É possível que ao lermos um texto possamos interpretá-lo diferentemente de outras pessoas. Por isso toda atenção é pouca para não julgarmos ninguém imerecidamente. Certa vez o poeta Vinícius de Morais referiu-se às mulheres assim: "As feias que me perdoem mas beleza é fundamental".
Passados muitos anos essa frase ainda causa polêmica entre seus admiradores. Uns entendem que ele se referiu à beleza interior das pessoas. Outros a levam ao pé da letra. Entendo que o poetinha traduziu um pensamento seu. Mas, se buscou com isso estabelecer um padrão de beleza, foi infeliz pela visão excludente.
A frase a meu ver é imprecisa e não representaria um bom exemplo a ser difundido, muito menos seguido. Não é a toa que a mídia apegou-se a esse conceito deturpado de se apregoar o belo, fazendo desse filão um meio de ganhar dinheiro e audiência, nos impondo a"ditadura da beleza" como padrão a ser copiado em sua inteireza.
Se formos nos basear pelo já padronizado modelo de beleza instituído pelos meios de comunicação, haveremos de nos perguntar: "como seria a vida das pessoas "feias", aquelas que não têm os atributos físicos que se enquadram nos estereótipos de modelos e atrizes que povoam as revistas e as telinhas de tevê deste País? O que fazer com essas pessoas comuns, as suburbanas, as anônimas da periferia, quando desprovidas de uma plástica admirável?
Qual a parte que cabe àquelas milhares de pessoas que se alimentam mal, que sofrem os dissabores de uma vida sem nenhuma perspectiva, mas que têm como lema a fé na vida e a esperança no amanhã?" Ao invés desse desenfreado culto ao corpo, os meios de comunicação deveriam estimular as pessoas a se verem como seres humanos comuns que são, mas capazes de viver uma vida digna e honrada. Deveriam fazer apologia à honestidade, ao trabalho e aos valores realmente nobres.
Deveriam diminuir as diferenças e aumentar o sentimento em cada um de que a vida foi feita para ser vivida e aproveitada por todos nós, não havendo espaço para discriminações nem preconceito. É tempo de escutar os silêncios daqueles que clamam pela boca fechada; o silêncio de homens e mulheres que não têm corpos esculturais, mas que trabalham pesado contribuindo para o crescimento e grandeza deste País. Pessoas, acima de tudo, dignas também! É tempo de escutar o silêncio dos excluídos...
Luiz Maia
Autor dos livros "Veredas de uma Vida", "Sem Limites para Amar" e Cânticos"