarista.

Mulher de extraordinária sensibilidade, poetisa, ela realizou um serviço prodigioso na organização da biblioteca e dos arquivos do banco, empregando o sistema decimal de Dewey.

Amiga muito querida, quando fui morar no Recife mantive com ela correspondência ativa. A delicadeza de suas cartas me deixava comovido.

Já mencionei lá atrás que Dr. Miguel Calmon não trabalhava sem um assistente pessoal. Assim, com a saída de Victor Gradin, ele nomeou para o cargo Luiz Augusto Sacchi, engenheiro-econômico, que fora colega de turma de Mário Henrique Simonsen.

Como Arlindo Augusto Alves, Sacchi viera à Bahia na condição de membro da equipe técnica do mesmo Escritório de João Carlos Vital para fazer um projeto organizacional para o banco, praticamente vinte anos depois do primeiro.

Concluído e implantado o trabalho, Dr. Miguel contratou-o como seu assessor e ainda o levou para substituí-lo na cátedra de Organização do Trabalho, na Escola de Engenharia da Universidade Federal da Bahia, quando teve que se licenciar para exercer as funções de reitor.

Luiz Sacchi foi, também, um profissional importante na história do banco e, como ficou mais tempo, veio a ocupar várias diretorias, inclusive em São Paulo.

Brilhante, racional, expositor de imensos recursos, dono de verve sedutora Sacchi granjeou prestígio no mercado paulista e, depois de experiência desastrosa no Banco União Comercial, de Paulo Geyer, ao lado de Roberto Campos e Mário Trindade, foi ser diretor da ENGESA, fabricante de armamentos, tanques militares e caminhões pesados.

Amigo muito querido é pessoa de rara afabilidade. Hoje cuida de fazendas que possui no estado do Rio de Janeiro.

Quero encerrar este já longo artigo falando de outros três amigos especiais.

O primeiro deles é Vanderley Viana que, como Luiz Sacchi, integrava o grupo do Escritório Técnico João Carlos Vital que veio à Bahia nos anos sessenta.

Vanderley era especialista em Organização e Métodos, um técnico do melhor nível profissional que havia servido ao DASP, no Rio de Janeiro.

Contratado pelo banco, sua responsabilidade consistiu em montar uma equipe de jovens bancários, a maior parte com formação superior, para compor os grupos regionais (Bahia, São Paulo, Recife e Rio) de O&M que seriam criados nas Sucursais.

Ele selecionou doze funcionários, levou-os para o Rio de Janeiro e durante um ano inteiro submeteu-os a intenso treinamento.

Foi com esse time que o banco manteve atualizado e buscou simplificar ao máximo suas rotinas de serviço, os formulários e procedimentos em geral.

Eliseu Pereira também veio do Rio de Janeiro. Ele sucedeu a Giuseppe Paglianni, um técnico em cadastro, oriundo do Banco do Distrito Federal, que fora liquidado, que o banco contratara na Bahia, mas que durou pouco.

Com formação acadêmica européia e especialização em bancos em universidade francesa, Eliseu morou muitos anos por aqui e modernizou o sistema de avaliação de crédito do banco, chegando a diretor dessa área.

O último da lista foi José Rodrigues de Sena, um notável técnico que se destacou nas áreas de organização e de ensino.

Sena viera morar na Bahia com a finalidade de implantar a reforma administrativa do estado, apoiado em João Eurico Matta e outros especialistas e montar o curso de administração pública na Escola de Administração que a Universidade Federal da Bahia.

Dr. Miguel Calmon naturalmente cooptou-o para também trabalhar no Banco Econômico, a fim de dinamizar o Departamento de Desenvolvimento de Pessoal que ele instituira, com a colaboração de Carlos Silva Dantas.

Quem conheceu o professor José Rodrigues de Sena sabe de sua competência, pragmatismo e objetividade. Ele realizou com a habitual eficiência todos os três projetos a que se dedicara.

De forma muito resumida passei em revista praticamente sessenta anos de iniciativas do Banco Econômico no campo da administração científica contemporânea, através do emprego de técnicos e especialistas.

A contribuição dessas pessoas para o desenvolvimento do banco e formação de uma imagem moderna foi inestimável, embora nunca devidamente reconhecida.

Salvador, 26/04/06









Comentarios
O que você achou deste texto?     Nome:     Mail:    
Comente: 
Renove sua assinatura para ver os contadores de acesso - Clique Aqui